Capítulo 2: A Manga Rósea

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A porta de uma sala se fechou, fazendo ecoar o barulho por um corredor bem iluminado. Quem fez esta ação, é um homem mediano e que levou uma mão enluvada a boca. 

Tratava-se de um mordomo inquieto, que continuou a percorrer o corredor abrindo porta por porta dele. O homem chegava até mesmo a transpirar, pois ele checara todos os cantos do palacete.

— Ah! É claro! — exclamou para si mesmo, batendo na testa e dando meia volta. Ele parou numa porta de cedro elegante e entrou. 

Já estivera ali também, mas não se dera conta de uma coisa: a janela aberta. O mordomo cruzou o quarto — elegantemente decorado em tons de rosa claro — e espiou através da janela alta que dava para um pequeno jardim todo murado. De um lado da mesma janela e bem próximo, existia um pinheiro vela alto, e no fim do jardim, um pé de mangueira consideravelmente alto. 

Como esperado, o mordomo viu o que queria e correu apressado para fora da casa. Cruzou o corredor entapetado; desceu uma escada em caracol; passou por outro corredor cheio de quadros e empurrou a porta de vidro dos fundos. Desceu três degraus de uma escadinha e fez escutar as pisadas dos sapatos sobre um piso de pedra, que cruzava a grama muito bem aparada.

— Srta. Sonabelia! — Ele torceu o pescoço para o alto da mangueira.

A voz assustada fez a figura no topo olhar para baixo. Era uma garota, e isso soaria totalmente normal, se ela não estivesse fazendo coisa inusitada no momento.

— Oh! Por Möbius, se cair aí do alto! — O mordomo enxugou a testa com um lencinho tirado do bolso.

A garota não respondeu. Estava concentrada sobre um dos galhos grossos e de ponta cabeça sobre ele, apoiando-se nas mãos. Ela tentava pegar uma manga com os pés. O mordomo quase tinha um infarto logo abaixo, ele deu um grito quando a menina acertou a fruta com seus dois pés e com impulso, voltou a ficar de pé no galho num "plié" equilibrado. À manga balançou e despencou, mas a menina a pegou no ar triunfante e se sentou no galho tomando fôlego.

— O que foi Spencer? — Ela balançava as pernas despreocupadas.

— Lady Whitnery a espera para sua aula habitual de piano. — O pobre Spencer ainda se recuperava do susto.

— Tinha me esquecido!

Ágil, a menina deslizou pelo galho para um mais abaixo e com uma pirueta — utilizando somente o impulso das pernas —, deu um mortal, pousando na grama ao lado de Spencer; as mãos sem largar a manga enorme.

— Pega — mandou, jogando a fruta na direção dele.

— Sonabelia, sabe que Lady Whitnery fica aflita quando faz esses malabarismos perigosos!

— Claro que sei, mas eu não podia deixar esta manga cair, está tão bonita, olhe.

— Certamente querida, mas você pode pedir para algum dos empregados irem pegá-la, eles farão essa gentileza usando uma escada.

A menina colocou as mãos na cintura e suspirou, sorrindo de canto.

— E perder a diversão Spencer? Você pode descascar para mim, por favor? — apontou a fruta.

Ela estava madura, grande e de casca bastante rosa. Seria um crime deixá-la se esborrachar na terra.

— Claro, agora vá, ande, a senhora está esperando como falei.

— Valeu! E por favor, não conte para ela! — A menina correu, enquanto articulava até a porta dos fundos.

— Pode deixar querida. — O mordomo aliviado, finalmente pôde respirar.

O Anel de Möbius e as Estrelas da LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora