Me escorei no balcão da cozinha, sem conseguir desviar meu olhar da sala. Eu via perfeitamente Marília rindo animadamente enquanto conversava com Gustavo, que já estava de férias da universidade. Eu conseguia ouvir o som baixo que saía das caixas de som, tocando uma playlist com as músicas preferidas de Marília. E, tanto na mesa atrás de mim como no balcão, todas as comidas favoritas dela estavam presentes.
Seus pais estavam na sala também, distraídos na conversa dos filhos mais velhos, enquanto Taylor estava jogada no tapete, os olhos vidrados na tela do celular.
Pareciam coisas simples e quase sem graça, sendo que estávamos aqui comemorando o aniversário de Marília. Mas eu só precisava encarar a loira para saber que eu havia acertado em cheio. Ela estava feliz, o sorriso não saía de seus lábios e a leveza não deixava os seus gestos. Eu a conhecia perfeitamente para saber que tudo que ela queria no seu aniversário era um dia em paz com sua família.
O que, me acalmava saber, incluía a mim também.
Nós estávamos juntas. E eu nem sei como reagir a este fato. As coisas estavam devagar, tanto pela nossa história quanto pelos meus pensamentos. A forma como comecei a ter mais crises depois de descobrir sobre os comprimidos que tomei sem consentimento. Tudo isso bagunçava tanto minha mente, que eu quase enlouqueci certas vezes. Mas todos aqui faziam questão de conferir se eu estava indo as minhas consultas, tomando os remédios necessários e fazendo o que meu psicólogo, e o psiquiatra, recomendavam.
Aos poucos eu sentia que melhorava, que tinha mais controle sobre mim mesma. Em outros aspectos, eu achava que nunca conseguiria ficar bem novamente. Por exemplo, eu sempre amei dirigir, e mesmo que minha habilitação estivesse suspensa pela minha situação atual, eu poderia muito bem apenas colocar os carros na garagem da oficina. Exceto que assim que eu entrava dentro de um, começava a suar frio. O que não fazia sentido, eu bati carros inúmeras vezes, mas não foi isso que me levou a ser presa.
Além de que, apesar de adorar beijar Marília por horas a fio, toda vez que eu mesmo me sentia inclinada a passar a barreira, ou sentia ela começando a se animar, eu simplesmente travava. As vezes memórias surgiam em minha mente, outras vezes era apenas meu corpo tensionado que me impedir de fazer um movimento sequer.
Mas Marília entendia isso, não me pressionava, apenas sorria e beijava meu rosto com carinho, ficando por perto e ainda sim me dando espaço necessário para que eu me acalmasse e decidisse da onde íamos daquele ponto. Ela estava descobrindo como se relacionar comigo também. Não tivemos uma conversa mais séria ainda, porém estávamos entendendo nosso novo relacionamento. Não podíamos voltar ao que éramos, mas podíamos descobrir para onde ir. E por isso eu me esforcei para juntar toda sua família e lhe fazer algo legal pelo seu aniversário. Já que da última vez eu estraguei absolutamente tudo.
Vi a loira passar os olhos pela sala e me encontrar atrás do balcão, sorri levemente para ela enquanto a observava se levantar e se aproximar.
- Hey - cumprimentei, chegando mais perto e envolvendo sua cintura.
- Gustavo disse que isso tudo foi ideia sua - Marília comentou, apontando ao redor e se afastando para pegar um pequeno pote de arroz doce para comer.
- É, foi. O difícil foi juntar todas suas comidas preferidas e fazer Taylor aceitar ouvir Lana Del Rey - respondi, divertida, voltando a me escorar no balcão, dessa vez de costas para a sala.
- Obrigada por hoje - Marília disse em um tom mais baixo, seu rosto se virando em minha direção - Por ter feito isso.
- Só se faz vinte e cinco uma vez na vida, né? - brinquei, a vendo rir pela minha piada idiota - E, bem, eu sei que você não é tanto de festas grandes para seu aniversário e queria fazer algo que aproveitasse - expliquei, notando como Marília me encarou por alguns segundos antes de sorrir levemente e desviar o olhar - O que foi?
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Lost Girls - Malila
FanfictionMaraisa sempre acreditou ser uma garota que perdia. Perdeu a mãe cedo demais para uma doença que ela mal sabia pronunciar o nome quando aconteceu. O pai, perdeu para o crime. A irmã, perdeu para uma família que ela nem ao menos conhecia. A vida? Ain...