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Por Off Jumpol

Meus dedos corriam pela pele alva, das costas dele, até sua bunda redonda, como se fossem seu dono, como se ele me pertencesse. Os olhos redondos me olhavam com sua bochecha encostada no colchão, a franja espalhada pelo seu rosto corado, a boca semi aberta em quanto ele buscava respirar.

Ele me aguardava avidamente, seus olhos queimavam em chamas altas o desejo era palpável e tornava a aura do quarto em um tom de bordô.

Mas tudo o que eu podia fazer naquele instante, era guardar aquela imagem como uma obra de arte única em um museu, dentro de um vidro, a distância do toque, onde vários seguranças impediam de você se aproximar, as cores vibrantes te atraindo como um ímã. Você sente que deveria tocar na superfície da tela, sente que só assim ela se tornará real, só assim sairá do campo das ideias e parecerá pertencer ao mesmo mundo que você.

Era essa a sensação que eu tinha com as pinturas nos museus em Londres, principalmente depois daquilo.

Abri os olhos, e percebi que não estava mais dentro daquele inferno, as chamas haviam desaparecido, tudo o que havia era o céu noturno estrelado, a dor agonizante que se espalhava pela minha barriga, chamou a minha atenção de repente. Percebendo o quanto meu corpo parecia fraco, movi a cabeça minimamente para encontrar um homem pequeno com o rosto tapado por um tecido, discutindo com outro em inglês.

O tema da discussão era sobre salvar a minha infeliz vida.

Aquela pessoa que eu nunca havia visto na vida, ameaçou o outro para me salvar, essa atitude fez meu coração estremecer.

Mas nada me prepararia pro momento em que nossos olhos se cruzaram. Minha alma parecia conhecer a dele, então ele libertou seu rosto e eu pude ver a beleza incomparável de um desconhecido, que arriscava algo grande para me salvar.

—Off, você percebe que está arriscando a sua vida? —Meu braço direito perguntou em quanto eu manipulava a escultura de gesso branco. —A troco de que? Nunca nos livraremos da monarquia.

—Você encontrou ele? —Mudei de assunto avaliando o rosto angelical que se formava a partir das minhas mãos.

—O seu anjo guardião? Não. Talvez ele nem exista, pode ser tudo fruto da sua imaginação.

Eu ri baixo, meus olhos colados no rosto que eu vi por poucos minutos. Mas decorei cada mínimo traço. E mesmo que ele não fosse real, nada chegaria perto da sensação que aquele olhar preocupado causava em meu coração.

—Eu tenho as informações. —Tay murmurou entrando no meu escritório. A esse ponto eu estava de volta a solo tailandês. Tay desviou do busto a princípio. Mas de repente parou encarando o rosto da minha esperança. —Mas acredite, você não vai gostar nada do que eu tenho a te dizer.

—Se ele existe nesse mundo, não existe nada que possa me tornar infeliz.

Tay sorriu amarelo, me encarando com remorço.

—O seu salvador, é um soldado norte americano. Gun Atthaphan.

Fechei os olhos por um breve instante, minha respiração sequer alterou, mas meu coração acelerou.

—Ele estava em Londres a treinamento, ele está treinando para uma missão importante.

—Qual seria essa missão? —Era uma pergunta retórica. No fundo eu sabia.

—É matar você.

Ri sem humor, abrindo os olhos para avaliar meu amigo. Eu sempre soube que podia morrer nas mãos de alguém do exército norte americano. A esse ponto minha vida causava problema para muita gente, eu era uma dor de cabeça a pedra no sapato de muitos.

—Por sorte ele não sabia que era você naquela noite, se não, você nem estaria aqui. —Tay continuou, desviei meu olhar para o papel em que escrevia. —Eu disse para você não ir naquele encontro, tem noção do risco que passou? Você estava na mão de um kamikaze norte americanos.

—A missão dele é me matar ou morrer tentando. Que irônico.

—Sim, ele está sendo treinado para não dar valor nenhuma a própria vida a cima da missão. Você é a missão dele.

Não disse mais nada, voltei a redigir o texto. Tay se aproximou da minha mesa.

—Então, devo mandar alguém para acabar com isso antes que comece?

—Não ouse tocar nele.

Silêncio, Tay puxou a caneta da minha mão, continuei encarando o papel ignorando sua perturbação momentânea.

—Você só pode estar brincando comigo!

—Se você matá-lo, os Estados Unidos vai treinar outro pra essa mesma posição. Você deveria confiar um pouco em mim. Seja lá o que ele tente fazer, ele não vai conseguir.

Um filme passou pelos meus olhos, desde o momento em que nossos olhares se cruzaram pela segunda vez nessa vida. Eu não me surpreendi que ele não me reconheceu, afinal naquele dia além da poeira da fumaça meu rosto estava ensanguentado.

Mas a atração instantânea, foi real. Todos aqueles sentimentos confusos e tortuosos que eu escondi esses anos, eles eram verdadeiros. Eu não entendi o por que, até ver seu rosto novamente. 

Aquele rosto delicado que agora me avaliava deitado diante de mim. Meu mundo de repente pareceu girar em torno dele. Orbitar como ao redor de uma estrela.

Eu tinha que me livrar dele, antes que tudo se tornasse mais perigoso.

Seu gemido alto tomou o ambiente quando me empurrei dentro de seu centro quente e apertado, me curvei o suficiente para que meu peito tocasse suas costas. Sua pele queimava na minha, ele semicerrou os olhos por um instante, antes de voltar a me olhar com nuvens em seu olhar.

—Não feche os olhos. —Pedi novamente, minha voz saindo arrastada, eu estava todo dentro de seu corpo pequeno, essa era a sensação de tocar o paraíso. Estar dentro dele, ver as reações do seu corpo a mim.

Eu esperei anos por essa dádiva.

—Certo. —Ele murmurou em meio a um gemido, minha mão apertou seu quadril, o trazendo para mais perto de mim, nossos corpos estavam oficialmente unidos em um só. Eu desejei por um instante que, toda a história que começaria a partir desse dia, tivesse um final feliz.

Um final em que nenhum de nós se deitaria eternamente em uma caixa de madeira sete palmos a baixo da terra.

Essa era a minha mais profunda ilusão.

E eu queria viver nela por um instante, pelo instante em que eu provaria dos prazeres do seu corpo, em que guardaríamos segredos mortais um do outro, em que silenciosamente desejaríamos que a outra pessoa estivesse morta.

Mas mesmo assim nós nos renderíamos a esse sentimento silencioso, de desejo.

Liberté • OffGunOnde histórias criam vida. Descubra agora