Pov Marília MendonçaMe escorei no meu carro, cruzando os braços e soltando um longo suspiro enquanto observava Maraisa abraçar meus pais na entrada de casa. Mesmo há alguns metros de distância eu conseguia notar a latina se limitando a assentir a qualquer coisa que meus pais diziam, provavelmente evitando de chorar na frente deles. Foi por essa razão que ela abraçou Gustavo e Taylor no quarto de cada um e os impediu de descerem ou me acompanharem para a levar de volta.
Desviei o olhar ao ver minha mãe me encarar, eu não precisava ser um gênio para saber o que ela estava pensando. Ou que imaginou quando foi acordar Maraisa e me encontrou na cama. Mesmo que nós não tivéssemos feito absolutamente nada. Apenas conversamos.
Admito que doeu ouvir da boca de Maraisa que ela me machucou conscientemente disso, que ela quis isso, que ela quis me afastar, que ela quis dizer tudo que disse. Mas aliviou saber os motivos, saber que ela apenas estava tentando me proteger, mesmo do jeito torto que ela sabia. Ainda era um pouco dolorido ter todos aqueles sentimentos por ela dentro de mim e não a dizer, não gritar para os quatro ventos como eu ainda a amo, como mesmo após oito meses ela ainda é a única mulher que eu já amei dessa forma. Também era um pouco desconfortável não saber definitivamente se ela me impediu de dizer essas palavras por realmente não querer lidar com isso até sair da prisão, ou se ela não me amava mais.
Respirei fundo, negando com a cabeça para afastar os pensamentos e observando Maraisa andar lentamente até mim. Foi apenas um dia em casa e eu já conseguia ver um pouco do seu antigo brilho no olhar ou na forma de caminhar. Ela usava uma regata do uniforme do time de vôlei da escola onde estudou, uma calça de moletom e tênis. As mãos enfiadas no bolso da calça, os cabelos um pouco bagunçados. Ouvi Taylor perguntar se ela não queria ao menos usar uma jeans ou um casaco, a resposta de Maraisa foi que ela queria usar roupas que teria certeza que caberiam nela quando saísse.
Não sei ao certo o que aquilo significava.
- Pronta pra irmos? - perguntei assim que ela parou na minha frente, a observei erguer a sobrancelha e quase sorrir enquanto assentia com a cabeça.
Dei a volta no carro para entrar no banco do motorista, ligando o motor enquanto Maraisa se sentava ao meu lado. A vi acenar devagar para meus pais antes que eu desse partida para sairmos dali. Me senti um pouco desconfortável pelo silêncio que se instalou no carro enquanto eu dirigia até o presídio. Mas tentei entender como aquilo deveria estar sendo para a latina ali.
- Quer ligar o rádio? - sugeri, assim que entramos na rodovia principal da cidade.
- É, pode ser - ela concordou em um tom baixo, se inclinando e ligando o aparelho, deixando na estação que já estava.
- Olha, eu não...
- Eu não quero ir - Maraisa me interrompeu de repente e eu a encarei surpresa antes de voltar a atenção para a estrada - Eu não quero voltar, eu não quero ter que me esconder delas, eu não quero passar o dia em uma cela apertada e pular refeições para não encontrar ninguém que queira me bater, eu não quero tomar banhos gelados sentindo medo que a qualquer momento alguém possa aparecer, eu só não quero voltar pra lá Marília, por favor não me leva de volta! - implorou desesperada, fazendo meu peito se apertar ao a olhar e ver suas lágrimas escorrendo de seu rosto.
Diminui a velocidade do carro, dirigindo até o acostamento e parando o carro. Me virei para Maraisa e nem ao menos tive que dizer algo até que ela se chocasse contra meu corpo, me segurando com força, deixando todo o choro que segurou na conversa com meus pais sair agora. Deslizei meus dedos por sua coluna, permanecendo em silêncio enquanto sentia suas lágrimas em minha camisa.
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Lost Girls - Malila
FanficMaraisa sempre acreditou ser uma garota que perdia. Perdeu a mãe cedo demais para uma doença que ela mal sabia pronunciar o nome quando aconteceu. O pai, perdeu para o crime. A irmã, perdeu para uma família que ela nem ao menos conhecia. A vida? Ain...