16 - Pontinho amarelo.

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🖇 | Boa leitura!

V I N N I E 

Celine fica em silêncio em determinado momento daquela noite, o que não é nada comum quando ela e a minha mãe estão no mesmo recinto. Pergunto-me se algo aconteceu no tempo que eu saí para ir ao banheiro e fico preocupado quando noto um ar de tristeza no rosto dela.

Quando saímos do hospital, Celine se encolhe em sua jaqueta jeans por causa do vento frio. Não está gélido e o clima segue o fio da estação mais quente, porém está um pouco tarde e costuma ventar mais daquele lado da cidade. Retiro o meu casaco e coloco sobre os ombros dela. Celine sorri fraco para mim a fecha a peça sobre seu corpo, exceto pela barriga, que está se expandindo cada vez mais.

— Tudo bem? — pergunto.

Ela me olha sem erguer tanto a cabeça. Seus olhos estão enormes e brilhantes, a ponta do nariz e as bochechas levemente avermelhados. De repente, acho que ela quer chorar, mas aguardo para me certificar de que não estou enganado.

— Celine... — digo o seu nome com cautela e me aproximo pousando a mão na lateral do seu rosto. — O que houve?

Uma lágrima solitária e silenciosa desce por sua bochecha e eu a limpo com o polegar. Estou preocupado, parece que ela vai desmoronar a qualquer momento. E então Celine fecha os olhos com força e as lágrimas escorrem sem parar. Um soluço escapa dos seus lábios e eu a puxo para um abraço, apoiando meu queixo no topo da sua cabeça enquanto ela enfia o rosto em meu peito. Deixo que ela coloque essa emoção para fora antes de insistir que ela me diga o porquê de estar assim.

Seu choro é falho, não é desesperado, mas reconheço a dor em cada arfada e cada mover dos seus ombros quando uma nova onda de lágrimas vem. Passo as mãos em suas costas, afagando-a carinhosamente. Quero tirar isso dela, mas no momento tudo o que eu posso fazer é continuar segurando-a.

Quando seus soluços param, esquivo a cabeça para olhar em seu rosto. Ela parou de chorar, mas a tristeza ainda está colada em sua expressão. Seguro a sua mão e a guio até um dos bancos que fica na entrada do hospital de frente para o estacionamento. Sentamos lado a lado sem soltar a mão um do outro.

— Quer me contar o que aconteceu? — pergunto.

— Não aconteceu nada. — respira fundo. — Eu só... São só umas coisas que estão acontecendo há muito tempo. Às vezes elas me fazem chorar.

— E você já contou elas para mim?

Celine me olha de relance e balança a cabeça negativamente. Aproximo-me mais, a abraço de lado e ela deita a cabeça em meu peito.

— Eu posso te ajudar. Por favor, me diga.

— Ver você com a sua mãe me fez pensar nos meus pais. Não falo com eles desde que saí de casa há três meses. Parece uma eternidade.

— Você tentou procurá-los?

— Não. As coisas acabaram com um clima estranho entre nós, eu não sabia o que diria se fosse ligar. "Oi, sou eu, a filha com quem vocês mal falam, aquela que vocês não olham mais nos olhos".

— Está com raiva deles?

— Não. E o pior é que eu acho que deveria. — suspira. — Eu deveria ficar puta porque ao invés de me apoiar, eles me viram saindo por aquela porta e decidiram que era problema meu. Eu sei que eu não mereço ser tratada como uma adolescente em apuros, eu sou uma adulta, mas eu também sou filha deles. E eles sempre estiveram lá, sempre me fizeram acreditar que estariam lá. E de repente não há mais essa alternativa.

— O que você realmente quer, Celine?

— Quero que as coisas voltem a ser como eram antes. — se encolhe mais em meu abraço. — Quero poder falar qualquer coisa para eles, sem sentir que estou pisando em ovos. Não quero ser uma estranha.

Beautiful Girl ᵛᶦⁿⁿᶦᵉ ʰᵃᶜᵏᵉʳOnde histórias criam vida. Descubra agora