Meu Coração é Laranja

5

Mágoas vindo à tona

Leana ergue o olhar e, para sua surpresa, se depara com um jovem vestindo um moletom preto, cabelos lisos levemente compridos e desalinhados. Um brinco reluz na orelha esquerda, enquanto um piercing no lábio inferior enfatiza seu sorriso caloroso. A covinha que aparece sem esforço em sua bochecha, adiciona um charme irresistível à sua aparência.

— Kael! — exclama Leana, surpresa e incrédula diante do reencontro inesperado.

Ele se abaixa para pegar o livro do chão e se levanta novamente, lendo o título.

— Fragmentos da mente, dois pontos. — sorri gentilmente para ela — Explorando os recantos da psicologia.

— Me dá aqui! — ela toma o livro da mão dele subitamente. — Não acredito que você está aqui!

— Pode acreditar. Sou eu, em carne e osso, beleza e perfeição, estilo e elegância... — diz, enquanto passa a mão em seus cabelos lisos, jogando-os para trás.

Ela nega a cabeça, ainda inconformada.

— Pois pode ir embora, palhaço! — ela aponta para a saida, sua voz cheia de irritação.

— Pra que? Agora que te encontrei, você não vai se ver longe de mim! — ele ri brevemente, mas não desfaz seu sorriso, mesmo percebendo o semblante irritado dela.

— Ninguém merece! — ela passa por ele para sair, mas tem seu braço agarrado e puxado de volta, fazendo-a olhar os olhos dele, o brilho profundo do castanho revela um universo de pensamentos e emoções guardados lá dentro, prontos para serem desvendados.

— Aonde vai? Ainda temos muito o que conversar. — o semblante dele agora mudou totalmente de descontraído para sisudo, irritando-se com a tentativa de fuga, sem ao menos lhe dar uma chance para dizer algo.

— Qual é o teu problema? — pergunta ela, encarando-o bem de perto e puxando o braço de volta — Você some por anos e depois aparece como se nada tivesse acontecido e ainda puxa o meu braço dessa forma?

Sem trocar mais nenhuma palavra, ambos se encaram por alguns segundos, em um silêncio tenso que fala volumes.

— Isso não faz sentido algum para mim! — ela conclui, e se retira dali. Alguns metros de distância depois, ela olha para trás e o vê, parado observando-a, com o mesmo semblante sisudo.

Com lágrimas nos olhos, Leana vê sua mágoa vindo à tona, enquanto percorre, com pressa, a alameda arborizada e segura seu livro sobre o peito.

— Queria nunca mais precisar vê-lo, nunca mais! — diz, com raiva em sua voz, passando a mão no rosto para secar as lágrimas que escorreram — Por quê? Por que ele voltou? Justo agora que tudo esta dando certo em minha vida e estou começando a esquecê-lo?

Ela entra em um prédio e sobe as escadas em direção à sua sala de aula. Ali, ela avista Kesse abraçada e trocando beijos com um rapaz de cabelos enrolados, curtos e olhos azuis, Wylan, seu namorado e amigo de infância de Kael.

— Kesse! — Leana a chama, fazendo-a virar o pescoço rapidamente, assustada. — Eu não queria ver aquela peste nunca mais!

— Quem?

— Kael! Ele voltou de num sei onde só para me infernizar! Deve ter saído do bueiro! Brotou do nada!