Capítulo 27

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O ar fica pesado, tudo fica em câmera lenta. A voz do modelo clamando por uma reação fica distante como se estivesse a quilômetros de distância. Changbin nem ao menos consegue escutar as palavras do guarda que precisa repetir.

– Encontramos ele encolhido, sinto muito.

Hyunjin chora, não consegue atrair a atenção do guarda costas que permanece em estado de choque encarando o saco preto no chão. O modelo se abraça na tentativa de tentar conter o desespero que faz seu corpo inteiro tremer. Ele não consegue se atrever a tocar no guarda costas, pois sabe que não conseguirá ter forças para lhe oferecer conforto.

O CEO chega em pânico descendo do carro ainda em movimento, correndo na direção de Hyunjin, tropeça e quase cai tamanho o desespero do momento levantando agilmente em um pulo, ele abraça Hyunjin com força secando suas lágrimas e estudando todos os ferimentos do modelo. O desespero em seus olhos é nítido, mais que qualquer relação profissional. O rosto machucado do modelo recebe carícias paternais do rapaz que tenta secar as lágrimas desenfreadas que simplesmente não sessam.

– Ele morreu, Channie. Ele se foi... a culpa não foi dele, eu sei que não foi. – O modelo dispara de uma vez deitando a cabeça em seu ombro e soluçando desesperadamente.

– O que? Quem? – Bang Chan não entende, mas acolhe o rapaz.

Ao se deparar com o guarda costas em estado de choque e analisar a situação o CEO compreende e sente pelo rapaz. Ele segue tentando amparar o modelo desolado, mas sente muito por toda situação, ainda tentando entender qual dos meninos está dentro daquele saco preto no chão. Mesmo muito apegado ao modelo, seu sentimento era de poder também acolher Changbin.

As ambulâncias saem e Changbin permanece atônito, porém se aproxima do saco e ajoelha ao seu lado. As lágrimas escorrem por seu rosto que permanece com uma expressão incrédula. Um dos profissionais tenta impedi-lo de abrir o saco pelo estado do corpo, mas Bang Chan pede que o deixem se despedir. Sem tirar a atenção do saco, Changbin pega o boné e o abraça deixando escapar algumas lágrimas, então ele abre o saco devagar, com muito receio e dor, para se deparar com um rosto ensanguentado, muito familiar. Um tiro acima de sua têmpora deixa-o levemente desfigurado, uma visão assustadora de um corpo totalmente sem cor, sem expressão, sem vida. O rosto familiar lhe abala pela brutalidade de sua morte, porém o alivio vem a seguir, trata-se de Logan.

Changbin solta um suspiro aliviado e consegue, finalmente, soltar o choro que segurava. O CEO larga brevemente o modelo pedindo pra um de seus seguranças lhe encaminhar até o carro, então se encaminha até o guarda costas lhe convidando a entrar no carro para irem ao hospital, porém Changbin, ainda muito desnorteado agradece, mas sobe na moto e sai em alta velocidade.

No corredor do hospital a espera é dilacerante para o coração de Changbin. Hyunjin e Bang Chan lhe acompanham de longe, sentados, após Hyunjin recusar tratamento para estar ao lado do guarda costas. O irmão, Jisung, passa por uma cirurgia delicada para retirada de balas que atingiram seu tórax, sendo uma perto demais do coração.

Um policial chega em seguida para conversar com os meninos, mas se direciona diretamente à Changbin para avisar que o outro irmão está sendo atendido em uma sala, assim todos se dirigem até onde o policial indica.

– B-Bin-nie... – O apelido sai arrastado em meio a um choro.

Changbin corre para tomar seu irmão caçula nos braços. As lágrimas agora correm por seu rosto chegando a umedecer os cabelos do irmão que se aconchega em seu peito, ambos chorando incessantemente.

– E-eu... estava... – A dificuldade em sua fala proveniente dos soluços.

– Respira, maninho, agora está tudo bem. – Changbin fala com a voz embargada limpando as lágrimas do irmão carinhosamente.

