Bruce IV

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Após checar o estado de Ada e se certificar de que estava bem Bruce foi para sua reunião com prefeito. Evitou passar pelas ruas que sediavam o festival que iria durar mais alguns dias, podia ouvir de longe toda a barulheira que tomava conta do centro da cidade, nunca foi do tipo que gostava de aglomerações e não desejava chamar atenção para não se atrasar, afinal, prefeito Dario era muito metódico sempre fazendo muito bem seu trabalho, a falta de pontualidade ira aborrecê-lo.

O prefeito de Trindade era escolhido em assembleia composta pelos habitantes da vila, e ficava no cargo enquanto a população estivesse contente com o trabalho, algo bem informal, apenas alguém para cuidar da gestão da vila e zelar pelos interesses da população. Dario era muito empenhado em fazer bem suas funções e se mantinha no cargo há quase uma década, fazia questão de se gabar quanto a isso. Ele não era nativo de Trindade, na verdade era um mercenário aposentado, perdeu uma das pernas em uma missão e deixou a vida de aventuras por algo mais sossegado. A prefeitura era um casarão que uma vez foi à sede da fazenda onde se formou a vila. Lá dentro podia se encontrar o prefeito e seus dois assistentes. A sala de estar da antiga casa servia como sala de reuniões e escritório do prefeito, as portas estavam sempre abertas e não era preciso marcar horário para vê-lo. Tanta coisa aconteceu nos últimos tempos, ele e Ada foram se tornando parte daquela comunidade, ele aprendeu sobre as pessoas e a historia da vila, como tudo funcionava e a historia daquele lugar, as pessoas o conheciam ali, o respeitavam e zelavam por seu bem estar. O tempo foi passando e quando se deu contar levantar da cama e enfrentar o dia já não era mais tão difícil.

Quando adentrou o cômodo Dario estava de pé apoiado em sua escrivaninha um homem alto e atlético com a pele morena, cabelos escuros longos e costeletas de carneiro muito bem feitas e aparadas, sempre vestido de maneira simples porem elegante usando coletes e camisas com as mangas arreganhadas, e nos pés sempre o mesmo calçado um par de botas de vaqueiro pretas com bordado marrom claro. Dario ia com frequência ao bar da estalagem, tinham boas conversas, aprendeu bastante sobre o prefeito, sobre como sua herança heroica fazia com que mesmo tendo cinquenta e tantos anos aparentava estar na casa dos trinta, e que quase tudo que o prefeito arrecadou como mercenário gastou em sua prótese autômato para substituir a perda da perna, Dario vivia exibindo como ela era bem feita e delicada com peças de materiais sobres como se tivesse sido feito para algo luxuoso, algo que apenas pessoas de alta classe costumam ter.

Quando entrou na sala o que realmente chamou sua atenção não foi o prefeito, mas sim sua convidada a qual Bruce não esperava. Ela estava sentada em uma cadeira a frente do anfitrião. Uma moça jovem que mesmo sentada parecia ser muito alta e atlética do que o comum, Bruce era um homem alto e mesmo assim sentia que deveria ser pequeno diante da moça. A aparência dela era exótica, nada de donzela delicada, mas de uma amazona, sua pele era de tom trigueiro com algumas cicatrizes pequenas pelos braços e rosto, longos cabelos loiros escuros, lisos e volumosos que estavam presos em um rabo de cavalo. Vestia-se com roupas táticas camiseta cinza regata, calça azul de tom extremamente escuto quase preto, e coturnos. Tinha postura intimidadora, sentada com as pernas cruzadas e olhar severo.

Quando entrou na sala a conversa cessou e tudo que restou foi cumprimentar os presentes.

-Boa tarde Pref. Dias, senhorita. Espero não estar atrapalhando. –Estava curioso para saber se a moça tinha relação sobre a reunião com Dario, mas precisava fazer toda a dança antes de chegar no ponto. –O festival parece estar animado, o Sr, deve estar muito feliz não é?

-Seja bem vindo meu amigo. Sim muitos visitantes de outros lugares, o festival faz bem a cidade. Chega de conversa fiada, eu sei que você não está interessado nisso, quer saber o motivo de ter sido chamado, nós aguardávamos por você. –Dario abriu um sorriso e a moça finalmente se virou para olhar Bruce, tinhas olhos verdes que usou para analisá-lo da cabeça aos pés e pareceu insatisfeita com o que viu. –Essa jovem dama é Bianca, ela veio da capital trazendo uma carta com boas novas.

