O AMOR NÃO É ÓBVIO

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O que poderia acontecer se ficássemos sozinhas de novo?

O que teria acontecido se aquela enfermeira japonesa não tivesse aberto a porta?

E se Lisa não tivesse pulado da cama para comprar alguma coisa pra comer (só para não ter que prolongar o clima estranho que consumiu a atmosfera do quarto)?

Eu pensei sobre isso durante todo o caminho de volta pra casa, olhando a janela do carro.

Eu respondi as perguntas da minha mãe no automático. Coisas sobre como eu estava me sentindo, o que queria comer quando chegasse em casa, se estava tudo bem mesmo, se eu queria faltar aula para descansar.

Quando a gente passou pela avenida na beira da praia, eu me vi lá, de mãos dadas com Lisa, rumo ao carro dela, que estava estacionado ali.

Passar pela praia, me fez lembrar da gente, andando de mãos dadas. Mas agora eu lembrei que se passou um tempo e ainda nem consegui agradecer pelo que ela fez.

Quando chegamos na rua de casa, minha mãe foi dando a ré para estacionar e eu me virei no banco para ver, através do vidro traseiro, a casa de Dona Irene.

As luzes acesas me deram frio na barriga.

Não era a minha melhor amiga idosa que estava lá dentro. Era Lisa Manobal.

E aí, tudo sobre ela, voltou na minha cabeça.

Abri a porta do carro e corri para dentro de casa, em direção ao meu quarto. Eu quase tropecei nos degraus, Kai e Kuma estavam eufóricos, me lambendo e pulando em mim. Eles me seguiram até o quarto, abanando os rabinhos.

Eu abri a minha mochila e saquei o binóculo.

Dei o máximo de zoom que pude pela janela. Eu conseguia ver a sala de Dona Irene do meu quarto, mas as cortinas ainda me atrapalhavam.

O vulto de Lisa passou.


Olhar para aquela cortina, e saber que era Lisa Manobal lá...

A garota me dando língua, cortina branca, margaridas, selinho, cochichados, namorada de Rosé, curtidas, capinha de pato amarela, buquê de margaridas, submundo, casaco, trabalho de literatura, bolinhas de papel, virgindade das coisas, rampa, ovos com bacon e um beijo, noite retrô e o hospital.

E depois tudo denovo.

A garota me dando língua, cortina branca, margaridas, selinho, cochichados, namorada de Rosé, curtidas, capinha de pato amarela, buquê de margaridas, submundo, casaco, trabalho de literatura, bolinhas de papel, virgindade das coisas, rampa, ovos com bacon e um beijo, noite retrô e o hospital.

Desde que conheci Lisa, ela está em tudo.

Desde que conheci Lisa e passei mais tempo com ela, tive memórias incríveis. E mesmo agora, eu a desejo e quero ter ela por perto. Ela me deixa nervosa e, ao mesmo tempo, ela me acalma.

Eu quero fazer ela perder a virgindade de pizza.

Mas não seria muito direto?

JENLISA | LARANJA ULTRAFORTE - O Experimento CientíficoOnde histórias criam vida. Descubra agora