Capítulo 51

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- Certo, defina seu maior medo - ouvi a voz de Henrique e franzi o cenho, permanecendo em silêncio - É uma pergunta válida de um entrevistador - ele completou rapidamente, me fazendo rolar os olhos mesmo que ele não pudesse ver.

- Ok, essa é difícil - reclamei, apertando um parafuso na parte debaixo do carro - Acho que seria me tornar quem meu pai é - respondi com uma careta, me empurrando pra fora e encontrando meu amigo encostado no capô do carro.

- Isso soa interessante e um tanto curioso, mas você precisa melhorar em como responde isso - meu amigo aconselhou, rolando a tela do celular onde eu sabia que ele estava vendo possíveis perguntas de um entrevistador para a admissão na universidade - Nem sei porque está me fazendo te perguntar essas coisas, você já passou por isso - reclamou, guardando o aparelho.

- Mas vou precisar prestar tudo novamente, e sendo pior porque eu quero uma nova bolsa sendo que perdi a última. É quase impossível - lembrei, limpando minhas mãos na calça.

- Você foi na escola novamente? - Henrique perguntou, me estendendo algumas ferramentas e se afastando para que eu pudesse abrir o capô.

- Sim, aproveitei que Tay precisava buscar algo. Falei com alguns professores, meu treinador e com a vice diretora - respondi, aceitando uma das ferramentas e começando a mexer no motor - O time de vôlei estava treinando para alguns amistosos, o treinador ficou feliz a me ver - ergui minha cabeça para sorrir encarando Henrique.

- E o que eles disseram? - ele perguntou, enquanto eu voltava minha atenção para o carro.

- Estavam orgulhosos por eu estar tentando novamente - contei, lembrando dos rostos animados quando apareci para pedir novas cartas de recomendação para o fim do ano, além de uma ajuda com a carta de aplicação onde eu tinha que dizer quem eu era - Entra aí - pedi, o vendo se jogar no banco do motorista - E me deram algumas dicas, me aconselharam a fazer algumas coisas voluntárias enquanto termino minha pena, e só então prestar. Liga aí - expliquei, o vendo ligar o carro em seguida, me fazendo sorrir satisfeita por ouvir o barulho ressoar na oficina - Pronto, problema resolvido - avisei, fechando o capô enquanto ele desligava o motor.

- Até que enfim você está indo atrás disso, teu lugar não é aqui Mara - ouvi Henrique dizer enquanto saía do carro - Você merece muito mais que isso - completou sinceramente.

Sorri por isso, sentindo o significado daquelas palavras. Por como meu melhor amigo me apoiava e acreditava em mim. Como esperava que eu conquistasse muito mais. E eu pensava o mesmo dele.

- Marília disse o mesmo - comentei, caminhando até a pia para lavar minhas mãos - Ela está tão empenhada para que isso dê certo - soltei um suspiro, balançando a cabeça.

- E isso é ruim? - ouvi o tom confuso de Henrique enquanto eu secava minhas mãos.

- Não quero decepcionar ela - murmurei, me virando e me escorando na pia para olhar meu amigo - Não queria que ela ficasse toda animada e, não sei, não entrasse na universidade - expliquei, cruzando os braços.

- Pare com isso ok? - Henrique pediu, se aproximando e colocando as mãos em meus ombros - Sua namorada está entusiasmada por você, apenas aproveite isso certo?

Respirei fundo, tentando entender isso. As vezes ainda era um pouco difícil deixar minha mente confiante. Ainda me assustava a possibilidade de decepcionar e machucar minha namorada mais uma vez. Era o que eu estava trabalhando, para tentar compreender que estava tudo bem e eu só precisava fazer as coisas certas. E tudo continuaria bem. Mas ao mesmo tempo eu sabia o quanto era difícil conseguir ganhar uma bolsa novamente, eu tinha as notas e as cartas de recomendação, mas meu histórico pessoal não me ajudava tanto assim.

Lost Girls - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora