Capítulo IV. Um rei de joelhos

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I.
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— Caramba! Cuidado, dói!

— É um ferimento! — Izuku faz o possível para que sua voz soe firme. Isso costuma funcionar quando se trata do Rei Katsuki Bakugo —. Se não parar de se queixar, não vou conseguir limpá-lo antes de aplicar a pomada de Mina!

— Só se apresse!

O problema é que ele tem um caráter terrível. Izuku supõe que a dor o piora, mas não quer lidar mais com isso. Já foi o suficiente por toda essa noite. Ele passa uma última vez um pano úmido sobre a pele ferida e depois aplica a pomada que Mina deu; ele está sentado no chão e o Rei Bárbaro sobre um monte de almofadas. Não é necessário cauterizar. A magia fará o trabalho. Só precisa enfaixar, e Katsuki deixa que ele faça isso em paz, sem dizer nada. A faixa cobre uma parte de seu abdômen e Izuku apenas pergunta se não está muito apertada depois de ajustá-la bem. Katsuki nega com a cabeça. Pergunta se pode respirar, ele assente.

— É verdade — diz Katsuki, quando Izuku faz menção de se levantar —. Não quero que morra.

Izuku assente apenas para fazer algum gesto. Não o perdoa por suas palavras anteriores, porque ele não se desculpou, mas reconhece o que ele está dizendo naquele momento.

— Não acho que você seja tão cruel — diz Izuku.

É verdade.

Os dias, pelo menos, o ajudaram a construir uma imagem de Katsuki. Um retrato distante, mas um retrato afinal. Ele se levanta e sente todo o cansaço, sente como ainda tem folhas nos pés porque não teve forças para esticar o braço e removê-las. Os pés estão cheios de terra, lodo e sujeira, e parece que a Katsuki não se importa que ele esteja deixando todas as marcas de suas plantas no chão.

Ele vai procurar um recipiente com água e os limpará quando estiver em seus aposentos, pensa. Depois.

— Ei, espere — diz Katsuki.

Ele o puxa pelo pulso.

— O que?

Izuku está cansado. Quer dormir.

— Você está sujando o chão com lama.

Ele contém a vontade de revirar os olhos. Ele se segura por pura cortesia. Ele também prende o nervosismo dentro de si. Katsuki o faz sentir uma mistura de coisas demais que não pode ser boa para seu corpo.

— Quer que eu limpe também, Katsuki?

O Rei Bárbaro rosna. É um som baixo, quase inaudível. Parece incomodado, e isso faz com que Izuku recue um pouco. Puro instinto, ele pensa. Puro medo que não tem a ver com Katsuki. Ele pode ser rude ao falar, mas Izuku nunca o viu levantar a mão para ninguém no palácio. Sentiu sua brutalidade pela primeira vez na floresta, antes, com os feiticeiros. Nunca no palácio. Então, todas as reações vêm de mais longe, ele sabe. Mas não vai sondar tudo isso nesse momento.

Que noite longa, pensa. E no final da frase em sua cabeça, sente-se tentado a adicionar um palavrão, mas se segura.

— Não, droga, não é isso, príncipe idiota. — Katsuki se levanta sem soltá-lo e o puxa —. Sente-se ali. Sobre os almofadões. — O empurra para onde estava um momento antes, e Izuku sente a suavidade dos tecidos do lugar onde Katsuki estava sentado em seus braços. Ainda sente um pouco do calor dele —. Fique aí.

Katsuki se aproxima de onde ele deixou um recipiente cheio de água. Deixa o pano sujo e ensanguentado esquecido, mas pega outro.

Izuku não entende o que está acontecendo quando o Rei se ajoelha na frente dele, com essas duas coisas na mão.

Olhos verdes, olhos vermelhos (BAKUDEKU-Tradução)Onde histórias criam vida. Descubra agora