Capítulo 2

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Acordei com a luz do sol nos meus olhos. Deus, tudo estava doendo, até parece que corri uma maratona. Foi com esse pensamento que os acontecimentos da noite passada surgiram na minha cabeça. Olhei ao redor e percebi que estava de volta no meu apartamento. Então realmente foi um sonho, pensei tristemente. Bom, pelo menos eu consegui salvar todas as pessoas que morreriam naquela noite. Com o bônus de deixar Severus Snape com os olhos arregalados e sem palavras. Rindo triunfantemente, comecei a me arrumar para o trabalho.

Cheguei na delegacia praticamente saltitando. Tudo parecia mais colorido, a máquina de café não conseguiu me irritar por não funcionar, eu lidei com inúmeros Boletins de Ocorrência, que geralmente são um saco, com um sorriso brilhante e até quando meu chefe me entregou ainda mais papelada eu aceitei sem realmente me estressar. O que um sonho não pode fazer, nada mais faz.

- Detetive Signac – uma voz rouca e arranhada, que parecia nunca ter conhecido um copo d'água, chamou meu nome. Conti o suspiro que lutava para sair. Não, Camila. Não deixe esse babaca acabar com seu bom humor tão cedo pela manhã.

- Sim, Detetive Paine? – Respondi com uma voz incomumente doce.

- Oh, parece que ela está de bom humor – comentou sarcasticamente, alto demais para meu gosto, chamou atenção de alguns policiais que estavam fazendo um relatório com um casal que parecia ter brigado. Deus, me dê forças para não estrangular esse homem.

- Diga logo o que quer, Grayson – falei, dessa vez minha voz continha a acidez habitual direcionada a ele.

- Calma aí, pequena tigresa – Porra, ele e esse apelido estúpido me tiram do sério. – Apenas queria pedir para dar uma olhada nesse caso – diz levantando as mãos para o alto em rendição, para depois entregar um arquivo muito fino para ser considerado um caso.

- Do que se trata? – Pergunto, abrindo a pasta amarelada padrão.

Nela havia a ficha da vítima. Uma mulher de vinte e dois anos que foi encontrada morta no laboratório de sua faculdade sendo a causa da morte uma ingestão de ácido fluorídrico. Incomum, mas pelo que a perícia escreveu no relatório da página seguinte ela mesma ingeriu o líquido. Suicídio, então. O resto do arquivo consistia em algumas fotos da cena, nada que chame atenção, ou seja nenhum grande mistério para desvendar.

- Por que você precisa que eu veja um caso já resolvido? – Questionei, jogando a pasta em cima da minha mesa e me recostando no encosto da cadeira para olhar para o detetive idiota a minha frente.

- Pensei que fosse uma boa detetive... – meu maxilar trincou pela irritação que começava a borbulhar – Ainda faltam os depoimentos para que o caso seja fechado.

- E?

- Preciso que faça isso por mim, estou muito ocupado – disse com a maior cara de pau. Olhei para a pilha de papelada que eu precisava entregar e depois voltei meu olhar para ele.

- Oh, parece que não sou só eu a ser um detetive ruim, afinal você não quer resolver esse pequeno detalhe enquanto eu estou com uma quantidade desproporcional de relatórios para entregar. Não é, pequena cobra? – Ah, como eu adoro ver a veia de sua testa pulsar de raiva contida toda vez que o provoco com esse apelido. Um pequeno detalhe que eu adoro explorar sobre Grayson Paine, ele odeia ser chamado de qualquer coisa que o diminua, por menor que seja – Agora, seja um querido e suma da minha frente, sim? – Com essa dispensa ele se desencostou da minha mesa com uma carranca, pegou seu casaco e saiu da delegacia. Ele é tão fácil de irritar que chega a ser entediante.

Quando virei para voltar ao que estava fazendo no computador, vi minha amiga e parceira, Kristina, com um copo de café sobre a boca tentando e falhando miseravelmente em esconder sua risada. Eu pisquei para ela como as cumplices que éramos e continuei a digitar um relatório sobre um bêbado que estava causando problemas em um parque na tarde de ontem e precisou ser detido temporariamente até ficar sóbrio. Kristina era minha única âncora de sanidade nesse hospício. Se não fosse por ela eu tenho certeza que essa delegacia já estaria em ruínas se dependesse de mim. Eu escolhi minha profissão por precisar ser muito observadora e astuta, mas as pessoas nela realmente não tornam minha vida mais fácil.

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