– Eu estava voltando pra casa... eles me colocaram em um porta malas, me usaram para obrigar o Jisu. – Agora Jeongin volta o olhar ao modelo machucado, com os olhos lacrimejando, para à porta. – Eles obrigaram o Jisu, Hyunjin, não foi ele que escolheu, ele chorava muito. – Jeongin volta a chorar. – Nós amamos você, de verdade, ele precisou escolher entre eu e você... foi difícil pra ele, eu juro...

O jovem volta a chorar pesadamente sem conseguir continuar e é confortado pelo irmão que lhe acolhe em um abraço apertado. Hyunjin, ao lado do CEO, é confortado pois também chora, afinal um turbilhão de sentimentos lhe atinge fortemente. O modelo sente-se culpado por pensar que realmente Changbin havia lhe traído e duvidar de seu amor, o medo de perder a única família que já possuiu na vida após o julgamento, o coração partido por perceber o quanto Jeongin também sofrera demais nessa situação, assim como Jisung que precisou armar uma emboscada sabendo que a vida do irmão corria sério risco e, neste exato momento, luta por sua vida em uma mesa de cirurgia do hospital. No fim das contas, Hyunjin passa a perceber que o estopim de todos esses acontecimentos e tragédias ocorreu porque seu destino se cruzou com o desta família, ele começa a sentir-se culpado de todo o ocorrido e, quando se dá conta disso, resolve ir embora sem dizer uma palavra. O movimento repentino de Hyunjin impressiona o CEO que o segue sem questionar, compreendendo que a situação possa ser caótica demais para a saúde mental do modelo, ele coloca os interesses do modelo acima da situação, mas seu coração permanece apertado pelos jovens que ficam naquele lugar.

Assim que o modelo se retira do ambiente, Jeongin percebe e olha para o irmão que não esboça qualquer reação quanto a esse fato. Ele fica intrigado, mas não questiona.

Ao longe eles escutam o médico chamar pelos familiares de Jisung. Jeongin tenta levantar, mas o irmão lhe tranquiliza afirmando que qualquer informação será passada brevemente para ele.

Changbin sai correndo para encontrar-se com o médico.

– Sou irmão dele, doutor. Como está meu irmãozinho, por favor, me diga que ele está bem... – Fala ofegante e descontroladamente.

– Primeiramente preciso que você respire e se acalme. – O médico pousa a mão sobre o ombro do rapaz. – Ele está estável. Retiramos as balas alojadas em seu corpo.

– Ele está acordado?

– Sinto muito, ele segue inconsciente. Mas seu estado não é ruim dada a situação em que chegou aqui. Vamos ser positivos, ok? – O medido pressiona a mão no ombro do rapaz buscando um sinal otimista.

– Podemos vê-lo?

– Ele está na UTI então só posso deixar que veja ele muito rapidamente.

Changbin sinaliza que sim com a cabeça e segue o médico. Ao chegar na unidade de terapia intensiva, a cama do irmão está atrás de algumas cortinas, o que já lhe causa uma angústia derramando algumas lágrimas por seu rosto. O doutor então abre a cortina expondo o jovem bastante pálido, o rosto possui hematomas arroxeados, um olho inchado e lábio cortado. Um tubo auxilia na respiração mecânica do menino que não consegue faze-la sozinho. A visão faz com que Changbin desabe. Soluçando as lágrimas não são contidas, ele acaricia o rosto do irmão implorando para que volte, para que não os deixe. O médico, mais atrás, proporciona alguns minutos a mais do permitido para que Changbin consiga ficar ao lado do irmãozinho, mas logo precisa retirar o rapaz. Ele acolhe a dor do menino e lhe ampara até que chegue ao quarto onde o caçula está internado.

Chegando no quarto ele abraça forte o irmão e chora em seus braços. Jeongin não questiona mais nada, apenas chora junto e acolhe o irmão entendendo que o estado de saúde de Jisung é preocupante. 

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