Capítulo 14

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Changbin, aproveitando seu dia de folga, vai a casa do casal de amigos onde é recebido com uma pequena confraternização. Depois de muito batalhar, San é promovido a capitão no posto de bombeiros onde trabalha. Com um grande abraço Changbin chega parabenizando o amigo e lhe entregando um presente simbólico.

O irmão mais novo surge, afetuoso como de costume, correndo para abraçar Changbin que lhe recebe com muito afeto.

– Estava com tanta saudade, pirralho. – Ele fala abraçando apertado seu irmão.

– Ai... to... sem ar. – O mais novo fala rindo.

– E... o Jisu?

– Ah... – Jeongin reprime a vontade de falar tudo para o irmão, afim de deixa-lo aproveitar a festa. – Ta no quarto, mas depois falamos com ele. Vem, tem espetinho.

As horas seguintes foram com amigos muito queridos, risadas e muita música. Fazia muito tempo que Changbin não se sentia feliz e acolhido, ao lado do irmão e de amigos que eram sua família, ele estava radiante. Enquanto dançava, não pensava mais em tantos problemas que a vida lhe proporcionara, só pensava em curtir, como o sorriso do irmão era uma grande satisfação, como foi uma dádiva conhecer o casal de amigos que tornaram-se sua família. 

CHangbin, em meio a confraternização, olha para a janela no segundo andar, onde uma pessoa lhe observava. Sabia que se tratava de seu irmão, aquele a quem deu tanto amor, porém não entendia suas motivações para tais atitudes impensadas. Algumas horas antes San explicou, pelo celular, que o rapaz estava de castigo por alguns motivos que ele mesmo deveria contar a Changbin.

Em meio a toda festa Changbin resolve subir para falar com o irmão, pois a saudade do garoto rebelde aperta em seu peito. Mesmo sem entender suas atitudes, ainda sente-se responsável por parte delas, desde muito jovem passou a criar os irmãos, então algumas coisas podem ter lhe fugido.

A porta se abre para o quarto escuro onde Jisung está sentado no divã recostado à janela. Mesmo com o barulho o menino não vira para receber quem quer que seja a sua porta.

– Oi. – A voz de Changbin é baixa e sentimental.

Sem qualquer movimento ou retorno ele entra no quarto e fecha a porta. Então acende a luz.

– Não vai me dar um abraço? – Ele abre os braços, mas ainda não recebe a atenção do irmão que segue olhando triste pela janela. Então suspira profundamente e olha para baixo. – Queria só entender, sabe Jisu?

O garoto na janela permanece olhando para a rua, agora com os olhos marejados. Após os últimos episódios ele passou a questionar mais suas escolhas e, embora não admita, sente a culpa de não ser grato ou presente na vida dos irmãos.

– O que eu poderia ter feito? Como quer que eu haja? – Novamente Changbin solta um suspiro e senta esfregando o rosto. – Parece que desde que você fez 16 anos eu não controlo absolutamente nada mais, você não me ouve, não quer saber dos seus irmãos. O que fizemos de errado para você?

O rapaz permanece olhando para rua, o que tira Changbin de seu eixo e, em um acesso de fúria, corre até Jisung para sacudi-lo na esperança de obter uma resposta.

– FALA ALGUMA COISA... QUALQUER COISA.

– O que quer que eu fale? – Jisung solta com a voz embargada e lágrimas escorrem pelo seu rosto. – Que vacilei de novo? Que escolhi a pessoa errada, de novo? – Ele então olha para baixo. – Porque não desiste logo de mim? – Os soluços e lágrimas agora perdem o pouco controle que ainda tinham.

Changbin toma o irmão em seus braços, lágrimas escorrem do rosto de Jisung para seu ombro. Seus soluços ecoam no ambiente e logo Chanbgin também possui lágrimas escorrendo por seu rosto percebendo, ainda sem entender, a dor do irmão.

– Eu nunca vou desistir de você.

Sentindo uma dor dilacerante por suas péssimas escolhas que afetam a família, Jisung desaba ao chão, sendo acompanhado e amparado pelo irmão. Desde muito novo o rapaz se envolve com pessoas bastante erradas, na tentativa de curar um vazio deixado por seus pais. Suas paixões, arriscadas com pessoas de caráter duvidoso, lhe faziam sentir o gosto da liberdade rebelde que essa vida pode lhe proporcionar.

Após um tempo dividindo essa dor os irmãos sentam-se a cama onde podem conversar. Changbin resolve não tocar em assuntos delicados até que Jisung esteja pronto para faze-lo por conta própria, então conta da viagem e de como queria os irmãos com ele.

– Sabe... eu... estava com um pouco de inveja. – Jisung fala envergonhado. – Desculpa.

– Pelo que? É normal sentir inveja, Jisu. Mas já te disse, você é um garoto esperto, garanto que, se buscasse por isso, viajaria de forma diferente de mim.

– Como assim. – Jisung parece confuso.

– Passenado. Conhecendo os lugares, compreendendo o significado de cada arquitetura e bla bla bla. – Ele faz um gesto de mãos 'falantes' na última sentença, que tira um sorriso doce do irmão.

– Para com isso, você conhece muita coisa também.

– Jisu. – Ele ergue o rosto do irmão que apontava para o chão. – Você não tem ideia do seu potencial. É isso que te carrega para os lugares errados.

– San te contou? – Novamente Jisung olha para baixo envergonhado.

– Sim. – Changbin solta um suspiro. – Jisu... você tem razão.

Jisung olha confuso para o irmão, que agora está sentado olhando para o chão à sua frente. Respirando pesadamente com um olhar cansado. Ele então aguarda o irmão prosseguir para compreender seu ponto.

– Você tem 21 anos, é um homem adulto, sabe de suas escolhas e onde elas podem te levar. – Ele volta o olhar para o irmão que lhe encara triste. – Mas não posso deixar de estar decepcionado por se diminuir a isso. Você não merece esse tipo de vida, tem potencial para ser grande, chegar aonde eu nem mesmo imaginaria, só que não sei mais como te fazer enxergar, maninho. Só queria te emprestar meus olhos, para você se enxergar com eles. ­– Jisung lhe encara com olhos marejados e Changbin conclui. – O maior tormento da minha vida é saber que nunca vou conseguir te fazer enxergar tudo que você está jogando fora.

Jisung compreende a decepção do irmão e resolve apenas manter-se acolhido em seu abraço, mantendo-se carregando consigo sentimentos conflitantes diante da situação que está vivendo. O rapaz, mesmo estando apaixonado, tem muito medo das escolhas do companheiro e, compelido a tal, segue o mesmo caminho, mesmo estando ciente da possível consequência de suas ações. Porém, diferentemente de quando era mais jovem, agora Jisung consegue ter uma visão clara e o medo se instaura ao perceber que, talvez, a junção de todas essas escolhas possa estar levando-o a um caminho sem volta.

Pensando mais nos irmãos, no tanto que sua família se esforça e ainda o acolhe mesmo diante de suas escolhas ruins, Jisung passa a temer perde-los e finalmente conclui que a mudança de seus atos é uma necessidade urgente. Após esse tempo de qualidade com o irmão e sentindo todo amor no acolhimento, neste exato momento Jisung resolve terminar com o namorado. 

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