sixteen

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SANZU POV

O motor do carro roncava enquanto eu dirigia pelas ruas de Tóquio, minha mente parcialmente focada no trabalho da Bonten. Desde que Yuzumy começou a cuidar da parte contábil, um peso saiu das minhas costas, permitindo que eu me concentrasse em outras coisas.

Meu celular vibrava insistentemente no painel. Ignorei. Se fosse algo urgente, dariam um jeito de me encontrar.

Assim que cheguei ao escritório, encontrei Yuzumy andando de um lado para o outro, o telefone pressionado contra a orelha. Seu olhar carregava uma inquietação que me fez franzir a testa.

— O que tá acontecendo? Era você que tava me ligando? — perguntei, fechando a porta atrás de mim.

Ela nem olhou para mim.

— Não — respondeu, a voz tensa, sem parar de andar.

— Então o que foi? Tem algo a ver com a Bonten?

Ela hesitou, mordendo o lábio inferior antes de falar:

— Não sei ao certo… Akyra me ligou várias vezes e mandou uma mensagem dizendo que parecia estar sendo seguida.

Um frio subiu pela minha espinha.

— Quantas vezes ela ligou?

— Vinte. — Seu olhar encontrou o meu, carregado de preocupação.

Aquilo não era normal. Peguei o celular de sua mão sem dizer nada e marchei até a sala onde Rindou estava, mexendo no computador.

— Preciso que rastreie esse número. Pra ontem.

Rindou levantou a sobrancelha, pegou o celular e começou a digitar.

— O que rolou?

— A amiga da Yuzumy ligou vinte vezes e agora sumiu. Na última mensagem, disse que estava sendo seguida.

Ele bufou, ainda concentrado na tela.

— Vai ver ela só se enfiou em encrenca e tá pedindo socorro.

— Não. Akyra não se mete em problemas, ela é praticamente uma pessoa morta.

Rindou parou o que estava fazendo e me encarou.

— Morta? Como assim?

Revirei os olhos.

— Quero dizer que ela não tem energia nem pra falar, quanto mais pra criar problema.

Meu celular vibrou de novo. Yaiko. Olhei para Yuzumy, que percebeu a chamada e arregalou os olhos.

— Foi na mesma hora que Akyra me ligou… — murmurou.

Rindou digitou mais algumas coisas e então me devolveu o celular.

— Consegui. Ela tá perto do centro, numa rua fechada. Com certeza se meteu em merda, Sanzu. Mas isso não é problema seu.

Nem perdi tempo respondendo. Já estava saindo da sala quando vi Yuzumy de pé, cabelo bagunçado, expressão aflita.

— Consegui a localização. Vou até lá.

— Eu vou com você. — Sua voz estava firme, decidida.

— Não. Você sabe que é perigoso.

Mas ela simplesmente saiu andando. Bufei e a segui até a garagem, onde ela pegou a primeira chave de moto que viu e a ligou.

— O que você pensa que tá fazendo?

Ela colocou o capacete e olhou para mim com olhos determinados.

— Se Akyra tá correndo perigo por minha causa, eu vou atrás dela. Com ou sem você.

Ela acelerou. Eu sabia que não conseguiria convencê-la, então fui até meu carro.

Pisei fundo, acelerando até 200km/h. Olhei pelo retrovisor esperando vê-la longe, mas para minha surpresa, Yuzumy estava colada em mim, pilotando com precisão absurda.

Suspirei. Ela não ia desistir.

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Quando chegamos, bati o olho no carro de Yaiko. Algo estava errado. Estacionei de qualquer jeito, peguei a arma e avancei. Yuzumy desceu da moto e veio atrás de mim.

Me aproximei do carro, a arma em punho. Yuzumy olhava ao redor, tensa.

Quando cheguei à janela do motorista, senti o cheiro metálico de sangue antes mesmo de ver. Yaiko estava com o rosto apoiado no volante, uma poça vermelha se formando abaixo dele.

Yuzumy prendeu a respiração.

Afastei o rosto dele com a arma. Um tiro no meio da testa.

— Puta que pariu… — murmurei.

— O que aconteceu aqui? Cadê a Akyra?! — Yuzumy girava a cabeça, procurando freneticamente.

Meu maxilar travou. Peguei o celular e disquei para Kakucho. Ele atendeu rápido.

— O que foi?

— Fudeu tudo. Mataram o motorista da amiga da Yuzumy e ela sumiu.

Silêncio por um segundo.

— Você tá dizendo que pegaram a garota?

— Sim. E eu não faço ideia de onde ela tá. Tô te mandando a localização.

— Já tô indo.

Desliguei e me virei. Yuzumy estava encostada no carro, os olhos cheios de lágrimas, o rosto contraído em desespero.

— A gente vai resolver isso. Vamos achar a Akyra.

Ela apertou os punhos.

— Eu quero ela viva. Isso tá acontecendo por minha causa. Eu sabia dos riscos…

Sua voz falhou. Ela secou os olhos rapidamente.

— Vamos achá-la viva — repeti, firme.

O som de um motor se aproximando chamou minha atenção. Kakucho desceu da moto e veio até nós.

— Algum sinal dela?

— Nada. — Cruzei os braços. — Parece que foi sequestro.

Ele olhou para Yuzumy, que ainda estava encostada no carro, tremendo levemente.

— Como a Haru tá?

— Preocupada.

Kakucho caminhou até ela devagar.

Levantei a sobrancelha.

Ele parou ao lado dela, colocou uma mão firme em seu ombro e disse:

— Vai dar tudo certo. Akyra vai estar bem.

Yuzumy olhou para ele, os olhos marejados, mas não disse nada. Apenas assentiu.

Eu apertei a mandíbula.

Isso não ia ficar assim.

Alguém ia pagar caro por isso.


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