01 - Você estragou a minha vida.

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🖇 | Boa leitura!

C E L I N E


Ok. Eu posso fazer isso. Eu posso fazer qualquer coisa. E daí que todos estejam me olhando como se eu fosse uma pessoa diferente agora? Continuo sendo eu mesma. Vou levantar na manhã seguinte e vou estar aqui, respirando o mesmo ar que todos, cuidando da minha vida, seguindo em frente. Estou viva. Ainda estou. Tenho responsabilidades maiores para lidar sozinha. Mas ainda sou eu. Ainda sou alguém.

Releio novamente o e-mail enviado pelo hospital informando que eu consegui uma vaga como enfermeira. Me candidatei para aquilo sem saber que brevemente estaria em uma situação que mudaria os meus planos, que me obrigaria a fazer escolhas que eu não queria fazer. Ao lado do notebook sobre a escrivaninha, meu celular ainda está aberto na última mensagem que recebi do James.

Não posso fazer isso.

Eu queria me dar ao luxo de poder escolher fazer isso ou não. Tenho quase certeza de que irão desistir de me contratar quando souberem que estou grávida. E o que eu vou fazer sozinha sem um emprego e com uma criança crescendo dentro de mim, reivindicando o espaço de um corpo que não é dela? Não quero pensar negativo, não quero rejeitar esse bebê. Ele não merece, não pediu para existir e já foi rejeitado pelo pai, não pode ser por mim também. Sou a única que ele tem.

Pisco respirando fundo para evitar de chorar. Me desesperar não vai mudar nada, preciso ser adulta e encarar os fatos. Por isso, quando James me envia uma localização e me pede para ir vê-lo em uma hora, eu aceito mesmo que uma força interior esteja me implorando para lhe dar um gelo. Isso não é sobre nós dois e eu tenho que pensar no que importa, agir como uma adulta e confrontá-lo sobre a responsabilidade que também é dele.

Estou sentada em uma mesa do lado de fora de uma cafeteria quando o vejo se aproximar de mim. Seu rosto está preocupado e ele remexe as mãos ao lado do corpo em uma atitude nervosa. Fazia um mês que não não víamos. A última vez foi desastrosa. Foi quando eu descobri que ele é casado e possui dois filhos pequenos. Meu mundo ruiu junto com todos os sonhos e idealizações do meu futuro ao lado de alguém que eu achava que me amava. Achei que não teria que vê-lo de novo, mas o destino resolveu me maltratar da pior maneira possível.

Não presto tanta atenção quando ele senta na cadeira de frente para mim e começa a falar sobre clínicas de aborto. Não vou fazer isso, mas não estou com paciência nem energia para interrompê-lo ou ao menos para me irritar com sua voz desesperada praticamente me impondo soluções que me fazem sentir descontável. Quando James finalmente para de falar, eu digo uma frase que destrói todo o seu discurso.

— Não vou abortar, não importa o que diga.

— Por que não? Achei que você fosse liberal para essas coisas. — sua voz treme, o medo tomando espaço.

— Apoio que as pessoas escolham o que fazer com suas próprias vidas. Estou escolhendo não abortar.

— Celine, isso é burrice. Você acabou de sair da faculdade, está correndo atrás de um emprego. Quem empregaria uma enfermeira grávida que vai pedir uma licença em pouco tempo de trabalho? Essa criança vai estragar a sua vida.

— Você estragou a minha vida.

Primeiro ele respirou fundo e depois soltou o ar devagar. Quando me olha novamente, há um resquício de desapontamento em sua face.

— O que você quer? — pergunta em um tom de desistência.

— Como assim? — franzo a testa não entendendo se ele está finalmente se comportando como um pai ou tentando barganhar o meu silêncio.

— Quanto quer pra sumir com essa criança?

Não deveria me sentir desapontada, mas foi exatamente a sensação que me atingiu quando ele escolheu a segunda opção. Não que eu quisesse que James fosse o pai do ano e ficasse totalmente feliz com isso. Eu o odeio e quero distância. A questão é que fui a sua amante, poderia acabar com a casinha de bonecas que ele construiu para a esposa, é óbvio que ele quer que eu desapareça. Ter consciência disso me faz sentir mal pelo bebê.

Beautiful Girl ᵛᶦⁿⁿᶦᵉ ʰᵃᶜᵏᵉʳOnde histórias criam vida. Descubra agora