Capítulo 1: O Pássaro Azul

134 21 142
                                    

Sobre o solo úmido de uma floresta, um jovem — de cabelos pretos e rosto quadrangular —, abaixou-se para recolher uma flecha que a pouco se perdeu entre as árvores; recolocando-a novamente no arco praticamente de seu tamanho.

— Onde vai atirar? — perguntou uma voz, saída detrás de um tronco grosso de árvore.

— Veja ali. — O jovem mirou a direção com a ponta da flecha. — Parece uma peça metálica, umas das que você gosta.

— Oh sim, estou vendo.

— Prepare-se para correr caso levante. — O arqueiro mal terminou e atirou.

A flecha comprida cruzou o emaranhado de árvores como um raio, e cerca de dez metros deles, atingiu o alvo escolhido com um tilintar de metal baixo. Os dois jovens permaneceram imóveis, mas como nada aconteceu se puseram a cruzar o mato alto. 

A estrutura se tratava de um robô. Suas partes metálicas estavam amassadas, além de consumidas por ferrugem e musgo.

— É um daqueles? — O jovem de arco e flecha, observou o amigo se agachar para ver melhor a carcaça.

— Confirmado, era um robô mapeador — respondeu, enquanto que com uma mão enluvada puxava vários cabos expostos.

E-666 — o atirador leu as letras, parcialmente apagadas no que seria um braço pintado de vermelho. Somente então, notou a flecha fincada logo acima. 

O metal estava tão corroído que ela conseguira penetrar pelo menos um pouco da base. O arqueiro tratou de arrancá-la e colocá-la pendurada na aljava de pano improvisada.

— O que eles querem mapeando a floresta? É o quarto ou quinto que encontramos. De qualquer jeito, a resistência está fazendo um ótimo trabalho em destruí-los.

— Eu não sei ao certo, mas é uma das coisas que meu pai tem tentado descobrir.

— Ele ainda não voltou?

— Não... — O amigo se levantou, enrolando e colocando os fios numa pequena bolsa presa à cintura por um cinto. — Tenho evitado pensar que aconteceu alguma coisa com ele, mas é difícil.

Apesar do semblante sério, existia tristeza em sua voz. O arqueiro apenas o observava, apoiando a mão no tronco de uma árvore próxima.

— Sinto muito por isso.

O amigo ficou pensativo, fitando o robô quase que com raiva.

— Ouça Peterson, eu não suporto mais esperar, há mais de seis meses que ele não dá notícias desde que foi para a capital, minha mãe está enlouquecendo e... e eu decidi que quero procurar por ele, ao menos tentar encontrar alguma pista, notícia, qualquer coisa! Já tentei pedir ajuda, mas ninguém quer se sujar com um homem da resistência...

— Qual seu plano então? — O garoto, que atendia pelo nome, interessou-se.

— Vai ter um show de Rock na capital amanhã à noite, soube pelos panfletos que chegaram junto com os livros da escola na última carroça de mantimentos. Uma grande parte das pessoas da resistência está planejando ir, isso em todas as outras aldeias. Acho que pode ser um bom lugar para perguntar sobre ele, podíamos ir...

"Podíamos"? — Peterson arqueou uma sobrancelha.

— Queria que você viesse comigo, esse seu arco e flecha podem servir caso aconteça alguma coisa, ouvi dizer que o evento é "livre", mas nunca se sabe o que podemos encontrar.

Peterson suspirou, ele raramente saia da floresta e dos arredores da vila deles, o motivo era bem específico e seu amigo o conhecia bem.

— Estou preocupado com essas invasões a floresta, tudo graças a essas latas velhas — começou, cutucando o latão da máquina com a ponta da bota. — Lembra? Eles estão colocando fogo na floresta e derrubando as árvores sem ao menos avisar.

O Anel de Möbius e as Estrelas da LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora