Vale das Memórias Perdidas - I

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"Eu sei que é difícil relembrar, as pessoas que costumávamos ser [...] Você apagou as luzes e agora estou paralisado..."

Maroon 5 - Payphone

Quando Lumine abriu os olhos, tinha plena certeza de que estava em suas próprias memórias. Como das outras poucas vezes que reviveu alguma memória ela se via dentro de seu próprio corpo no passado porém sem controle de suas palavras e ações "uma espectadora de mim mesma..." Ela pensa enquanto se observa andar com uma fada voando ao seu redor "essa é Paimon" ela pensa. A fada a estava enchendo com informações, porém seus olhos foram capturados por um bardo que acariciava um dragão sussurrando palavras calmantes "Venti!" Ela grita dentro de sua própria mente porém a cena se desenrola sem que ela pudesse fazer nada, um pequeno encontro dos olhos dele com os dela antes do seu poder anemo chamar a atenção do dragão e o mesmo rugir antes de voar enquanto Venti simplesmente desaparecia no ar.

Antes que pudesse processar mais daquela memória tudo se distorce a sua volta e perde a forma enquanto ela sentia entrar sendo levada pra outra memória "aquela foi a primeira vez que vi ele..." Lumine pensa antes que pudesse abrir os olhos mais uma vez, Venti estava sorrindo pra ela de forma triste enquanto contava sobre seu amigo que havia morrido na antiga Mondstadt no dia da queda de Decarabian e sobre como acabou se tornando o arconte anemo "mas o que isso significa..." Antes que pudesse completar o pensamento ela se lembrou do que aquilo significava e seu estômago revira "Aether, eu estava procurando Aether". Aos poucos ela entendia enquanto era novamente jogada na escuridão rodopiante que a levava a mais uma memória, cada pequena peça do quebra cabeças do seu passado chegando dolorosamente lento e a loira simplesmente não podia fugir. Quando tudo parou ela estava olhando pra Venti que sorria satisfeito enquanto ignorava um apelido qualquer que Paimon deu a ele, os olhos verdes focados em Lumine.

— Então você realmente veio pro festival? - o bardo pergunta parecendo feliz - teve um tempo em suas viagens?

— Eu disse que viria - Lumine se ouviu dizer - por que eu deixaria de vir quando me convidou?

Os olhos de ambos se encontram e um sorri pro outro, haviam palavras não ditas ali porém a Lumine daquela memória ainda não sabia lê-las.

— Uh Paimon se sente meio excluída - a fada rodopia no ar porém antes de reclamar é distraída por duas garotinhas e se esquece dos dois os deixando sozinhos.

Venti se aproxima de forma tímida, os olhos verdes não tão confiantes como de costume "como um literal Deus poderia ficar assim por mim?" Ela pensa sentindo sua eu do passado sorrir.

— Eu pensei que não teria tempo pra um festival bobo quando tem sua busca pra fazer - ele diz - eu sei que é importante pra você achar seu irmão.

— É importante mas... Também é importante ver você - a Lumine do passado diz e logo conserta a frase - e todos os amigos que fiz aqui é claro.

Quando ela pisca os olhos já se vê sentada ao lado dele nas mãos da grande estátua na praça da igreja, a brisa levava dandelions pelo ar enquanto apenas os postes da rua e a lua iluminavam a cidade. Ela sabia que aquela era sua última noite depois do festival antes de partir pra Liyue e então tentar chegar a Inazuma, Venti olhava sua cidade adormecida ao lado dela.

— Tenha cuidado - ele diz em voz baixa - a Baal... Ela não é tão ponderada quanto Morax.

— Está preocupado comigo? - Lumine se ouve dizer sorrindo suavemente - vou ficar bem, só quero falar com ela então não deve ser um problema.

— Mesmo assim... - o arconte suspira - me prometa que se algo der errado vai me pedir ajuda. Me prometa Lumine.

— Eu prometo - ela sorri - mas não precisa ficar tão...

Ela não consegue completar a frase por que Venti a beija, a loira sente sua versão do passado surpresa e feliz. Não demora até o beijo de ambos se aprofundar, aquela memória era doce e Lumine não reclamava de relembrar porém logo uma sombra negra a puxa daquele momento a conduzindo a uma memória sombria: uma ruína, um homem alto loiro "Dainsleif" ela pensa, e no centro de tudo o seu irmão com a mesma expressão fria e vazia virando as costas e partido a deixando sozinha novamente. As memórias se aceleram em sua mente passando por toda o caminho que levou até Inazuma: o choro descontrolado por ter sido deixada por Aether, Dainsleif a deixando sem respostas, a tempestade pra chegar em Inazuma, toda a miséria das pessoas sobre o decreto de caça as visões, Ayaka pedindo ajuda, Thoma quase perdendo a visão, Teppei morrendo, o raio da toda poderosa Shogun acertando seu corpo de forma tão brutal que pensou que morreria ali mesmo. Lumine sentia sua cabeça a ponto de explodir com tanta dor, seu corpo tremia, mesmo perdida em suas memórias ainda tinha certa consciência do seu corpo no mundo real. Aquelas memórias estavam castigando seu coração profundamente, eram traumas esquecidos de uma jornada que ela não sabia que estava fazendo até ser arrastada até suas memórias que agora eram apenas lágrimas enquanto encarava o mar da ponta do penhasco, o perfume de cecilias sendo um consolo suave como a brisa até sentir braços a rodearem.

Não precisava olhar pra saber que era Venti, havia deixado Paimon aos cuidados de Zhongli e caminhado até Mondstadt porém a coragem de derramar sua desventura em Venti era pouca, então a sua eu do passado apenas se sentou no penhasco das estrelas sozinha olhando o mar no horizonte e deixando suas lágrimas silenciosas escorrerem.

— "Minha querida companheira, há algo que você queira me dizer? Minha guerreira, você trabalhou tanto. Eu entendo como se sente... Quando você simplesmente não consegue encontrar mais energia e o mundo cai em uma névoa - até as maçãs perdem seu sabor doce. Se você conseguir dormir bem nesse momento, vai se sentir muito melhor. Aqui, eu vou te emprestar meu ombro..." - o bardo recita baixinho apertando o corpo da loira contra si, aceitando todas as lágrimas que ela derramava e sentindo a dor dela como se fosse sua - quantas vezes vou ter que repetir esse poema até entender que estou ao seu lado? Minha doce musa... Seu fardo e pesado demais...

Ela apenas abraçou ele com toda sua força, acabaram deitados entre a grama e as cecilias. A lua e a brisa consolando Lumine enquanto Venti desenhava círculos imaginários em suas contas com seu toque suave enquanto ouvia o coração dele bater "nenhum coração bate de forma mais linda e forte que o dele" ela pensa, mesmo naquela lembrança ela sabia que aquele som era precioso e único. Naquele momento sua eu do passado entendeu que mesmo perdendo tudo e enfrentando coisas terríveis ela tinha um lar ali: seu lar era Venti por que era nele que sua mente e coração estavam o tempo todo. Ela desejou permanecer naquela lembrança pra sempre porém logo sentiu sua própria mente a puxar pra um novo lugar em suas memórias...

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Oe oe oe babys tudo bem com vocês? Chegamos na parte que eu esperei desde o início pra escrever e sim o capítulo tá todo em itálico por que é a Lumine caminhando pelas próprias memórias, teremos alguns capítulos apenas focados nas lembranças dela que vão seguir esse formato e finalmente vamos entender o que realmente aconteceu, sugiro que vocês se preparem. Enfim se gostarem deixem a estrelinha e comentários beijinhos e até o próximo capítulo ❤️

When The Wind Calls Onde histórias criam vida. Descubra agora