Adael II

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Precisava avisar Bruce, o que ouviu nas minas era preocupante, se suas suspeitas estivessem corretas a cidade corria perigo. Abandonou seu turno no trabalho e correu para vila, não podia perder tempo, a situação era gravíssima. Quando chegou á estalagem e encontrou Bruce no mesmo lugar o qual não parecia ter deixado nos últimos dias, sentado a mesa e de companhia suas garrafas vazias.

Ele parecia estar melhor desde que se conheceram, mas ainda era um caco. Criaram uma espécie de amizade, sempre se sentava a mesa dele, como nunca a deixava e ninguém tentava fazer companhia, era um lugar garantido onde podia comer. Ada compartilhava historias, tentando alegrar o dia de seu amigo melancólico, e elas sempre surtiam efeito, essa passou a ser a rotina que compartilhavam.

Aprendeu a ler melhor as expressões de Bruce, entender o que se passava em sua cabeça, estava sempre calado, sua linguagem corporal e expressões muito contidas, quase não entregavam suas reações e pensamentos, a maior parte das pessoas teria a impressão de que ele as menospreza, mas Ada entendia que ele era mais reservado. Mesmo que as olheiras tivessem diminuído e não parecesse mais tão melancólico mantinha aquela expressão severa, indiferente e exausta, se assemelhando a um vira-lata mal encarado. Ele apelidou Bruce de Chaminé, assim evitava falar seu nome e entregar sua identidade, além de arrancar uma reação que não à indiferença padrão, ele ficava claramente irritado, Ada não suportava o cheiro daqueles malditos cigarros vagabundos, para compensar se divertia atazanando. Diga-se de passagem, o apelido pegou o que parecia irritar Bruce mais ainda.

Aproximou-se da mesa e puxou uma das cadeiras. Tinha noção de que Bruce havia feito alguns serviços para a vila, assustar salteadores que atacavam nas estradas, matar alguns predadores selvagens que estavam matando o gado dos fazendeiros, coletar ingredientes nos bosques e montanhas da região. Contudo agora Ada sabia que poderia precisar de seu auxilio, questionava se ajudar prejudicaria seus disfarces, mas aquilo era maior que ele e Chaminé, vidas estavam em risco. Resolveu falar de uma vez

- Eu ouvi boatos, nas minas comentavam que fazendeiros e caçadores foram atacados por uma criatura. - Ada suspirou e buscou a melhor forma de explicar. -Pelas descrições algum animal muito grande e feroz, de olhos negros, que está extremamente agressivo. Também me disseram que fazendeiros encontraram cercas de arame farpado arrebentadas e que havia um liquido preto espesso nelas... Bruce; você não acha que pode se tratar de algo contaminado com sangue Negro?

- Se não são meras desilusões de camponeses bêbados, é bem provável que estamos tratando de uma besta contaminada pelo sangue. -Apoiou a mão sobre o queixo e ficou em silencio por um instante. -Ada, o que pretende fazer com essa informação? Eu sempre soube que você não é o tipo ordinário, vai tentar matar a besta?

-As coisas que nascem do sangue já me tiraram algo precioso uma vez, eu conheço essa dor, não permitirei que o povo de Trindade passe pelo que passei! -Seu rosto se encheu de determinação, falava como um herói. Não titubeou ao falar foi claro como seu objetivo. -Eu vou atrás do monstro, você também vem?

-Não posso te deixar morrer pivete! Quem vai me contar historias idiotas enquanto eu me mato aos poucos? -Um sorriso debochado surgiu em seu rosto estava claramente tirando sarro de Ada. -Pegue suas coisas devemos partir para o bosque encontrar nosso inimigo, no caminho você me conta o que sabe fazer.

Partiram da vila seguindo em direção a oeste para o bosque onde a criatura foi avistada. As árvores eram altas e numerosas o suficiente para fazer um arco por cima da trilha principal, dentro da floresta a penumbra era constante sendo esburacada pela luz que passava dentre os vãos nas copas das árvores. Após seguirem por um tempo na trilha principal começaram a percorrer caminhos secundários, assim podiam percorrer mais terreno do bosque e tentar encontrar a criatura. Nenhum dos dois era habilidoso em se guiar na mata e em rastrear animais, estavam completamente a mercê da sorte para encontrar a besta. Bruce começou a interrogar Ada.

-Então... Além de trabalhar pesado nas minas e tagarelar o tempo todo, o que exatamente você sabe fazer Ada? -Perguntou com tom cínico enquanto procurava a sua volta por sinais do animal

-Bem, meu pai me ensinou a lutar, eu sei varias técnicas de combate corpo-a-corpo aramado e desarmado. -Virou-se para Bruce e levantou a guarda com os punhos altos os balançando pra frente e para trás de forma ridícula fazendo piada das próprias técnicas.

-Então seu pai foi um bom mestre? Você nunca falou sobre ele ou sobre saber lutar. -prestou atenção em Ada por um momento, mesmo que seu rosto continuasse indiferente era um sinal de que estava curioso quanto o assunto.

Os Caminhos do bosque ficavam mais tortuosos e íngremes, se apoiavam nas árvores para se locomover no terreno acidentado. Ao ser questionado sobre seu pai e seu passado o clima claramente mudou. Ada não era um grande fã do pai como pessoa, mas o respeitava muito. Não se sentia confortável em trazer ele na conversa.

-Nem tenta ir ai, não vou falar sobre meu pai. -Estava claro em seu rosto que não queria falar sobre o pai, se sentia frustrado e logo mudou de assunto. -Eu também tenho uma herança assim como você. Contudo ela não tem nome, eu sei usa-la, mas não a entendo muito bem. Sou capaz de fazer a terra se movimentar e moldar conforme a minha vontade, também sinto os diferentes materiais que a constituem.

-Então você tem uma herança Elementar assim como a minha isso é bem útil. -Sua expressão havia mudado, parecia perdida como se sua mente estivesse em outro lugar, deveria estar bolando alguma coisa.

-Eh... Na verdade não; meu pai dizia que é uma herança ligada a Determinação. Como eu disse não sei como funciona só sei usar. - A ingenuidade estava nítida em sua voz e expressão.

A conversa foi interrompida quando Ada percebeu por uma movimentação súbita. Abaixou-se e Puxou Bruce que não havia percebido nada, se esconderam entre as raízes das árvores e arbustos. Aptidão física e percepção claramente não são os fortes do Chaminé.

-Bruce, fique quieto! O inimigo está próximo. -Disse sussurrando para que não atraísse atenção.

Ele compreendeu e se calou. Com a visão que conseguiam ter escondidos dentro dos arbustos notaram a forma passando em sua frente a poucos metros de distância. Um enorme porco do mato; quase duas vezes do tamanho de um touro; seus pelos eram vermelhos de tom desbotado; presas enormes em pares saindo do maxilar inferior; chifres que brotavam de sua testa e acima do focinho; quatro olhos que agora estavam tomados de negro como se fossem consumidos por escuridão; na parte posterior do corpo havia arranhões um pouco profundos que devem ter sido feitos pelas cercas que a besta arrebentou; dos machucados escorria um liquido preto, espeço e sinistro; em suas presas, chifres e pelos havia manchas de sangue das vitimas que o monstro fez em seu caminho. Já não restava duvidas; estavam lidando com uma criatura do sangue.


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