Capítulo 34

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⚠️ Alerta de Gatilho ⚠️

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Pov Maraisa Pereira

Acho que já haviam se passado uns dez minutos desde que sentei em frente à Marília, que estava sozinha hoje, e ainda não havia emitido som algum. Nenhuma de nós conseguia sequer encarar uma a outra.

Não sei o que passava em sua mente, não conseguia focar meus olhos nos seus para tentar desvenda-la. Mas, em meu caso, eu não encontrava minha voz sequer para lhe dizer 'oi', ou lhe agradecer por me colocar em uma cela onde ninguém queria me bater e em um bloco distante das outras.

Fazia três dias que eu não tinha nem ao menos sinal de Janet ou outras detentas. Eu passava a maior parte do tempo na cela, tentando não aparecer em outras áreas do presídio onde eu as pudesse encontrar, ou qualquer outra detenta que quisesse briga.
O que também me lembrava que eu não conseguia encarar Marília pelo o que contei a ela e a advogada dias atrás.

Eu nem ao menos sabia como tratar desse assunto com ela, eu não queria que ela sequer soubesse sobre aquilo. Porque nem eu sabia como lidar com tudo aquilo.

A primeira vez que aconteceu eu estava em minha cela e foi horas depois que impedissem que sete loucas me espancassem. Eu tentei sair, eu tentei gritar, eu tentei tudo até simplesmente notar que não havia para onde ir. E então depois, quando Janet saiu da cela e eu enfim me troquei novamente, eu lembro de chorar por horas seguidas. Já era noite e não havia a possibilidade de correr para o chuveiro. Eu tive que esperar até o dia seguinte para conseguir tomar um banho. E todas aquelas horas até o dia seguinte, eu senti meu corpo sujo, eu me senti suja. E em algum lugar da mente eu me sentia como que traindo Marília, principalmente em vezes depois quando Janet era gentil e calma e onde eu deixava apenas meu corpo agir e sentir a porra que quisesse.

Mesmo que eu não estivesse em um relacionamento com Marília, mesmo após tudo que eu lhe disse, ela continuava em minha mente e eu me sentia traindo a ela ou a memória dela em mim, ou até traindo os sentimentos confusos em meu peito.

Uma voz em minha cabeça dizia que não era minha culpa e eu não tinha uma escolha, mas ao mesmo tempo era difícil acreditar e realmente encarar o que acontecia de verdade.

- Maraisa? - a voz suave de Marília me tirou dos meus pensamentos e ergui meu olhar em sua direção - Oi - ela sorriu levemente.

Não evitei um sorriso de nascer em meus lábios da mesma forma.

- Hey - cumprimentei devagar, mordendo meu lábio em seguida - Veio sozinha - constatei o óbvio por Abby não estar ali.

- Achei que já estava na hora de vir por minha conta - explicou, cruzando os braços um pouco na defensiva - Para falar de outra coisa, já que você está colaborando e estamos tentando reabrir o caso - completou em um tom quase nervoso.

- Como o quê? - perguntei desconfortável, olhando ao redor e vendo outras detentas recebendo suas visitas do mês.

- Nós - Marília foi direta e eu engoli em seco, desviando meu olhar - Eu quero conversar sobre a gente, Maraisa - ela insistiu ainda calma e eu soltei um suspiro.

- Não sei se é uma boa hora pra isso - fui sincera, voltando meu olhar em sua direção.

- E por que não seria? - Marília questionou confusa.

- Porque eu não tomei café da manhã e não sei se sabe, mas eu fico um porre quando não tomo café da manhã - respondi com bom humor, vendo seus olhos continuarem confusos por um segundo até uma risada sair de seus lábios no instante seguinte.

Lost Girls - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora