8.

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Os dias que se passaram, foram silenciosos, as longas reuniões que meu inimigo participou em seu escritório pareciam nunca acabar, eu não vi seu rosto em nenhum momento naqueles dias.

Quando a raiva passou, voltei a caminhar pela enorme terra da mansão. Conhecendo os grandes jardins, passei bons tempos sentado diante de uma fonte florida na parte traseira da casa, balançando em um balanço de madeira em quanto concluía a leitura daquele livro.

Nam e eu comíamos juntos em silêncio, eu estava compenetrado em meus pensamentos e ela nos seus próprios.

Tarde da noite de uma sexta feira, terminei de ler o livro e dormi sem sequer notar, minha mente me voltou a um episódio antigo, um sonho do passado.

Eu corria pela rua, sendo seguido por James, quando entrei dentro de um bar no subúrbio da Inglaterra, James arquejava baixinho ao meu lado eu segurava a pistola sentindo minha mão tremer.

—Que porra é essa? —Murmurei baixinho no meu inglês de berço, o homem inglês que me seguia apertou meu braço em um aviso.

Eu precisava forçar um sotaque britânico.

Mas eu nunca fui bom em fingir sotaque. Então eu apenas neguei com a cabeça, seguindo porta a dentro, a batalha que ali tinha acontecido acabou antes de chegarmos, os homens que atacaram as pessoas que ali estavam já haviam ido embora, só sobrara a pilha de cadáveres.

O que me havia chamado a atenção do quarto da pousada, foi o princípio de incêndio.

Alguém queria não só matar aquelas pessoas, mas também fazê-las desaparecerem em cinzas. O fogo começava a consumir o lugar, abaixei a arma a guardando e corri urgentemente para aferir o pulso daqueles homens.

—Veja se você acha alguém vivo. —Falei para meu colega, ele assentiu indo verificar também.

O fogo crescia rapidamente, éramos apenas nós dois ali para uma quantidade assustadora de corpos. A estrutura do prédio começou a ceder, eu tossia baixo tampando o rosto com um lenço, quando meus dedos encontraram uma pulsação lenta.

—Gun vamos sair daqui! —James gritou quando uma viga de madeira caiu próximo ao seu pé.

—Me espere lá fora.

—Eu não posso te deixar aqui sozinho!

—Eu vou sair em breve.

—A gente não deveria sair do quarto cara e se algum conhecido te vê aqui? Sabe o problema que você estaria?

—De qualquer forma, não posso deixar as pessoas morrerem.

—Todos aqui estão mortos.

—Não estão. —Respondi me erguendo e puxando o corpo grande para que se apoiasse em mim. A pessoa desconhecida gemeu baixo. —Me ajude a tirar ele daqui.

—Puta merda! Ele ainda tá vivo?

—Rápido, antes que todos nós morramos.

O barulho da sirene ao longe chamou nossa atenção, nós nos olhamos apavorados.

—Porra a polícia não pode te ver aqui.

—Você acha que alguém me reconheceria ? Eu não sou uma celebridade. Vamos o segure pelo outro braço. —James que balançava os braços apavorado, finalmente tomou alguma consciência e caminhou em nossa direção, nos ajudando a tirar aquele homem dali.

Desviamos das pessoas curiosas e caminhamos nas sombras da noite para o beco não muito longe dali. James e eu colocamos o homem no chão, meu colega tremia ainda angustiado.

—Gun volte para o quarto, eu cuido disso.

—Espera, eu preciso ver se ele está muito ferido.

—Gun! Você não pode ser visto aqui, porra para de bancar o herói.

Ignorei ele, me abaixando do lado do homem ensanguentado, meus dedos abriram o terno preto, toquei o corpo dele procurando algo, minha mão ficou molhada pelo sangue em seu abdômen, arregalei os olhos puxando a camisa preta para cima. Estava ali diante de mim o buraco em que a bala entrou.

—Nessa roupa escura não dava para ver, ele levou um tiro. —Murmurei. Meus olhos se voltaram para meu parceiro apavorados. —Me da a faca.

—O que? Porra o que diabos você vai fazer?

—Rápido porra.

Ele ergueu a faca que eu rapidamente puxei da bainha, minhas mãos não tremiam mais, medi a distância da costela para a ferida com rapidez. Levantei o olhar para avaliar o rosto ensanguentado.

Um par de olhos escuros me encaravam em silêncio. Eu não tinha notado que ele havia aberto os olhos nesse meio tempo.

—O que vai fazer? —A voz cansada e profunda soou baixo em um inglês levemente arrastado. James gemeu ao meu lado, apertando meu braço.

—Porra Gun, ele tá acordado! Merda, merda, merda!

—Pare com isso James, você acha que ele é quem? Uma pessoa importante que vá destruir minha missão? Ele deve ser um gângster. 

—Gun você simplesmente não sabe quem ele é! Vamos deixar isso pra lá, melhor matá-lo.

Virei minha cabeça para encontrar o olhar apavorado de James, eu ia me levantar para socar sua cara, mas uma mão apertou meu braço.

—Saia daqui então. Antes que eu mate você. —Resmunguei, James viu a ameaça clara em meu olhar, rapidamente ele recuou alguns passos, me fazendo voltar a observar o homem diante de mim.

Puxei o lenço que tapava meu rosto em minha mão, o homem continuou me olhando sem demonstrar nenhuma reação, mesmo estando mortalmente ferido, seu olhar em meio ao rosto ensanguentado demonstrava poder.

—Morda isso. —Enfiei em sua boca o lenço, voltei a encarar a ferida, respirei profundamente me focando naquele ambiente de operação a meia luz da lua no chão sujo. Enfiei meus dedos na ferida tateando com rapidez, o homem arquejou apertando meu braço com força. —Pode apertar, isso vai diminuir sua dor.

Meu dedo finalmente tocou no projétil, pude colocar a ponta da faca na ferida abrindo ela o suficiente para que minha outra mão pudesse arrancar a bala para fora.

Eu pude voltar a respirar quando segurei o projétil em baixo da luz do luar. Segui o olhar para o homem que abria os olhos para me encarar, puxei o lenço de sua boca e o apertei em seu abdômen, contendo o sangramento. A mão machucada segurou a minha em cima de sua ferida.

—Obrigado. —Aquele suave murmurar em tailandês me fez arregalar os olhos, antes que eu pudesse fazer qualquer pergunta, ele fechou os olhos.

Arregalei os olhos sentando na cama, minha respiração vindo em lufadas de ar que não podiam suprir meu pulmões. Minha mão foi ao peito, o coração parecia querer sair dali.

—Porra, esse sonho de novo.

Liberté • OffGunOnde histórias criam vida. Descubra agora