ALIENÍGENAS

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O microfone estava perfeitamente ajustado para a ocasião. Lisa usava uma toga preta, sob aquelas luzes do palco. Suas mãos repousavam sobre o púlpito enquanto ela folheava os papéis com os nomes dos alunos a serem agradecidos pelos projetos extracurriculares. Todos nós estávamos em silêncio, absorvendo cada palavra com atenção. Apesar do microfone estar um pouco alto demais e muito próximo de sua boca, criando pequenos ruídos a cada sílaba, a Manobal não demonstrava nervosismo.

Estávamos chegando ao fim e eu apertava com força minha toga e o papel com minha fala ensaiada. A tensão daquilo estava fazendo meu cérebro travar, mesmo após tanto ensaiar mentalmente.

"Este ano foi incrível para todos nós. Vamos seguir em frente com nossos sonhos, buscando mais sabedoria em nossos caminhos. Todos nós somos únicos e especiais, mas é importante reconhecer alguns de nós por seus méritos...

Soyeon e Bang Chan pela responsabilidade e capacidade de liderança como representantes de turma, Jay Park pela sua solidariedade admirável..."

Sério? "Solidariedade" entre tantas palavras.


Eu preciso falar que odeio cada palavra do meu discurso. E nem fui eu quem escreveu isso. Ninguém entre nós teve voz nesse processo. A direção e os professores de redação estavam supervisionando tudo.

Revirei os olhos, amassando o papel novamente, sentindo meus joelhos tremerem sem parar. Eu estava programada para falar depois da professora Lee Hyori, assim que Lisa deixasse o púlpito e voltasse para o seu lugar.

Parecia que tudo estava nos trilhos. Talvez até demais. A voz de Lisa ecoava no fundo dos meus pensamentos, mas cada vez mais alta conforme eu voltava a prestar atenção nela, no púlpito, lendo seu papel e seguindo as poucas pausas para olhar para a plateia, como nos tinham instruído.

Ela estava linda.

Ahn Bohyun, Chuu, Jeon Somi, Joy... — Lisa Manobal fez uma pausa ainda encarando o papel.
Kim Haein, Kim Jisoo, Mia, Roseanne Park...

Foi quando tudo começou a desmoronar.
E começou bem quando Kai ergueu o braço, voltando todos os olhares pra ele.

Esqueceu de mencionar o meu nome. — Ele disse, parecendo ingênuo.

A mão continuava esticada para o alto. E pude ouvir alguém gemer "De novo, não" bem atrás de mim. Eu queria enfiar o meu rosto nas minhas mãos, e foi exatamente o que eu fiz. Mas deixei uma fresta entre os meus dedos, para continuar vendo o que diabos iria acontecer por causa daquilo.

Todo o rosto de Lisa franziu, balançando negativamente por uma fração de segundos, antes que ela voltasse a ter o mesmo olhar sério de antes, enquanto discursava.

— Ah, claro. — Lisa se inclinou sobre o púlpito, ficando ainda mais perto do microfone.
Kai...

Obrigado. — E aí Kai se voltou para as pessoas nos bancos ao lado dele.
Viram? Não custava nada. — Sussurrou Kai, revirando os olhos.

Eu quero que você se foda.

A voz impaciente, séria e sarcástica de Lisa ecoou por todo o auditório.

Pouco a pouco vi todas as pessoas desmancharem suas poses e voltarem pra mesma bagunça de antes. Reclamando do calor, da toga, das falas, das posições em que suas cadeiras estavam e, você deve imaginar, de todo o resto.

JENLISA | LARANJA ULTRAFORTE - O Experimento CientíficoOnde histórias criam vida. Descubra agora