Capítulo 43

440 67 36
                                    


Me sentei na janela, tendo o cuidado de deixar a perna com a tornozeleira para dentro do meu quarto. Ainda era madrugada então o céu estava escuro, só iria amanhecer daqui algumas horas. E eu deveria estar dormindo em minha cama.

Achei que seria fácil dormir aqui.

Mas não era.

A luz estava acesa, mesmo que a janela aberta trouxesse um pouco de claridade, mas as duas da manhã tudo ficava escuro demais para o meu próprio gosto.

Balancei minhas pernas, em uma tentativa de distrair minha mente e acalma-la. As coisas eram mais fáceis aqui, eu podia fazer o que quisesse em casa e não tinha que me preocupar em receber punições ou qualquer outra coisa. Porém, estava sendo complicado voltar a me acostumar com isso. Eu não conseguia apagar a luz para dormir, Ruth e Mário eram carinhosos comigo mas alguns apelidos me faziam tremer, mesmo que em minha mente eu soubesse que eles nunca me machucariam. Gustavo havia voltado para a faculdade, e Taylor tentava me deixar confortável no dia a dia, mesmo assim eu tomava pequenos sustos sempre que ela aparecia do nada. Isso sem mencionar o fato que me tremi, gaguejei e não conseguia parar de pedir desculpas as duas vezes que me esqueci de lavar a louça.

Ah, e na primeira semana acordei tarde (sete e meia) e simplesmente não comi nada até o almoço por puro hábito de estar atrasada para o café da manhã. Ruth passou a me oferecer o café da manhã assim que me via, ou mandava mensagens se não estivesse em casa.

E ainda tinha Marília. Eu estava em casa por duas semanas e, em quatorze dias, ela esteve aqui em onze. Ela chegava, me cumprimentava com um abraço, fazia seu próprio café da manhã se ainda não tivesse comido e se sentava no sofá ao meu lado, assistindo a o que eu estivesse vendo sem reclamar. Eu coloquei velozes e furiosos duas vezes seguidas e ela não fez nenhum comentário sarcástico.

Me senti mal então coloquei Psicose depois disso.

Eu conseguia sentir que ela queria conversar, mas eu simplesmente não conseguia formular as palavras. Pra ser sincera eu mal falava o dia inteiro. Eu estava confinada em casa, o que era muito melhor que estarei confinada em uma prisão. Mas ainda sim eu não me sentia livre o suficiente para ser aberta e totalmente honesta com Marília. E se ela não gostasse de algo que eu dissesse?

Não tinha para onde escapar.

O melhor dia foi em meu aniversário alguns dias atrás. Tivemos um pouco mais de diversão e Henrique esteve aqui, assim como Lari e Maiara. E de bônus, ele trouxe Casie. Todos estavam contentes e eu até me esqueci de todas as circunstâncias na qual eu estava envolvida.

Soltei um suspiro pesado observando como as horas haviam passado e eu sol já estava nascendo. Sorri fraco por como a beleza daquilo sempre me acalmava. Era melhor do apartamento de Marília, próximo a praia. Mas a janela do meu quarto era o suficiente.

Encarei o relógio na cabeceira e saí da janela, caminhando a passos lentos até a cama e me deitando novamente ali. Me cobri parcialmente e me virei de lado, esperando pacientemente até ouvir a porta se abrindo.

Fechei os olhos e tentei respirar mais calmamente até a porta se fechar.

Mário me checava todos os dias antes de ir tomar seu café da manhã. Eu achava fofo, mas não queria o preocupar então sempre fingia estar dormindo. Ele me olhava ansioso e angustiado quando me encontrava acordada.

Mas logo após a porta se fechar eu me sentei, encarando a parede por alguns segundos antes de me levantar. Eu não conseguia dormir em algumas noites, e mesmo quando conseguia ainda acordava cedo. Já era um hábito. Coloquei um short de pano por cima da boxer que usava e calcei os chinelos, fazendo um coque em meu cabelo enquanto saía do quarto. Senti uma coceira por dentro da tornozeleira mas apenas mexi o pé para afastar a sensação, antes de descer as escadas.

Lost Girls - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora