Meu Coração é Laranja

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Jeito magnético e olhar profundo

Com muita alegria, Leana arruma as malas junto a seu filho. Aquele sentimento de vazio que consumiu seu corpo por anos começa a se preencher de sentimentos diversos, como a esperança. A jovem mãe tem agora a esperança de ser feliz com a avó.

Sem sequer se despedir de Afonso, seu pai, ou comunicar que estão saindo, mãe e filho caminham juntos até a casa dela. Por Valenciana não ser tão grande, logo chegam ao local.

Há uma casa branca com paredes de adobe, as janelas de madeira pintadas de azul possuem venezianas, e uma varanda com colunas decorativas adorna a frente da casa. O telhado, inclinado e coberto com telhas terracota, é um elemento distintivo. Apesar de estar acostumada com uma vida mais confortável, não se importa com a simplicidade que irá ter de agora em diante.

Elara chega para atendê-los com um sorriso no rosto, destacando suas bochechas rosadas. As rugas mostram que já tem idade avançada e sua pele queimada de sol revela teve uma vida dura na mocidade, mas nunca deixou de ser vaidosa e ostenta cabelos tingidos de castanhos claros, o que cobre suas raízes brancas. Ela se aproxima, toda emocionada, secando as mãos em seu vestido florido e abraça a neta e o bisneto, no colo da mãe, ainda na varanda da casa.

A mulher, há anos viúva, enfrentou uma longa batalha de saúde, impedindo-a de oferecer o suporte desejado à família. Agora curada, ela se regozija ao recebê-los calorosamente em sua casa.

A avó, paciente e dedicada, os espera com um pão caseiro fresco, disposto sobre a mesa. Com presteza, ela se apressa em preparar café. Leana, imersa em memórias, reflete sobre como essa cena acolhedora a acompanhou desde a infância até os dias atuais, agora compartilhando-a com Theo.

Elara, conhecedora do jeito rígido e frio de seu filho Afonso, antecipa uma longa conversa, talvez até um desabafo, da parte da neta. E não demora muito após a chegada deles para que Leana compartilhe abertamente tudo o que tem enfrentado desde o início de sua gravidez.

A casa tem uma sala ampla que reflete a simplicidade e elegância, possuem pisos de madeira e uma decoração cheia de fotos da família e artigos religiosos. Os móveis são de madeira escura, como mesas e cadeiras ornamentadas. Tapetes feitos a mão de tecidos adornam o chão, e várias plantas e flores espalhadas dão um perfume suave ao ambiente, acrescentando um toque acolhedor.

A casa há também uma pequena cozinha, uma copa e um banheiro. E finalmente, dois quartos, um deles será dos novos moradores, que descansam um pouco com um longo cochilo depois da recepção.

Leana tem a sensação de que tudo parece estar se encaixando em sua vida. Seu emprego sólido, a confortável residência e a perspectiva de começar, nos próximos meses, o curso de Psicologia na prestigiada universidade local preenchem-na com uma sensação de realização e promissora expectativa.

★★★

Meses arrastaram-se com lentidão, impulsionados pela ansiedade que paira no ar, antecipando o tão aguardado início das aulas.

Num tranquilo domingo de manhã, um homem, aparentando cerca de 35 anos, adentra o estabelecimento onde ela trabalha. A jovem, curiosa, observa atentamente, notando nele um semblante visivelmente abatido. Seus traços negroides são marcantes, e a barba por fazer e os cabelos cacheados, desalinhados, sugerem uma manhã tumultuada. Vestindo uma camisa social cinza amassada, calça jeans e sapatos sociais que pedem um cuidado extra, ele parece um retrato de inquietação.

Ao se aproximar para atendê-lo, ela observa de perto a estonteante beleza de seu rosto e se questiona se ele é recém-chegado à cidade, pois com tamanha beleza, ela acredita que já deveria tê-lo notado em algum lugar há tempos.