Observei o corpo da loira se mover pelo quarto, seus passos lentos, parando em frente cada fotografia, em cada detalhe que eu tentei fazer apenas para dizer que a amo. Seus dedos brincavam com uma fotografia, as unhas em preto passavam pela superfície da imagem, como se quisesse sentir cada linha da fotografia.
- Dias antes do seu aniversário - sussurrei, caso ela não se lembrasse o dia que aquela foto foi tirada - Eu gosto dessa foto, você está usando apenas minha camisa do time de vôlei, e eu ainda estou com sua camisa do uniforme e seu chapéu na cabeça - ri um pouco por notar como o acessório quase caía da minha cabeça enquanto eu posava para a foto.
- "Só para nos lembrarmos que temos que nos colocar no lugar da outra" - Marília recitou o que eu escrevi no verso da imagem e virou em minha direção - Por que só assim conseguimos entender uma a outra - completou por si só e eu assenti em concordância - Eu nem sei como te dizer como é importante o que fez aqui hoje, por mim - disse em um tom baixo, olhando em meus olhos - Saber que você ainda sente o mesmo - finalizou, sua mão se erguendo para tocar em meu rosto.
Eu sentia falta desse contato, de como sua palma quente e macia se encontrava com minha pele, trazendo o conforto e o carinho nos momentos que eu mais precisava. Como seu polegar traçava linhas imaginárias em meu rosto, como se ela quisesse decorar todo meu rosto, não apenas com seus olhos, mas com suas mãos.
Era uma das formas que ela dizia que me amava sem nem ao menos precisar dizer essas palavras, mas, ainda assim, ela dizia. Me perguntava se ela conseguia ler essas três palavras em meus gestos, mesmo quando eu não era capaz de pronunciá-las.
- Eu nunca deixei de sentir isso por você - confessei, sorrindo levemente pelo brilho que habitavam seus olhos - Em cada dia, a cada segundo, eu te amava. Isso nunca sumiu de mim - completei.
E, amarrando todos os pensamentos negativos em um canto da minha mente, a beijei mais uma vez, tentando entender como eu pude passar tantos meses sem esse contato, sem ter sua boca se movendo na minha, dizendo a cada beijo, a cada toque de lábios, o quanto Marília me amava e me desejava. Deixei minhas mãos em sua cintura, permitindo que ela aprofundasse aquele beijo, que sentisse, daquela forma, o quanto eu estava rendida em relação aos meus sentimentos.
Me afastei apenas quando senti meu pulmão gritar pela falta de ar, mas deixei um sorriso enfeitar meus lábios quando abri meus olhos e encontrei Marília, os lábios entreabertos, a respiração um pouco agitada.
- Não sabia que ainda tinha isso - ela comentou casualmente, tirando o boné da minha cabeça e se afastando.
- Eu gosto dele - cocei a nuca, um tanto desconfortável, a seguindo até minha cama - Me lembra claramente do nosso primeiro encontro - expliquei, me sentando ali, encostando minhas costas na cabeceira e a tendo ao meu lado.
- Eu quero isso, Maraisa - sua voz soou mais séria, e eu virei minha cabeça em sua direção, a vendo brincar com o boné em mãos - Eu quero você - afirmou, erguendo seu olhar - Eu te amo. E você não imagina como ter você me dizendo isso de volta após tanto tempo me faz sentir - declarou, um sorriso nascendo em seu rosto também.
- Eu amo você - repeti, quase rindo por como, agora, as palavras escapavam rapidamente de minha boca.
- Isso é, e sempre será, o mais importante para mim - Marília garantiu, deixando o boné azul de lado e buscando minha mão - O que sentimos sempre vai ser a razão principal de estarmos aqui - entrelaçou nossas mãos, apertando minha palma, como que para dar enfase no que dizia - Só que, nós precisamos poder confiar uma na outra, nos comunicarmos. Se não, nunca vamos chegar a lugar nenhum - lembrou.
Soltei um suspiro, sabendo do motivo daquelas palavras. Nunca havia parado para pensar que eu poderia ter perdido a confiança que Marília tinha em mim, uma confiança que ela demorou para ter comigo por causa de meu sobrenome. E eu destruí isso. Talvez eu nunca recuperasse de volta.
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Lost Girls - Malila
FanfictionMaraisa sempre acreditou ser uma garota que perdia. Perdeu a mãe cedo demais para uma doença que ela mal sabia pronunciar o nome quando aconteceu. O pai, perdeu para o crime. A irmã, perdeu para uma família que ela nem ao menos conhecia. A vida? Ain...