-Ele é o que vocês chamam de seu herói local? –Bianca disse de forma sarcástica.. –Não é atoa que solicitaram que eu viesse.

Definitivamente queria intimida-lo, talvez tivesse funcionado num passado recente, mas Bruce já não estava mais abalado, tinha lidado com muita gente querendo menospreza-lo em sua vida para levar aquilo como ofensa ou ameaça, achou até mesmo cômico o quanto ela estava se esforçando, pessoas da capital atacando a ele e Ada e os subestimando estava virando um padrão.

-Do que se trata a carta? De que tipo de boas novas está falando?

-Bem, algum tempo atrás a capital mandou um cientista da Armada tirar amostras de solo e agua da região, pelo jeito a agua está ficando insalubre devido a exploração das minas. Ainda não chegou a um grau perigoso, mas com tempo pode vir a ser um problema.

-Isso é preocupante Dario, eles estimaram um tempo para que houvesse complicações reais? Você pretende contar a população sobre isso?

-Disseram que levaria dois ou três anos para efeitos reais surgir na vida local, envenenamentos, mutações, doenças. Felizmente em alguns meses a capital vai nos mandar equipamentos para purificação da agua tanto da que sai das minas quanto da que vai para as casas da população. Então, não há com que se preocupar ainda.

-Isso é ótimo Dario. Temia que outras medidas mais drásticas fossem necessárias, mas ainda não vejo o que eu e os outros podemos fazer para ajudar.

-Os equipamentos vão precisar ser escoltados da capital até a vila, e ladrões de tecnologia tem roubado equipamentos da Armada, ou seja, podemos ser alvos de suas vis atividades. A armada fará a proteção e eu solicitei que você e Ada auxiliassem na proteção, não citei a outra garota, mas acredito que todo eu seu projeto de guilda possa se envolver.

-Me parece unir o útil ao agradável, ajudar a comunidade e ser recompensado por isso. Mas a senhorita Bianca veio apenas para entregar a mensagem?

-Não. Vim para me certificar que vocês não prejudiquem essa missão. Meu trabalho aqui é garantir a segurança da entrega e avaliar a competência de você e sua equipe.

Bruce vinha pensado na possibilidade nos últimos tempos, com Carla eles seriam quatro e só precisavam de cinco pessoas para se tornar formalmente uma guilda de mercenários. Com uma guilda poderiam pegar trabalhos por toda região e resolver problemas da comunidade, poderiam construir uma reputação. Estava na hora de retomar as rédeas de sua vida. Não queria voltar aos cruzados, sentia que algo não estava certo com a Ordem e que com uma guilda poderia fazer mais. Claro que ainda restavam duvida como se Ingrid e Carla também gostariam de trilhar esse caminho e quem poderia ser o quinto membro. Mas essa missão veio em boa hora para resolver essas duvidas.

-Eu aceito o trabalho Dario, tenho certeza que Ada também ficara feliz em fazer mais pela cidade. Trindade fez muito por nós temos que retribuir.

-Fico feliz em ouvir isso, gostaria de ter sido mais como vocês em meu tempo de mercenário, ainda teria gastado a maior parte do dinheiro na perna, mas ainda teria a gratidão de quem ajudei. –Dario sorriu de forma provocativa, ele gostava de testar os limites de Bruce e Ada. –Vamos ver até onde você e aquele pivete podem chegar. Fiquei sabendo que ele foi atacado por uma caçadora de recompensas. Nós depositamos nossa confiança em vocês, não quero estar errado nisso.

-Não se preocupe com Ada, essa carta de recompensa não é o que parece. Ele mais do que ninguém faria de tudo para ajudar quem precisa. Ele arriscou a própria cabeça para ajudar vocês se expondo. A caçadora de recompensas é consequência de ele ter os ajudado.

-Deixo o resto com vocês.

-Otimo! Você e seu grupinho terão que enfrentar um teste de minha escolha para mostrar se podem participar dessa missão. –Bianca se levantou e estendeu a mão para se despedir. –Prepare seu projeto de guilda, eu não pretendo pegar leve. 

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