TORNADOS NO ESTÔMAGO

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A garota do tempo estava falando sobre tornados perto da costa do estado e sobre a louca mudança de temperatura, por conta dos desastres ambientais no mundo.

E ainda bem que esse era o tópico, já que, quando Lisa Manobal começou a afundar do meu lado, o meu coração começou a disparar na máquina que o monitorava.

E quanto mais perto ela chegava, passando as pernas pra cima da cama e afundando a cabeça no travesseiro (bem perto de mim), mais ele acelerava.

A máquina parecia o tornado da TV.

Eu parecia o tornado da TV.

No meu estômago estava se formando um tornado, como o da TV.

— Eu tenho medo de tornados! — Tentei dizer, desesperada.

Droga.

Droga, droga, droga.

Mas Lisa já estava com um sorriso cínico (e não completamente identificado pelo meu cérebro) nos lábios.

Tô ligada... — Foi o que ela soltou, deitada ali do meu lado.

Nossos braços se tocavam.
Nossas pernas também.
Juntas, naquela cama gigante que ao mesmo tempo parecia um espaço apertado do hospital.

Juro, fiz um esforço danado pra prestar atenção na TV e na garota do tempo, que tinha um sorriso bonito. Mas, sem querer, meu olhar foi parar na Lisa Manobal.

Ela tava ali, a poucos centímetros de mim, eu estava vendo a barriga dela subir e descer, o peito enchendo e esvaziando com uma respiração bem devagar.

Lisa estava perto o suficiente, para eu notar cada detalhe que geralmente passava despercebido.

Lisa era um quadro de detalhes que eu não me cansava de observar. Seus traços são únicos, como pinceladas delicadas em uma tela e formavam a arte que era a beleza dela. E, de alguma forma, quanto mais eu a olhava de perto, mais encantadora ela se tornava.

Certo, eu preciso voltar para a garota do tempo.

Deus, não consigo nem entender o que ela tá falando.

Eu preciso olhar pro lado.

Não, Jennie, não olhe. Essa voz não é sua. Júlia está te sabotando.

Olhe, Jennie.

Certo, só uma olhadinha...

— Eu continuo preocupada e paranoica. — Lisa disse, virada para mim.

De alguma forma incalculavelmente constrangedora, nos olhamos ao mesmo tempo. E como estávamos muito perto, eu via seu rosto de uma forma completamente diferente.

Seu nariz, aquela curva suave que parecia ter sido esculpida com cuidado, dando um charme ao rosto dela. E os abismos... Esses olhos profundos. Eles transmitiam tanta intensidade. Ela tem um sinal pequeno, no cantinho dos olhos, ele é muito fofinho.

— Você precisa prestar mais atenção na mulher da previsão do tempo. — Eu disse, atropelando uma palavra na outra pra acabar de dizer logo. De nervosismo.

JENLISA | LARANJA ULTRAFORTE - O Experimento CientíficoOnde histórias criam vida. Descubra agora