Amores Doentios |+18| |Concluída|

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Ainda havia uma testemunha de defesa a ser interrogada. 

— O tribunal chama para depor o Doutor Herme Adriano Santos, psiquiatra do hospital Drummond de Andrade na cidade de Barreiros. 

O oficial de justiça se aproximou de Herme com uma bíblia. 

— Levante a mão esquerda. Jura dizer a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade?

— Eu juro. 

— Doutor, por favor se aproxime. 

Jackson se aproximou do médico.

— O senhor é um psiquiatra, pode nos dizer há quanto tempo atua nesse ramo? 

— Há vinte e cinco anos — respondeu Herme. 

— O réu apareceu em seu consultório e o senhor fez uma avaliação nele, conte a todos como foi feita. 

— Ele disse que não estava dormindo, então perguntei se já tinha apresentado esses sintomas antes, me disse que quando era mais novo aos quinze anos. 

— Ele deu os detalhes? 

— Para que a avaliação seja um sucesso e eu possa ajudar o paciente, ele precisa ser claro comigo, me informar sobre tudo até coisas que não ache importante. É crucial que eu saiba para avaliar o estado em que ele se encontra quando foi até mim a procura de ajuda. 

— O que ele disse?

— Nesse momento ele permaneceu em silêncio, então reforcei a pergunta e ele me contou sobre o padrasto e o abuso que durou até os dezesseis anos quando fugiu de casa. 

— Com base nas respostas que ele deu, o senhor foi capaz de realizar uma avaliação psicológica do estado de saúde dele?
 
— Sim, notei que não se tratava apenas da insônia causada pelo abuso, mas o fato da mãe ter morrido na frente dele o afetou também. 

— Com base na avaliação do paciente, mesmo que tenha feito isso com outros afins, mas de acordo com tudo que viu e ouviu naquele dia, colocando os seus anos de trabalho como psiquiatra, o réu pode ser considerado uma vítima dos fatos? 

— Sim, com base na minha avaliação daquele dia eu notei que ele precisava de ajuda, ofereci que fizesse uma terapia ao menos duas sessões na semana para começarmos com um tratamento imediato. 

— O senhor com a sua experiência acredita que os traumas do passado podem afetar a vida das pessoas no presente? 

— Os traumas podem sim afetar e muito a vida das pessoas, os planos do presente para a vida amorosa, profissional e pessoal podem não estar dando certo por conta de emoções mal digeridas.

— Como os traumas se formam? 

— Os traumas psicológicos podem ser descritos como um “dano” à mente causado por um evento que gerou níveis extremos de estresse. A intensidade das emoções sentidas na ocasião supera a capacidade do indivíduo de lidar com elas. Dessa maneira, ele é tomado pelo pânico, estresse, medo, tristeza, raiva, entre outros.

— Tendo em vista todos os eventos, a morte da irmã a quem ele amava, depois a mãe em depressão o deixando de lado e o suicídio assistido dela com os abusos frequentes do padrasto, fica claro que meu cliente foi afetado pelas experiências vivenciadas na infância e adolescência? 

— Sim, acredito que tudo que aconteceu com ele ainda pequeno tenha, sim, influenciado de uma forma totalmente negativa e contribuído com o trauma dele. 

— É possível prever quando uma pessoa vai reagir a um evento traumático? 

— Não — negou Herme. — É impossível prever como uma pessoa vai reagir a um evento traumático. Quando o trauma danifica a saúde mental, as lembranças são “guardadas” no inconsciente do indivíduo para prevenir o seu sofrimento.