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Vínculos familiares

Numa lanchonete repleta de luzes douradas e brancas, o ambiente resplandece em um brilho suave e reconfortante. Mesas polidas refletem a iluminação, criando um ambiente caloroso e acolhedor.

No canto mais afastado, Alexandre e Denise estão sentados lado a lado, envoltos nessa atmosfera de luz. Suas expressões entristecidas contrastam com a beleza radiante do lugar, seus rostos estão perto um do outro, e ao mesmo tempo, refletem  olhares perdidos, pois revelam uma conversa profunda e carregada de emoções.

O ambiente repleto de sons de outros clientes e da cozinha, preenche o espaço, mas o casal parece imerso em sua própria bolha de melancolia, procurando uma maneira de encontrar consolo ou solucionar seus dilemas.

Ele se lembra perfeitamente daquela noite silenciosa, quando Denise reuniu coragem para ir embora. Sentados à mesa da cozinha, sob a suave luz da luminária, ela confessou com olhos marejados a sensação avassaladora de ser incapaz de cuidar da recém-nascida. Lágrimas escaparam, traçando um caminho em suas bochechas, enquanto explicou como cada tarefa materna parecia um fardo insuportável, um peso que a consumia por dentro.

Secretamente, a ausência de Denise nunca deixou de assombrar Alexandre. Apesar de tentar preencher o vazio com outros relacionamentos, nada dissipou a sombra deixada pela partida dela.

Sua dor levou-o a estudar psicologia, não apenas na esperança de compreender o sentimento que assolava sua ex-parceira, mas também como um esforço incessante para resolver os próprios dilemas internos que persistiam.

— Afastar-se foi a maneira que encontrei naquele momento para tentar lidar com o que estava sentindo. — Denise revela desviando os olhos carregados de remorso, por um momento — Busquei ajuda para superar a depressão pós-parto, mas a culpa que carreguei apenas agravou ainda mais minha condição.

— Você sabia que eu estaria ao seu lado e que não precisava ir embora? Eu estava disposto a te ajudar. — questiona Alexandre, revelando a frustração e a dor acumuladas ao longo do tempo, enquanto une suas mãos, sobre o colo dela.

Ela ergue o olhar para lhe responder, os quais já estão mergulhados em lágrimas.

— Sinto muito, eu quis muito voltar, mas  quando percebi, era tarde demais! Eu já estava muito tempo longe de vocês e isso me deixou insegura. A incerteza sobre como seria recebida depois de tanto tempo me paralisou. — diz com dua voz embargada, e enxuga as lágrimas que escorreram, enquanto nega a cabeça, desaprovando as próprias palavras.

Um silêncio se instala entre eles, e enquanto ele a fita, seus olhos refletem a mágoa acumulada ao longo dos anos, mas também transmitem entendimento genuíno.

Ela respira fundo, tentando encontrar palavras que expressem seu turbilhão emocional para continuar.

— Até que resolvi pedir ajuda para seus pais e eles me contaram que você veio para essa cidade trabalhar, então reuni coragem e vim, porque preciso muito do seu perdão. Só com o seu perdão irei conseguir a paz interior. — Seu olhar busca desesperadamente uma resposta nos olhos de Alexandre, esperando encontrar ali um sinal de compreensão ou, quem sabe, uma chance para recomeçar.

O silêncio volta a pesar no ar, enquanto a sinceridade nas palavras de Denise revela a vulnerabilidade de suas emoções.

Após um momento de reflexão, ele respira fundo e responde com voz serena, mas carregada de emoção:

— Denise... eu te perdoo. Mas você precisa saber que o que aconteceu deixou marcas em todos nós, principalmente em Alissa.

Ela balança a cabeça devagar, tristonha, concordando com o que ele disse, depois encosta a cabeça no peito dele para abraça-lo. De olhos fechados, ele a retribui amorosamente.

Meu Coração é LaranjaOnde histórias criam vida. Descubra agora