Bruce III

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Logo após ouvir o sermão de Ada, Bruce perdeu a consciência. Quando acordou onde recobrava a consciência na maior parte das manhãs de ressaca, Ada o trouxe ali algumas vezes quando apagou de tanto beber, o consultório do medico local. Parado no canto da sala fornecendo atendimento para sua agressora ainda inconsciente estava Dr. Martinez, um senhor por volta dos seus cinquenta e tantos anos, cabelo liso bem penteado que vai até a altura da nuca, castanho escuro com um pouco de grisalho perdido no meio, barba cheia também castanha escura e um rosto arredondado. Bruce deitou na maca esperando Martinez perceber que estava acordado.

O homem foi até um gabinete de madeira que tinha em seu consultório, pegou uma garrafa e dois copos de dentro, caminhou em sua direção calmamente enchendo um copo para cada. Encarou Bruce com olhar decepcionado, o medico ficava implicando com o habito de beber de Bruce, dizia que o lembrava de um de seus filhos. Dr. Martinez tem dois filhos gêmeos dos quais vivia falando, ambos estavam estudando medicina na universidade de Melodia, contudo o mais velho é um boêmio descontrolado e isso enchia o pai de dores de cabeça. Quando chegou perto começou a falar, era um pouco difícil entender tudo que dizia, o homem cresceu nas ilhas livres a oeste do continente, tem voz grave que misturada a um sotaque que enrola algumas letras e fala de maneira cantada dando sequencia rápida as silabas.

-Vejo que finalmente está acordado. Entregaram-me você bem ferido, difícil de acreditar que uma moça tão pequena fez um estrago tão grande. Ada pediu desculpas pelo seu nariz. Não se preocupe, eu já coloquei no lugar novamente. –Colocou a garrafa e o copo para Bruce no criado mudo ao lado da maca. –Beba um pouco vai facilitar com as dores, você sofreu impactos severos pelo corpo.

Bruce se sentou na cama e estendeu o braço para pegar o copo. Sentiu dores pelo corpo inteiro que fariam pessoas comuns desmaiarem, contudo já havia sofrido piores não é uma pessoa comum. Quando pegou o copo o soltou de volta no criado mudo.

-Eu estou bem. Não preciso disso, as dores vão passar eventualmente. –Se lembrou do que Ada disse, passou tanto tempo buscando o caminho mais fácil, isso não era resposta para os problemas. A bebida estava o cegando sentiu que precisa retomar as rédeas de sua vida. –Vão haver outros momentos para beber, eu preciso ficar são.

-Recusando bebida? Acho que bateu sua cabeça forte demais, preciso te reexaminar. – O medico se assustou com a resposta, mas depois soltou uma gargalhada e ficou sorridente com a decisão do paciente. –Se você acha que vai ser melhor assim. Eu acho que está certo.

Sem o medico na frente pode reparar melhor na irmã Thomas inconsciente no sofá. As vezes que a viu na ordem foram de relance, agora frente a frente podia notar do que se tratava. A menina bastarda que sempre foi destratada por sua família, sempre ouviu Thomas comentar como sua família não entendia como ela era muito mais do que seus irmão a chamavam. Contudo não era uma situação fácil, os Corin são uma família nobre extremamente tradicional. Ingrid desenvolveu duas heranças, a original dos Corin não reagiu bem a seu corpo a deixando com traços alterados. Olhos amarelos em vez dos típicos prateados, o nariz arrebitado e húmido de tom diferente do resto da pele, as pequenas garras e os destes peculiares que Bruce não podia ver, Thomas contou que sua irmã possuía dentes pontiagudos como se todos se assemelhassem a caninos. Ela não parecia ferida, mas dormiu profundamente como alguém que estivesse realmente precisando de um descanso. Da forma que a encarava não houve como Martinez não reparar.

-Ela está bem garoto. Descanse é o melhor que pode fazer por si. –O doutor chamou sua atenção, era a primeira vez que aparecia com um motivo de verdade para estar lá. Normal ele se preocupar. –Onde está a aliança que carregava no pescoço? Não há perdeu durante a luta?

-Não. Eu não tinha um corpo para enterrar onde ela gostaria, então entreguei o símbolo que sobrou dela. Quando vim para a vila pela primeira vez passei por uma vista muito bonita. Uma clareira com um pequeno lago no centro, fui até lá, a deixei em um lugar pacifico. –Pela primeira vez conseguiu falar sobre Nora sem sentimentos negativos tomarem seu coração. Como se tivesse feito as pazes com sua morte.

-Isso é bom pivete. – O Velho olhou para a própria aliança e deu um sorriso, porém com olhar triste. –Eu também demorei a aceitar que não veria minha Cristina novamente. Porém eu sei que ela gostaria que eu seguisse em frente, continuasse criando os pequenitos e cuidando das pessoas. A sua garota também ia querer que você não desistisse.

Acertou um tapa no braço de Bruce para encoraja-lo, acabou se deixando levar e esquecendo dos ferimentos. Bruce apertou os lábios, uma lagrima veio a seu rosto junto da dor reverberando pelo corpo. O velho deu uma risada pela falta de tato, depois um gole no copo.

-Eu sei, só não era fácil entender que não nos veríamos de novo. Eu passei muito tempo com raiva do mundo por tira-la de mim, não querendo acreditar que aconteceu, que tudo havia acabado. Só que não tem como mudar o passado. Agora preciso descobrir como me por nos trilhos novamente.

-Você vai dar conta, pelo menos o pequeno acredita que vai, ele confia bastante em você. Arranjou um grande amigo, não vá perdê-lo. Pelo que me falaram aquela ali também está precisando de uma ajuda.- Mais uma pausa e um gole no copo, olhava para a garota com dó. –Compreendeu como seguir em frente? Ótimo! Agora ajude alguém a fazer o mesmo, a garota precisa de alguém pra ajuda-la, assim como você recebeu ajuda. –Fez uma pausa enquanto terminou seu copo. –Você e eu temos que descansar, Ada bateu na minha porta em plena madrugada pedindo ajuda, estou caído de sono. Vou voltar para casa dormir. Aquela garota está bem sedada então você pode ficar tranquilo.

Após Martinez sair, ficou deitado navegando pelos próprios pensamentos e sobre o que conversou com o medico. Tinha sido uma longa jornada desde que perdeu Nora, arranjar o enterro, sair da Ordem e ficar trancado em casa até resolver vir a Trindade. Contudo o fato da ordem ter mandado as garotas até ele o intrigava, não iam atrás de desertores, não existe uma pena real para isso a menos que exista um crime ligado. Ele saiu de forma pacifica sua superiora entendeu seus motivos, do jeito que Ingrid falou foi como se ela não soubesse o motivo de ter saído. Aquilo estava muito estranho, quando saiu tinha suspeitas sobre algumas coisas que aconteciam dentro dos cruzados, mas aquilo era um passo além. Será que os fatos foram ocultados, o funeral de Nora foi extremamente intimo não seria fácil de esconder, além de que sua morte o deixou cheio de teorias que depois acreditou serem apenas coisas de sua cabeça. Precisava de respostas, e só as teria quando Ingrid acordasse a ansiedade o deixou acordado por um bom tempo.

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