I Want You - Rachel Sheherazade/YOU

Capítulo 11

S/n Souza POV

Era fim de tarde quando saí da delegacia. Admirei o céu antes de entrar no carro, inspirando e soltando o ar lentamente. O sol se escondia entre os prédios de São Paulo. Meu cansaço se escondia atrás dos meus olhos.

Ouvi passos há metros de mim e olhei para o reflexo do carro preto em busca de saber quem seria. Vi Melinda caminhando até mim. Ela tinha uma mochila pendurada sobre os ombros e o celular em uma das mãos.

— Desculpa em ter te ligado naquela hora, mas realmente precisamos de você. - me virei para ela, dando tempo de ver seus olhos desviarem e ela encolher os ombros.

— Tudo bem, não é a primeira vez que ocorre um chamado de madrugada. São ossos do ofício, não é mesmo? - indaguei cruzando meus braços.

— Realmente. Mas... você parecia estar ocupada. - a morena em minha frente franziu o cenho.

— Mas me desocupei e vim, não foi? É isso que basta. - cortei o assunto, dando as costas para a mulher e destravando meu carro. Quando abri a porta para entrar, Melinda tocou em meu ombro e eu parei.

— Além de estar ocupada, S/n, você parecia estar com alguém...

A olhei por cima do ombro e entrei no carro, o ligando e saindo dali rapidamente. Acelerei pelas avenidas de SP, o trânsito parecendo estar mais calmo do que o comum. O som do carro tocando Jota Quest.

Meus olhos estavam atentos ao trânsito, mas na minha mente, só se passava uma pessoa: loira, 50 anos, pele branca, 2 filhos e uma boca extremamente gostosa. Rachel Sheherazade.

E foi com os pensamentos nela que cheguei em casa. Tomei banho, fiz meu jantar e me acomodei em minha cama, a todo instante com a mais velha impregnada na minha cabeça.

Me pergunto como nomeio isso que estou sentindo. Porque eu penso nela a todo instante. Eu sinto o cheiro, ouço a voz, sinto o calor. E o pior: tudo isso sem ela estar por perto.
Eu devo chamar de loucura?

Se Lucas estivesse aqui, ele diria que estou apaixonada. E eu iria rir, mas não negaria. Pois não faço a mínima ideia do que isso seja, nem sei se devo rotular o que sinto como um produto de supermercado, tampouco colocar um prazo de validade, pois a minha vontade é de que tudo isso fosse eterno.

Peguei um caderno e uma caneta no móvel ao lado da cama, abri em uma página em branco e resolvi escrever. As palavras fluindo com leveza e sem demora. Quando senti que terminei, comecei a ler. Sorri em ver o quanto sentimentos demonstrados na arte são singelos e únicos.

"Hoje, eu ouvi você.
Eu assistia TV enquanto ouvia você cantar.
E a jornalista falava algo sobre o amor
e eu sorri ao lembrar do meu.

Depois você veio com a voz manhosa,
me pedindo carinho e eu beijei teu rosto,
enquanto você deitava em meu colo
como uma criança desprotegida.

Ficamos assim por longos minutos.
Mas logo, você se levantou e eu não te vi mais.

O despertador tocou.
Dormi mais uma vez no sofá da sala.
Acho que estou ficando louca, acredita?
Porque hoje, eu ouvi você."

Levantei e peguei meu celular, tirei uma foto da página e enviei para Rachel com a legenda: "Me peguei pensando em você durante o dia todo e agora, te escrevi isso. Saudade."

Desliguei a tela do aparelho, ansiosa pela resposta da loira. Travei por instantes me perguntando se ela me acharia uma louca emocionada, mas me tranquilizei logo em seguida, porque eu estava apenas mostrando quem eu era. E se fosse além do que Rachel estivesse disposta a receber, eu daria um jeito para que ela notasse que merece toda intensidade do mundo.