I Want You - Rachel Sheherazade/YOU

Capítulo 24

S/n Souza POV

Meu pé direito batia freneticamente contra o piso marrom escuro, fazendo com que minha mão apoiada no joelho, também se movesse. Em meu corpo, choques de ansiedade eram sentidos.

Rachel voltava da cozinha, me estendeu um copo de água que eu havia pedido ao chegar. E eu logo segurei, bebendo dois goles rapidamente. A mulher sentou ao meu lado, me deixando vê-la apenas pela minha visão periférica, já que estava sentada com as costas no estofado.

Levantei meu busto e deixei o copo pela metade, em cima da mesa de centro. Ao encarar a loira, pude notar que ela tinha os olhos curiosos e apreensivos sobre mim. Pigarreei com a garganta, com o intuito de que a mulher começasse a falar.

— Primeiramente, obrigada por ter vindo. Embora tenha demorado para me ouvir, eu respeitei seu tempo. - sorri sem mostrar os dentes.

— Não acho que isso seja o máximo.

— Por quê não? - perguntou confusa.

— Depois de tudo, era o mínimo que você poderia ter feito. - as palavras saíram ácidas da minha boca.

— Não me trate dessa forma, por favor. - tocou em meu braço.

— Rachel, eu estou magoada. Magoada com você, por atitudes e decisões suas. Você quer que eu a trate como uma boneca? Me desculpe, não consigo. - me afastei, ficando de costas para a mulher.

— S/n, é muito difícil para mim. Entenda meu lado, eu tenho a minha imagem de uma mulher hétero desde que surgi na TV. Minha mãe também não sabe sobre mim e...

— "Entenda meu lado, entenda meu lado." E o meu, Rachel? Quantas vezes você buscou entender? Você quer que eu aceite suas condições, que vá no seu tempo e os meus sentimentos, quando vão ser respeitados também? - bati em meu peito.

— Você acha que não penso em você também? Que não priorizo suas vontades? - levantou o corpo, assim como sua voz.

— Quando? Quando, hein? Me diz uma única vez!

Foram segundos que duraram horas. Rachel travou uma batalha de olhares comigo, porque sabia mesmo que não havia respostas para serem dadas.

— Me desculpe, ok? Eu quero estar com você, então vamos dar um jeito nisso. - deu um passo a frente e mais uma vez, eu me afastei.

— Eu gosto de você, Rachel. Porra, como eu gosto de você. Eu sou vazia em qualquer âmbito da minha vida, mas com você, eu transbordo. Só que eu percebi que só gostar de alguém, não é suficiente para estar junto.

A essa altura, Rachel já abraçava seu próprio corpo em busca de consolo. Os olhos castanhos derramavam lágrimas em seu rosto branco e meu coração chorava junto.

— Não faz assim com a gente. Eu vou melhorar, eu prometo!

— Espero que melhore e que não ofereça sua indecisão para outra pessoa. - desviei os olhos. — Eu preciso ir agora.

— Fica só um pouco mais? Os meninos estão chegando da aula, eles estão com saudade de você. - limpou as lágrimas que insistiam em cair.

Foi só Rachel fechar a boca, que ouvi a porta ser aberta e passos apressados virem até mim. Recebi os dois filhos da loira de braços abertos. Em silêncio, recebi o contato que mais precisava. E eu, tampouco, sabia disso.

Clara e Gabriel se agarraram a mim, com os braços envolta do meu corpo e com palavras eufóricas de saudade. E, naquele instante, prometi para mim mesmo que não importaria como eu e Rachel estivéssemos, eu não largaria a mão daqueles dois.