Capítulo 45

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Limpei minhas mãos sujas no macacão enquanto escorregava para fora de debaixo do Volvo e erguia meu corpo para me sentar. Passei o braço em meu rosto, tentando secar um pouco do suor.

- É o escapamento - avisei Henrique, que estava escorado em um dos armários da oficina.

- Consegue consertar hoje? - ele perguntou, enquanto eu me levantava.

- Só depois que eu trocar a bateria daquele Toyota e ver o que tem de errado no motor do Honda - respondi, o vendo parar pra pensar por alguns segundos.

- Você ajeita esse escapamento e eu vejo o motor do Honda, beleza? - sugeriu, olhando rapidamente para fora onde estava o dono do carro - Esse cara é um mala, mas tem grana então vamos agilizar pra ele, ok?

- Sem problemas - concordei, já me movimentando pela oficina atrás das ferramentas que eu iria precisar pra trocar a bateria do outro carro antes de consertar esse.

Não demorou até que eu percebesse que eu iria precisar de um emprego enquanto estivesse em casa. Já que minha prisão domiciliar tinha sido substituída pelo uso da tornozeleira, eu não poderia ficar em casa sem fazer nada. E as ilusões de ir pra uma faculdade já tinham acabado. Então, depois de uma semana vendo filmes e caminhando pelas manhãs na praia, eu decidi arranjar um emprego.

Ruth não gostou da ideia, mas Mário disse que eu precisava ocupar minha mente. Dr Hernández também foi a favor.

O problema era arranjar um emprego sendo que passei meses presa, usava uma tornozeleira e tinha de ser um emprego dentro dos quilômetros permitidos. Eu mal conseguia entrar em um estabelecimento sem o dono desconfiar de mim, por causa da tornozeleira.

Então depois de outras duas semanas, quando apenas vim visitar Henrique, acabei o ajudando com um dos carros. Porque era um dos poucos assuntos que eu entendia muito bem, eu sabia como funcionava cada pequena peça de um automóvel. Você precisa entender mecânica, entender seu carro, se quer ganhar uma corrida com ele.

Foi sugestão de Henrique que eu trabalhasse aqui, ele precisava de uma ajuda e nunca conseguia manter seus funcionários porque sempre eram idiotas. E eu poderia utilizar a grana e ocupar minha mente com algo que gostava, sem precisar dirigir e acabar me prejudicando.

- Ei Henrique, terminei com o Volvo - avisei, escorregando para fora de debaixo do carro novamente - Mas se eu fosse você dava uma olhada no motor porque eu senti algo estranho quando coloquei o carro pra dentro - completei rapidamente, me aproximando do meu amigo que estava sentado no chão.

- Ok, a gente vê isso depois, pedi comida chinesa, senta aí - apontou para as sacolas do fast food na sua frente.

Só então senti meu estômago roncar, indicando a fome que eu sentia. Andei até o banheiro primeiro para lavar minhas mãos e só então me sentei na frente do meu amigo, começando a almoçar. Se é que comer comida chinesa às quase quatro horas da tarde pode ser considerado almoço.

- Amanhã de manhã, a moça dona do Toyota vai vir buscar o carro, o namorado dela me odeia então você pode lidar com eles? - Henrique pediu, me empurrando mais dois sachês de molho shoyu.

- Um namorado babaca? Qualquer coisa que eu falar sobre o carro ele não vai acreditar - resmunguei, rolando meus olhos - Mas pode deixar - concordei em seguida.

- Então, como tá indo as coisas aqui pra você? - Ricelly perguntou após alguns minutos em silêncio.

Pensei sobre sua pergunta enquanto enrolava o macarrão do yakissoba antes de o levar a minha boca. Eu gostava de trabalhar com Henrique, era fácil e ele confiava em mim o suficiente para não me tratar como uma funcionária qualquer. Éramos amigos e eu entendia fácil o fato de que ele era o dono da pequena oficina, então ele tinha a palavra final, mas Ricelly sabia muito bem como eu entendia sobre carros, então me deixava trabalhar em paz.

Lost Girls - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora