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Virei na cama grande, percebendo que estava sozinho. Abri os olhos para o sol da manhã e me sentei em um pulo.

Um papel dobrado ao meu lado me chamou a atenção.

Li o conteúdo suspirando profundamente.

"Tenho compromissos pela manhã, te vejo mais tarde".

Me vesti pela primeira vez com um dos ternos fantasmagóricos do closet, em um tom profundo de bordô, desci as escadas procurando alguém, a casa estava oficialmente vazia.

A cozinha limpa, eu respirei fundo grato por não me deparar com um homem morto pela manhã.

Coloquei uma boina saindo para o jardim, no exato momento em que um conhecido carro parou na minha frente. Assisti Nam descer sozinha e sorrir para mim.

—Está bem? Soube do que aconteceu ontem.

—Vocês precisam de seguranças melhores. —Respondi, segurando o pacote pesado que estava em sua mão, a acompanhei porta a dentro. —De preferência com rapidez.

—Não sabíamos que você era bom em luta...

Deixei o pacote na mesa de jantar em silêncio, me voltando para seu rosto divertido. Como se me escondesse algo óbvio.

—Hoje a noite, temos a reunião com o pessoal, para falarmos justamente da segurança.

—Bom.

—Off quer que você vá.

Fiquei parado observando seu sorriso malicioso, notando que eu pisava em espinhos agora. E provavelmente eu estava um passo de ser espetado.

—Bom, você tem a tarde para se preparar. Será apresentado oficialmente.

O que oficialmente queria dizer? Eu decidi ignorar isso e passar o resto daquele dia no meu quarto encarando o livro em minhas mãos.

O tempo que eu passava longe de Jumpol sempre parecia correr apressado, estava recostado na cama girando o bilhete nas mãos quando o homem entrou no meu quarto com uma breve batida.

—Esta na hora. —Ele anunciou sem sequer me dar um boa tarde. Também não fui muito receptivo, apenas o segui porta a fora.

Era final da tarde quando o carro parou diante de um bar, segui o casal a minha frente para dentro do local, Nam caminhou para um lado e eu e Jumpol fomos para outro.

Ele abriu uma grande porta que dava para um ambiente cheio da fumaça de charuto, homens conversando e bebendo, como um cartel de drogas, um centro de máfia.

No meio do grande salão uma mesa de bilhar pareceu brilhar sobre meus olhos. Sorri a avaliando, o homem ao meu lado pegou minha mão e me puxou para a mesa.

—Gosta de sinuca? —Ele perguntou. Antes que eu respondesse, ele se voltou para aquele montante de homens que nos observavam curiosos e começou uma longa lista de apresentações.

Como eu era o mais novo ali, me lembrei de fazer o wai para cada um dos homens ao qual fui apresentado.

Sentei em uma mesa sozinho, observando o meu inimigo conversando e fumando um charuto, quando uma presença chamou minha atenção.

—Soube do que houve, me desculpe pela minha ausência. Sou o Tay, braço direito do Jumpol.

—Você estava fazendo um trabalho, não precisa se desculpar não sou o chefe.

—Mas isso é uma novidade, um cientista que sabe lutar.

Balancei a cabeça para ele, ainda encarando Off que agora segurava um taco de sinuca.

—Mas eu fico feliz que você saiba, afinal salvou a vida dele. —A mão forte apertou meu ombro quando ele se levantou, desviei o olhar para Tay que sorria alegremente pra mim. —Se enturme. —Então ele seguiu em direção a mesa.

Bufei comigo mesmo, eventos sociais não eram meu forte.

Os olhos castanhos do meu inimigo, me encaravam do outro lado da mesa de bilhar, como um astro reluzente, detinham grande poder de atração.

Aquele era um homem bonito, muito além do que um rapaz que cresceu nos Estados Unidos podia imaginar ser um homem de seu país natal. Alto, de olhos puxados e negros, cabelo preto que quase tocava seus olhos, um terno preto perfeitamente colocado, os sapatos que brilhavam tanto quanto uma bola de discoteca, as mãos fortes e grandes apertando o taco entre os dedos.

—Escolha uma. —Ele disse de repente com a voz grave, com seus olhos em mim, apenas em mim.

Senti meu estômago se encher de borboletas e eu não pude sequer responder algo claro, afinal me faltaram palavras naquele momento, o frio estranho que subiu por meu estômago persistiu selando meus lábios.

—Vamos, escolha uma!

Sem poder proferir nenhuma palavra, eu apontei para a bola, a penúltima das ímpares, em um local quase impossível, no meio de duas pares, sabendo que ao bater em uma par, ele perderia a rodada, o homem arqueou a sobrancelha, me observando com seus olhos negros puxados.

Ele sabia que era uma tarefa difícil, pude ler em seus olhos a hesitação em ganhar sob mim esse desafio. Seus longos dedos encostaram o taco em pé ao lado da mesa e suas mãos alisaram cuidadosamente o terno escuro.  Acompanhei sua movimentação lenta como uma cobra hipnotizada.

Aquele homem era um acontecimento. A longa franja negra foi jogada para a trás com um movimento agora rápido de sua mão. E então ele voltou a segurar o taco.

—E o que eu ganho com isso?

Não pude deixar de responder, sentia aquela frase pulando de meus lábios.

—O que você deseja ganhar Phi?

O homem sorriu, se eu dissesse que foi um sorriso angelical, entenda que foi como um sorriso de Samael.

—Oh! Ele perguntou algo assim para Off Jumpol, o braço forte de Tay abraçaram os meus ombros. —Corajoso!

A essa altura, eu já estava subitamente perdido, dentro do antro do meu inimigo, imerso em um mar denso e de profundo azul, sem saber nadar, sem conseguir respirar.

—Tay, nos de licença. —O poderoso líder do partido comunista tailandês disse, antes que eu pudesse notar, a sala estava vazia, éramos apenas eu e meu alvo, naquele silêncio sepulcral.

Ainda naquela luta silenciosa.

Aqueles olhos curiosos, certamente leriam meus mais profundos receios, mas nada me prepararia para o momento em que ele colocaria sobre a mesa meu silencioso desejo.

—Eu quero você Gun Atthaphan, por uma noite.

Senti minhas pernas se tornarem inúteis com o seu olhar decidido sobre mim. Meu rosto passava uma tranquilidade inexistente. Caminhei lentamente em direção a parede, puxando um taco pela mão.

Voltei meu rosto para meu inimigo, que ainda esperava minha resposta.

—Se eu encaçapar essa bola, posso te pedir qualquer coisa também? —Eu questionei. Jumpol sorriu maliciosamente para mim, assentiu compenetrado. —Então temos um trato.

Liberté • OffGunOnde histórias criam vida. Descubra agora