Capítulo 12

106 25 9
                                    

O CEO sai do quarto e encontra Changbin sentado acompanhado dos dois seguranças que ficam em seus postos na porta para controle do fluxo de pessoas.

– Changbin, uma palavrinha. – Ele chama o guarda-costas para um canto mais isolado com mais privacidade.

– Senhor, eu sin...

– Ele é difícil, eu sei, mas preciso que você seja mais atento. – O CEO massageia o cenho na tentativa de aliviar a tensão. – Isso não pode acontecer, compreende? – Ele assume um olhar voraz e tom de voz firme.

– Sim, senhor.

Ótimo. Já solicitei que trouxessem as malas de vocês para meu jatinho, voltamos essa noite.

O CEO segue seu caminho deixando Changbin envolto em seus pensamentos. Seu conflito interno quase lhe impede de retornar e entrar novamente no quarto ocupado pelo modelo e mais dois seguranças, mas precisa manter suas atitudes profissionais e adentra ao quarto sem a menor confiança de seus atos.

Ao adentrar ao recinto ele encontra o modelo, novamente, adormecido. Com uma expressão serena completamente penetrante, Changbin vive o conflito interno de seus sentimentos. Os hematomas lhe causam angústia, a pele clara do peito do modelo esta manchada com marcas de mãos que, agressivamente, estiveram ali sem serem convidadas, a imagem revira seu estomago. Algo nele mudou, os sentimentos em relação ao rapaz são fortes, seu coração acelera só de pensar em seu sofrimento. Mesmo enfrentando o desprezo do modelo que agora dorme tranquilo em frente a si, Changbin ainda vivencia a necessidade de toma-lo em seus braços, de acolher sua dor como dele.

Após algumas horas o sono lhe toma e, adormecido em uma poltrona, o guarda costas permanece atento, mesmo que inconscientemente, ao entorno. Quando escuta passos seu alerta lhe acorda com um salto, mas a visita era do CEO que lhes convoca ao jatinho pra seu retorno a Coréia. Porém a cama vazia alarma o guarda costas, ainda sonolento.

O modelo sai do banheiro com outras vestes, uma calça de couro preta, tênis all star tratorado cano alto cor preta e uma camisa off white com dois botões abertos perto do pescoço. Seus cabelos parcialmente amarrados em um coque deixam seus olhos em evidência, a boca permanece com um pequeno curativo branco que contém um corte leve no canto esquerdo. Changbin esquece a presença dos demais por alguns segundos concentrando-se no rapaz, este que lhe encara de forma levemente confusa demonstrando não entender seu choque.

– Que foi? achou que eu já tinha morrido? – Hyunjin traz aquele velho e conhecido ar de deboche. – Não se livraria de mim tão rápido, segurança de Polly.

Changbin sorri leve e ladino, ficando mais tranquilo ao perceber que o modelo não o está mais ignorando e já aparenta melhora evidente. A interação dos dois faz com que o CEO revire os olhos e conduza ambos ao jatinho, acreditando que essa seja a forma natural de tratamento entre os dois, sem ao menos perceber os olhares singelos trocados por ambos, que mudaram o tom agora.

Hyunjin ainda apresenta uma leve decepção e distanciamento no tratamento, porém o guarda costas não se importa, ele sabe que terá que lutar para voltar a aproximar-se do modelo, mas fica feliz em vê-lo saudável e conversando consigo, isso pode lhe proporcionar a margem que precisa para uma reaproximação.

Ao retornarem à mansão tudo parece normal, com exceção do cuidado excessivo de Bang Chan, que aparenta real preocupação com o modelo.

– Chan, já disse que estou bem. – Hyunjin fala com suavidade.

– Certo. Se precisar de qualquer coisa, qualquer que seja, sabe onde me encontrar. Já desmarquei seus compromissos da semana.

Changbin permanece ao lado do modelo em silêncio.

– E você... – O CEO agora direciona seu olhar sério para o guarda-costas. – Não o deixe sozinho. Compreendeu?

– Sim, senhor.

