Lost Girls - Malila

Capítulo 31

Pov Maraisa Pereira

Me remexi na cama, soltando um gemido dolorido ao sentir as pontadas fortes em meu estômago. Tossi algumas vezes, abrindo meus olhos tentando me acostumar com a claridade do quarto que eu estava. Tentei me virar na cama para procurar uma posição que fizesse a dor diminuir mas bufei frustrada ao sentir meus pulsos ainda algemados nas barras da cama.

- Hey - ouvi uma voz rouca bem conhecida soar pelo quarto e ergui minha cabeça, encontrando Marília sentada em uma poltrona do outro lado do quarto.

- Hey - respondi, ainda me sentindo desconfortável com sua presença ali - Dormiu aqui? - perguntei, notando o uniforme em seu corpo mas seus cabelos levemente bagunçados.

- Dormi - concordou despreocupada, se levantando e se aproximando de mim - Não posso deixar correr o risco de você mudar de ideia - explicou, sentando na ponta da cama.

- Não vou - garanti, mesmo que parte de mim gritasse alto sobre como eu não deveria estar aceitando ajuda e bagunçando novamente a vida de todos.

Eu não queria mais causar dor naquelas pessoas, em meu amigo, na família Mendonça, em meus amigos ou em minha irmã.

Só que ao mesmo tempo eu estava cansada e com dor. E com tanta raiva do meu pai, as vezes eu chegava a gritar de raiva dele. Eu colocava toda a culpa em cima de seus ombros, tudo que estava acontecendo comigo voltava para ele. Eu tive a porra de uma hemorragia interna de tanto apanhar naquele presídio porque meu pai havia feito merda para praticamente toda detenta daquele lugar. Era ele que deveria estar sendo punido e não eu. Eu, sinceramente acreditava que a forma que estava lidando com toda essa situação era o melhor.

Só que além de tudo o que eu havia dito para Marília ou até Mário, havia uma segunda razão pela qual eu me recusava a aceitar ajuda. E era porque eu estava envergonhada da forma como agi durante todo esse tempo. Era quase uma bola neve e eu tinha medo da destruição que ela poderia causar ao atingir algo que a fizesse parar.

Mas ontem com Marília aqui, eu tinha tomado os medicamentos para dor, minha cirurgia era recente, eu estava cansada e os flashes voltavam a minha cabeça, meu coração estava acelerado e eu não sabia se era por causa da proximidade de Marília ou por causa do medo que eu sentia. Foi só ela lembrar de como eu me sentia segura com ela, em nosso lugar acima das nuvens que eu desmanchei e derrubei todas as barreiras que levavam longos seis meses na cadeia para construir.

Não devia me surpreender. Marília sempre teve esse efeito em mim.

- Como você está? - a voz de Marília me tirou dos meus pensamentos e voltei meu olhar para ela.

- Como conseguiu passar a noite no quarto? - mudei de assunto quase automaticamente e vi a loira erguer a sobrancelha.

- Maraisa... - me repreendeu baixo e eu soltei um suspiro involuntário - Vamos lá, você precisa cooperar - lembrou com calma.

- Estou melhor do que quando cheguei - tentei soar divertida mas tudo que Marília fez foi cruzar os braços enquanto eu desviava o olhar do seu - Os pontos estão doendo e ficar na mesma posição está me machucando - admiti envergonhada, achando melhor encarar meu pulso algemado.

- Ok, vamos tentar resolver isso - prometeu em um tom carinho e voltei meu olhar para ela mais uma vez - E eu conheço o diretor do presídio, e devia um turno para um dos agentes então estou aqui - respondeu a minha pergunta anterior e assenti com a cabeça compreendendo - Te consegui uma advogada - avisou e eu arregalei meus olhos um pouco pela rapidez que ela parecia estar levando as coisas - Eu te disse que iria te ajudar, não disse?