Prológo

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1949
Bangkok

Os olhos castanhos do meu inimigo, me encaravam do outro lado da mesa de bilhar, como um astro reluzente, detinham grande poder de atração.

Aquele era um homem bonito, muito além do que um rapaz que cresceu nos Estados Unidos podia imaginar ser um homem de seu país natal. Alto, de olhos puxados e negros, cabelo preto que quase tocava seus olhos, um terno preto perfeitamente colocado, os sapatos que brilhavam tanto quanto uma bola de discoteca, as mãos fortes e grandes apertando o taco entre os dedos.

—Escolha uma. —Ele disse de repente com a voz grave, com seus olhos em mim, apenas em mim.

Senti meu estômago se encher de borboletas e eu não pude sequer responder algo claro, afinal me faltaram palavras naquele momento, o frio estranho que subiu por meu estômago persistiu selando meus lábios.

—Vamos, escolha uma!

Sem poder proferir nenhuma palavra, eu apontei para a bola, a penúltima das ímpares, em um local quase impossível, no meio de duas pares, sabendo que ao bater em uma par, ele perderia a rodada, o homem arqueou a sobrancelha, me observando com seus olhos negros puxados.

Ele sabia que era uma tarefa difícil, pude ler em seus olhos a hesitação em ganhar sob mim esse desafio. Seus longos dedos encostaram o taco em pé ao lado da mesa e suas mãos alisaram cuidadosamente o terno escuro. Acompanhei sua movimentação lenta como uma cobra hipnotizada.

Aquele homem era um acontecimento. A longa franja negra foi jogada para a trás com um movimento agora rápido de sua mão. E então ele voltou a segurar o taco.

—E o que eu ganho com isso?

Não pude deixar de responder, sentia aquela frase pulando de meus lábios.

—O que você deseja ganhar Phi?

O homem sorriu, se eu dissesse que foi um sorriso angelical, entenda que foi como um sorriso de Samael.

—Oh! Ele perguntou algo assim para Off Jumpol, o braço forte de Tay abraçaram os meus ombros. —Corajoso!

A essa altura, eu já estava subitamente perdido, dentro do antro do meu inimigo, imerso em um mar denso e de profundo azul, sem saber nadar, sem conseguir respirar.

—Tay, nos de licença. —O poderoso líder do partido comunista tailandês disse, antes que eu pudesse notar, a sala estava vazia, éramos apenas eu e meu alvo, naquele silêncio sepulcral.

Ainda naquela luta silenciosa.

Aqueles olhos curiosos, certamente leriam meus mais profundos receios, mas nada me prepararia para o momento em que ele colocaria sobre a mesa meu silencioso desejo.

—Eu quero você Gun Atthaphan, por uma noite.

Liberté • OffGunOnde histórias criam vida. Descubra agora