Capítulo 8: O Escorpião

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Assim como o obstinado Peterson, Sonabelia também decidiu encontrar Lady Whitnery. Bene havia a acolhido em sua mansão, que não ficava muito longe do palacete. Ele tentou a impedir a todo o custo de ir sem sucesso e medroso como estava após os acontecimentos do show, não quis acompanhá-la; segundo ele ainda estava em fase de recuperação psicológica.

Destemida como era a moça, saiu a pé pelas ruas de Arcádia, tendo o rosto oculto por um pano de seda verde enrolado como um capuz; aquilo também a protegia do sol quente de Möbius. Bem educada e estudada pelos professores particulares mais renomados que a davam aula em casa, Sonabelia conhecia cada rua da capital, mesmo que nunca tivesse andado por elas, a não ser de carruagem.

Segundo o que sabia até então e que foi noticiado no Möbiujornal, Lady Whitnery fora presa por conspirar contra o Reino e teria seu caso analisado na prisão forte de Arcádia, onde se manteria detida. Essa prisão ficava no núcleo da cidade e após o mercado do centro.

Sonabelia chorou muito pela bondosa tia que a criou, antes de sair da mansão de Bene. O que ela teria feito? Era sua tia carinhosa e que sempre fazia tudo para seu bem. Estaria envolvida com algo que ela não sabia? Ou a confusão do show tinha algo a ver com aquilo e a culpa seria de Sonabelia?

Um grupo de Arcádianos chamou a atenção dela. Estavam reunidos de frente à vitrine de uma loja de eletrônicos. Assistiam alguma coisa vidrados numa ÖTV, murmurando coisas ininteligíveis entre si. Sonabelia teve de ser espremer entre as pessoas para passar ao outro lado da rua e acabou tropeçando no pé de alguém ali no meio, esbarrando num garoto mais à frente.

Ele estava mais afastado dos demais, tentando ver a vitrine ficando na ponta dos pés.

— Desculpa. — A menina encarou o jovem indiferente até um breve segundo. — Eu reconheço você! Não foi aquele garoto que segurou o ladrão no show? — Apesar de estar bem escura aquela noite, Sonabelia prestara bastante atenção aos que tinha encontrado e arriscou o palpite.

— Como sabe? — O semblante sério dele se iluminou.

— Porque eu era uma das vítimas daquela noite. Obrigada — esclareceu, recuando pouco o lenço que usava.

De todo modo ele não pareceu a reconhecer.

— Não foi nada, você mora aqui?

— Não exatamente, mas por quê?

— Sabe me dizer onde fica a prisão forte?

— Que coincidência! Também pretendo ir para lá.

— Pode me explicar o caminho? Eu não conheço nada daqui.

— Espere. Não consigo te ouvir direito, vem comigo!

O burburinho entre as pessoas tinha aumentado de repente. O jovem seguiu Sonabelia até um local com poucos passantes. Era uma praça minúscula sem árvore alguma, só uma fonte redonda com água suja, moedas enferrujadas e embalagens de bala flutuando ali dentro.

— Qual seu nome?

— Peterson. E o seu?

— Meu nome é Sonabelia... — ela iria dizer o sobrenome com orgulho, mas se conteve sabendo que talvez não fosse uma boa ideia agora. — Prazer em conhecê-lo.

Ela estendeu a mão macia e o jovem apertou-a de um modo bastante forte com a palma áspera. Um barulho metálico chamou a atenção dos dois após o cumprimento. Viraram para a direção dele, e só depois de um minuto, perceberam se tratar de um bueiro sendo aberto bem próximo da fonte.

A cabeça de um menino, com um brinco em uma orelha, apareceu ali. Ele olhou de um lado para o outro, segurando a tampa — bastante fina — com os dedos sujos e saiu fechando-a com cuidado. Permaneceu de costas para os dois conforme andava — como que por destino — na direção onde se mantinham; Quando virou o rosto e viu Peterson, tomou um susto e estancou.

O Anel de Möbius e as Estrelas da LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora