Capítulo 38

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⚠️ Alerta de Gatilho ⚠️

Pov Maraisa Pereira.

Me mexi na cama, fazendo uma pequena careta por conseguir sentir os ferros da beliche mesmo estando em cima do colchão. Soltei um suspiro, me virando para ficar com meu peito no colchão e tentando continuar a leitura do livro que Marília me trouxe ontem. Sorri levemente ao lembrar do seu desespero tentando se desculpar por ter demorado três dias para vir após o dia que passei na casa dos seus pais. Mas eu compreendia, não era simplesmente chegar aqui e dizer que queria me ver, ou ela entrava com a advogada ou esperava o dia de visitas, que foi ontem.

Lembrei do seu rosto preocupado ao me ver, mais do que as outras vezes. Mas pensei que fosse por eu ter passado o dia com ela antes e agora talvez fosse mais difícil me ver presa.

Era mais difícil para mim também.

Balancei a cabeça para afastar os pensamentos e tentar me concentrar na leitura de Nossa Cidade. Era o livro que dei de presente para Marília no primeiro natal que passamos juntas. Eu nunca havia lido, mas abaixo da dedicatória que fiz para ela, havia sua própria letra.

"Não é uma história tão bela, é um pouco mais realista. Mas toda vez que toco nesse livro lembro do seu sorriso enquanto me entregava e depois me abraçava na frente da minha família. Espero que te faça se lembrar de mim assim também."

Realmente não era um livro tão feliz, apenas contava a história das pessoas de uma pequena cidade e uma garota que tem a chance de dar uma última olhada na vida que deixou para trás e percebe que não deu o devido valor a tudo que tinha.

Soava até um pouco familiar.

Mas ler aquela história que por algum motivo estranho era uma das peças favoritas de Marília, me fazia pensar nela e em como ela ficou feliz por eu ter acertado em o que lhe dar de presente de natal.

Passei de página, ouvindo o som da cela se abrindo e nem ao menos me mexi, sabia que era apenas minhas companheiras de cela voltando do café da manhã que eu perdi novamente. Fingi que estava dormindo porque eu não queria enfrentar as outras mulheres que ainda se lembravam que várias foram punidas dias atrás. Por minha causa. Mas Penélope e Bianca pegavam um pão ou o equivalente do dia e conseguiam trazer até a cela.

Fiz uma careta ao sentir a beliche se balançar por um provável chute no ferro de suporte e deixei o livro de lado.

- Desce!

- Fala sério Bianca, você disse que eu podia ler na tua cama, você sabe que não tem luz na debaixo e eu...

Ouvi minha própria voz morrer enquanto eu olhava para o lado encontrando outras pessoas que não eram minhas companheiras de cela. Engoli em seco ao ver os rostos que eu não via em semanas. E mal tive tempo para raciocinar antes de sentir Tamisa puxar meu tornozelo para fora da cama.

Gritei pela dor quando meu corpo colidiu com o chão, meu braço ardendo e meu peito tão dolorido que eu mal conseguia puxar o ar pelos meus pulmões para respirar.

- Não, espera, por favor - soltei entre um gemido sôfrego ao ver Tamisa se aproximar e tentei respirar quando Dani a impediu de me chutar.

Franzi o cenho confusa ao observar Janet atrás das duas, escorada nas barras da cela. E o sentimento de impotência voltando ao meu corpo enquanto meu coração acelerava assustado. Fazia semanas que eu não tinha que lidar com elas, semanas que eu não levava nem um empurrão de uma detenta. E agora todo meu corpo doía porque caí de uma distância razoável entre a beliche de cima e o chão.

Minha mente não conseguia se concentrar plenamente e nem ao menos eu conseguia pensar em como agir ali. Como me livrar daquilo.

Minha melhor opção era enrolar elas até que Roxye e Bianca voltassem. Mas eu não conseguia nem me levantar ou reproduzir algum som.

Lost Girls - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora