Por Gun
Eu ainda me lembrava como caminhei pelos corredores da sede onde fui treinado, quando cheguei, de cabeça erguida. As vezes se eu fechava os olhos eu podia me lembrar.
A forma como os militares me guiaram pelos corredores, eu sabia muito bem que aquela era a última vez que eu veria o mármore claro, as paredes em gesso, toda aquela grandiosidade norte americana.
Eu sabia, que o meu caminho pelos corredores até a minha cela, era a última vez que eu andaria livremente com minhas próprias pernas, então eu aproveitei cada segundo ali.
Mas agora, quando a mão quente estapeou mais uma vez o meu rosto com força, fazendo o sangue esguichar pelos meus lábios para o chão sujo de urina e fétido, eu não queria me lembrar daquele último trajeto orgulhoso de um zumbi que aceitou seu destino.
Mesmo que eu tivesse orgulhosamente caminhado até a cela suja, úmida e escura.
Eu não queria aquela lembrança agora.
A mão puxou meu cabelo com força erguendo meu rosto na direção do general.
Talvez, as pessoas ali imaginariam que eu queria pensar então nas últimas lembranças de mamãe, ja que sua ausência, minha saudade e indignação pela sua morte me levou até aquele momento.
Mas também não era isso, não era sua lembrança cuidando de Pim e de mim, nossos chás da tarde, nossos momentos ouvindo as piadas e novelas no rádio, os livros em que dividimos tantas histórias e nem quando ela me ensinou a pintura e escultura.
Mamãe, eu te amo, não se ressinta com isso.
Na verdade agora, nesse instante em que a lâmina da adaga do general corta a pele do meu couro cabeludo, quando eu sinto o sangue quente e abundante escorrer por meu rosto, eu só consigo realmente pensar em algo que eu nunca deveria ter pensado.
Aqueles olhos puxados escuros, como a sua superioridade sempre constante se tornaram uma fotografia angustiada no final.
Quando ele me pediu para ir com ele.
Quando ele me chamou de Ter.
Quando ele abriu aquele quarto e me mostrou toda a minha vida de mentiras, mas mesmo sabendo que eu, estava ali para matá-lo. Ele ousou confiar em mim.
Sim, o camarada Off Jumpol era um maluco.
Do tipo mais insano.
Khun Jumpol, era a pessoa que pisava naquela terra, capaz de ousadamente me fazer esquecer meu nome, minha retaliação, minha vingança.
O sabor de sua boca, angustiada e afoita. A forma como ele não conseguia ver que eu sabia de tudo, que eu estava envolvendo ele em uma teia perigosa.
Como mesmo ao descobrir, ele ainda ousou me pedir para ir com ele.
Mesmo sabendo que eu não enganei apenas ele duas vezes, mas também o exército norte americano.
—Seu maldito mentiroso! —A lâmina caiu no chão por fim, quando ele arrancou parte do meu cabelo de uma só vez, fazendo meu arquejo alto finalmente soar. —Se eu pudesse! Arrancaria cada mísero centímetro da sua pele com minhas unhas!
Eu ri alto para ele, sentindo o sangue abundante ainda descer pelo meu rosto.
Mesmo que ele tenha arrancado uma pequena parcela do meu couro cabeludo, aquela região era vascularizada o suficiente para o sangramento ativo ser assustador.
—Você agora mostrou para aqueles malditos comunistas todos os nossos segredos!
—Sim! —Eu respondi, apenas para receber outro tapa ardido, que fez minha gengiva sangrar de novo. —Não só isso como alertei a união soviética.
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Liberté • OffGun
FanfictionGun Atthaphan, era filho de um tailandês e uma norte americana, membro do serviço de inteligência dos EUA, ele estava prestes a receber a missão de seus sonhos, voltar a Tailândia e destruir antes de se tornar um problema o PCT (partido comunista ta...