Tentei não prestar muita atenção enquanto abria o guarda roupa para pegar outras roupas além de uma toalha e praticamente corri até o banheiro do corredor ouvindo o aviso de Marília para que eu tomasse cuidado para não molhar a tornozeleira então puxei mais algumas coisas do guarda roupa que pudessem proteger o objeto. Talvez eu tenha gemido de prazer ao sentir a água quente em minha pele. O máximo que já consegui no presídio era um morno e em raras vezes onde eu me "comportava" nos termos de Janet e ela me arranjava isso. Mas não era assim, a água quase queimando a minha pele e deixando todo o banheiro como que em uma sauna pela fumaça.Devo ter passados consideráveis minutos ali dentro, aproveitando pra lavar meu cabelo com cuidado e dedicação. E quando finalmente desliguei o registro, pude me secar com paciência antes de colocar uma roupa mais confortável e caseira. Vesti um short de pano, uma blusa de manga longa e, já estava tão acostumada a passar o dia de botas que, calcei meus tênis. Saí do banheiro ainda secando meus cabelos.
— Ah hey — murmurei surpresa assim que voltei ao quarto e encontrei Marília ainda ali — Demorei? — perguntei um pouco preocupada, jogando a toalha em cima da cama.
— Não, só quis te esperar aqui, tudo bem? — me encarou apreensiva.
Fiz uma careta por isso, por como às vezes tudo parecia normal e calmo entre nós. Porém logo em seguida era como se nos lembrássemos de tudo que aconteceu e simplesmente não soubéssemos como agir.
— Tudo — concordei, andando pelo quarto e me escorando na janela, sorrindo ao ver a cidade por ali.
— Quer sair, não é? — Marília perguntou, sabendo exatamente o que eu pensava.
— Quero — admiti, apoiando meus braços na janela — Mas estar aqui por hoje já é ótimo e mais do que eu poderia pedir — completei rapidamente enquanto ouvia seus passos se aproximando.
— Já que comentou coisas que não pediu — Marília disse em um tom mais baixo e virei meu olhar para ela — Eu chamei alguém — contou e eu arregalei meus olhos — Henrique está lá embaixo – avisou.
— O quê!? — questionei surpresa e incrédula, meu corpo tremendo um pouco por receio em frente à nova informação.
— Você precisa conversar com teu melhor amigo, Maraisa — ela disse seriamente, me fazendo soltar um gemido frustrado por saber que eu não teria como me livrar daquilo — Não sente a falta dele?
— É claro que sinto — respondi rapidamente, desviando meu olhar novamente e me sentando no parapeito da janela — Mas ele pediu pra que eu não saísse aquele dia, Marília. Ele me disse para não fazer. Ele me disse para te chamar. Eu não o ouvi. E ele acabou tendo uma hemorragia — confessei, soltando um longo suspiro, negando com a cabeça — Como espera que eu veja meu irmão mais velho depois disso?
— Justamente por você o considerar como seu irmão mais velho — Marília argumentou — Vocês precisam conversar — afirmou novamente.
Nem ao menos lembrava a mulher que anos atrás se irritava ao me ver andando e conversando com meu melhor amigo.
— Vou te dar uns minutos, vou descer e pedir pra ele subir — avisou e eu nem me dei ao trabalho de responder, me ajeitando ali na janela mesmo, colocando a perna sem a tornozeleira para fora, sem medo de cair já que ainda havia um telhado ali — E, Mara — Marília me chamou pelo meu apelido em um tom mais suave, ganhando minha atenção — No fundo, você sabe que precisa e quer conversar com ele — lembrou, sem esperar uma resposta e saindo do quarto.
Respirei fundo, tentando controlar minhas emoções. Eu pensava muito sobre os danos que causei a família Mendonça, mas também lembrava dos meus amigos e o que fiz à eles. A Henrique principalmente. Ele foi meu irmão mais velho desde que nos conhecemos pelas ruas do nosso antigo bairro. Ele me protegia e meus pais o amavam. Minha mãe o achava fofo e engraçado, meu pai e até meu tio viam potencial nele. Porém era sempre Henrique que tentava me impedir de causar problemas sérios, ele só queria se divertir.
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Lost Girls - Malila
Fiksi PenggemarMaraisa sempre acreditou ser uma garota que perdia. Perdeu a mãe cedo demais para uma doença que ela mal sabia pronunciar o nome quando aconteceu. O pai, perdeu para o crime. A irmã, perdeu para uma família que ela nem ao menos conhecia. A vida? Ain...