Capítulo 3: O Esgoto Ácido

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Nos recantos bem próximos ao coração da capital, existia um vasto mercado negro. A principal renda de quem precisava sobreviver nas periferias da capital de Möbius: Arcádia. 

Este local, composto de suas próprias leis, era lar de comércios muito juntos entre si, com casas de dois a três andares; e essa proeminência de construções se estendia por diversas ruas, cada uma com um tipo de comércio diferente.

Naquela manhã nublada por fumaça, um homem corpulento e baixo, vestido com roupas que pareciam as de um barão, decidiu ir até a Rua do Infinito; cuja especialidade do comércio era relógios. Qual era a precedência deles, poucos sabiam dizer.

O homem andava pela rua — despreocupado até demais —, parando de vez em quando para olhar a vitrine de alguma loja. Sabia que precisava de um relógio, entretanto, o que não sabia, é que em um dos estreitos becos entre as construções, um indivíduo o acompanhava.

— Hoje parece que a sorte decidiu ficar do meu lado Snikbur — falava para um Walkie Talkie arcaico.

O que cê viu?

— O alvo é baixo, tá namorando as vitrines das lojas, usa um casaco grande, o bolso de um lado tá aberto, tem uma carteira nele, vi tirar e colocar, e adivinha? A carteira é gorda igual o dono, do jeito que eu gosto..., ele acabou de entrar numa loja.

Que rua cê tá?

— Infinito.

Algum guarda?

— Não tô vendo nenhum, será que tá caro manter uma daquelas latas velhas? Espero que sim viu..

Então o que cê tá esperando?

Aquela foi à deixa que lhe faltava. Sorriu ao desligar o aparelho e enfiá-lo na pochete. Desencostou da parede úmida do beco e puxou o boné, a fim de ocultar melhor o rosto. Esperou impaciente o homem sair da relojoaria, segurando um pacote pequeno e metendo a carteira no bolso.

Despreocupado, o garoto entrou na multidão rumo ao homem. Deslizava como uma cobra entre ela, enquanto sua presa prosseguia com mais dificuldade. Não foi difícil alcançá-lo. Um grupo atravessou na frente do homem e aquele foi o momento perfeito.

O menino grudou na vítima e aproximou o braço quando o homem teve que parar para pedir licença. A mão deslizou no bolso e com uma suave retirada, lá estava à carteira em sua palma firme. O garoto deu dois passos para trás, respirava eufórico com o ganho satisfatório, os olhos verdes como ácido quase corroendo o objeto de tão fixos nele. 

Rapidamente ele fingiu retirar a carteira da própria pochete, como se sendo sua, e se preparou para abri-la. Caso não tivesse nada de útil ali, era só derrubá-la no chão e informar o dono sobre a queda, assim, ainda pagaria de bom moço. Por que não?

Com o canto dos olhos, observou se ninguém o espiava e puxou o fecho. Um pequeno raio lazer saiu de uma peça quadrada minúscula de metal, pregada num canto da carteira, e encostou à testa do menino. Para a surpresa dele, um alarme absurdamente alto começou a tocar. Nem um carro arrombado poderia ser tão barulhento!

A multidão congelou, olhares caíram sobre ele, que tentou inutilmente fechar a carteira e cessar o barulho. O dono dela virou-se pouco mais a frente, tateando os bolsos e, assim que fixou os olhos na direção do barulho, gritou enfurecido:

Ladrão! Ladrão!

Antes da segunda exclamação, o garoto já corria igual um atleta para o lado contrário da rua. O homem ficou para trás, tentando pular por cima da multidão até ele. O menino passava e empurrava os outros com facilidade. Foi quando trombou com seu maior inimigo: um guarda-robô. Com seus 1,70 metros de altura, sua sombra cobriu o garoto que teve de torcer o pescoço para vê-lo.

O Anel de Möbius e as Estrelas da LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora