I.
A chegada da primavera é celebrada com coroas de flores e um banquete para se despedir do inverno. Não é muito diferente de outros dias, pois o inverno deixa todos exaustos e a primavera é o início de um novo ciclo. Mina e Denki fazem coroas de flores para todo mundo. Eijiro adiciona escamas à de Denki —e passa horas a aperfeiçoá-la—; coloca-a na cabeça de Denki, e pela maneira como o mago a porta, fica claro que é muito mais valiosa do que todo o ouro e prata do mundo. Eijiro o atrai para si e lhe dá um beijo na testa, levantando-o no ar enquanto Denki lhe coloca sua coroa de flores, todas amarelas. "Como o sol", ouve Katsuki que ele diz.
O Rei Bárbaro não tem paciência para flores nem para coroas, então recorre a Mina. Nunca antes ele se importara em participar das festividades de maneira ativa, mas a bruxa lhe salva a pele escolhendo todas as flores vermelhas que encontra, fazendo uma enorme coroa para Izuku, que Katsuki coloca sobre os cachos verdes com um sorriso de canto de boca. Em troca, recebe um buquê de flores, porque isso é costume no sul.
—Lamento não ter uma coroa —diz Izuku.
Mas não há problema. Porque Denki e Eijiro fizeram uma —embora esta não tenha escamas vermelhas— que agora pendura dos chifres do crânio do cervo. Pela primeira vez, é possível caminhar por todos os jardins do castelo, então não é difícil para Izuku encontrar um pequeno canto para ficar a sós —a última vez que treinaram acabaram tendo público— e levar Katsuki.
E Katsuki se deixa levar porque ainda está enfeitiçado por seus olhos —talvez desde o dia em que chegou— e se torna difícil negar-lhe qualquer coisa. Às vezes, ele se vê desejando construir sobre todos os maus momentos de Izuku, porque o príncipe não merece nem um grito, nem uma palavra ruim. Não merece nada de mal, porque tudo nele é uma eterna luta pela paz, pelos acordos e pela tranquilidade. Às vezes, ainda se esquece de respirar quando o olha diretamente nos olhos e parece que o verde dos olhos de Izuku se insinua até sua alma.
—Acho que te devo uma história —diz Izuku— desde há mais de uma estação.
E Katsuki assente.
Izuku começa de novo desde o início: desde a sede de Orokku, o feiticeiro, por aprender magia e feitiçaria. Vai mais rápido do que das primeiras vezes que contou a história, mas relembra tudo, parte por parte: a viagem à grande floresta, berço de todas as criaturas feéricas, seu encontro com a fada, seu aprendizado, seu amor. E então, quando chega ao ponto de inflexão em que parou da última vez, hesita. Parece incerto em continuar.
—E então? —pergunta Katsuki—. O que aconteceu depois? Foram idiotas e estragaram tudo?
Izuku nega com a cabeça.
—No sul, essa pergunta era respondida com um "pior: se empenharam tanto em seu amor que esqueceram do mundo" —responde Izuku—. Sempre me pareceu imprecisa e, de fato, equivocada. —Suspira—. Orokku tinha que voltar para seu povo e sua terra. Magos, feiticeiros e bruxos serviam nas cortes, mas nenhum servia ao povo: não havia magia para os camponeses que cultivavam a terra e garantiam que todas as bocas do reino... de todos os reinos, na verdade —corrige—, estivessem alimentadas. Não havia magos nem feiticeiros nem bruxos para as costureiras, para as lavadeiras, para os lavradores. Então, era seu dever voltar. Mas... veja bem. As fadas são seres mais egoístas que entendem pouco do mundo dos homens. Raras são as fadas viajantes, como a que você encontrou mais ao norte —diz Izuku—, que se atrevem a olhar, ainda que com curiosidade antropológica, para o mundo dos homens e das mulheres. A fada de Orokku não era uma delas e, portanto, não compreendia o mundo nem seus meandros.
»Não entendia que Orokku tinha um dever, cravado por ele mesmo, dentro de si. Não compreendia que ele tinha que voltar. As fadas passavam toda a vida na floresta. A terra era sua mãe. As árvores toda a família que conheciam. —Izuku encolhe os ombros—. O mundo dos homens era estranho e diferente e a fada não queria perder Orokku por ele.
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Olhos verdes, olhos vermelhos (BAKUDEKU-Tradução)
RomanceIzuku é a peça mais importante de um tratado de paz entre os bárbaros do norte e seu vizinho do sul. Hisashi Midoriya salvou sua vida oferecendo seu filho em casamento. Katsuki Bakugo está desesperado para alcançar a paz. "O príncipe olha nos olhos...