Certo de estar tudo conforme o normal Chan despede-se com afeto e preocupação do modelo. Ambos trocam olhares de afeto, como dois grandes amigos, e se despedem com um abraço caloroso. Ao ouvir a partida do carro o modelo, sem ao menos se virar para o guarda-costas, dispara:

– Vou aos meus aposentos, é melhor que não me siga.

– Mas... Hyunjin...

– Hyunjin? – O modelo fala virando-se para ele com um ar prepotente. – Cadê sua educação, segurança?

– Perdão? – Changbin surpreende-se.

– Perdoo, agora coloque-se no seu lugar. – Ele se aproxima ameaçador. – Você é só um empregadinho, então haja como tal.

Changbin compreende o rancor do rapaz e baixa o olhar aceitando o tratamento, porém com um peso gigantesco no peito.

– Certo... senhor.

– Ótimo, coloque-se no seu lugar de empregado e eu agirei como o 'produto' que sou. – Fala com arrogância recebendo o olhar triste de Changbin.

Hyunjin sobe as escadas sem olhar para traz, direcionando-se a seu cômodo de conforto da casa, sem ser acompanhado pelo guarda-costas que permanece no último degrau sentado repensando seus atos e como fez o modelo se sentir após todo o ocorrido. Changbin compreende completamente sua frustração e sente-se culpado por relembrar ao modelo como é sentir-se um produto, em seu peito sente um peso gigantesco, algo que nunca havia sentido por alguém antes.

Hyunjin entra em seu atelier, solitário como de costume, e logo trata de começar uma nova pintura. Duas, três, quatro tentativas de pintura, tudo lhe frustra, seu subconsciente lhe prende aquele jantar, a companhia do guarda costas. Com lágrimas nos olhos, em um acesso de fúria, joga a pintura e suas tintas no chão com ódio de seus sentimentos e descontrole. Hyunjin nunca em sua vida ousou sentir algo por qualquer pessoa que seja, sabendo que todos são passageiros, que ninguém realmente o sente, ninguém lhe considera alguém e sim algo, um produto moldado para servir e aparecer. Uma bela imagem de um hospedeiro, uma casca, alguém vazio, sentir algo sem conseguir controlar lhe apavora. Encolhido no chão envolto à lágrimas, as batidas na porta mesclam com os soluções de seu choro.

Relutante do outro lado da porta, o guarda costas que invade seus pensamentos reconsidera bater novamente à porta após ouvir os soluços do modelo. Sem saber o que falar, a postura profissional toma lugar e mascara a verdadeira essência de seus sentimentos.

– Senhor. – Changbin bate mais uma vez. – Senhor, está tudo bem?

Após alguns segundos de silêncio de ambos os lados a porta se abre dando espaço ao modelo, de olhos inchados, com manchas de tintas espalhadas pela roupa.

– O que você quer? – Hyunjin assume uma postura calma, séria e distante.

– Senhor, ouvi barulhos e fiquei... preocupado.

– Como pode ver. – Ele abre os braços teatralmente. – Estou ótimo.

Hyunjin então abre espaço entre os dois e se direciona ao seu quarto sem olha para trás. Ao entrar em seu quarto e fechar a porta, deixando o guarda costas para trás, o rapaz entra em sua banheira para esquecer os últimos acontecimentos.

Em contrapartida, Changbin não move um músculo desde o abandono pelo modelo, permanecendo olhando-o ao longe em frente à sala misteriosa que agora, diante de si, encontra-se entreaberta. Ele reluta em ir embora, respira fundo e dá mais um passo, mas a curiosidade lhe vence e abre a porta. Então encontra uma sala de pinturas, com algumas molduras em branco, umas cobertas, muita tinta, logo entende que o modelo possui outros talentos, ao deparar-se com quadros de paisagens, flores e afins.

Sua admiração pelo modelo se intensifica, o talento e sentimentalismo expressado na tela só ficam mais evidentes, porém depois dos últimos acontecimentos que lhe vem à cabeça, seu peito é tomado por tristeza e o sentimento de que não voltarão a se reaproximar. 

PassarelaOnde histórias criam vida. Descubra agora