I.
Do caminho, ele se lembra de escuridão e de um cheiro de poção sonífera. Lembra-se de letargia absoluta e de algumas vozes às vezes.
É difícil se concentrar em algo desse jeito.
O caminho, além disso, não tem tempo.
O tempo fica em pausa sempre que ele cai na escuridão absoluta. Podem ser dias, semanas, horas. Izuku não sabe. Ele tenta manter a mente calma, mas é difícil quando, ao acordar, busca o cheiro de Katsuki e não o encontra. É adocicado, curioso. Sua pele sempre cheira aos perfumes com os quais os bárbaros mantêm as peles cheirosas. Assim, muito antes de poder abrir os olhos e antes mesmo de ouvir algo, Izuku busca um cheiro que não encontra, e aquele ambiente asséptico o faz se sentir profundamente abandonado, à deriva.
Então, muito antes da visão —quase nunca consegue abrir os olhos—, vêm as vozes. Seus ouvidos se afinam e ele pode ouvir o que dizem, mesmo que não entenda o que está acontecendo.
—Você deveria ter me deixado terminar, ele não podia se defender.
—Idiota, ele ia te matar. Você sabe o que o príncipe Shouto pode fazer com seus poderes...
—... quando não está paralisado. Ele o paralisou.
Alguém bufa.
—Não íamos alimentar seu desejo irremediável de vingança, imbecil. Himiko e eu combinamos o plano com Tomura.
—Eu poderia tê-los acabado...
—Na próxima vez. Não te ensinamos que a vingança se serve...?
—Ei, Himiko, ele já está acordando. Melhor...
Izuku não ouve a última parte da frase. Alguém coloca perto do seu nariz um frasco de poção sonífera e a escuridão o envolve. Ele a aceita com um abraço.
Em seus sonhos, pelo menos, ele pode ver Katsuki. Também sua mãe. Às vezes Eijiro e Denki, que cruzam os céus. Ele enfrenta a escuridão, sim, mas a escuridão profunda dá menos medo. Lá ele conjura todos os sonhos para combatê-la e tenta com todas as forças se aproximar do mundo onírico, sem sucesso.
É muito mais aterrorizante a escuridão antes de acordar. Quando é evidente que está sozinho, desamparado e é apenas um prisioneiro.
Ele acorda —dessa vez por completo e de verdade— e a primeira coisa que sente é um peso em seu pulso esquerdo que antes não estava lá. Ele o sente ao tentar se mover para se acomodar no peito de Katsuki, para dar de cara com a realidade e se lembrar de que não está com ele e não está deitado em nenhuma cama que compartilhe com o rei. Ele se acostumou ao corpo de Katsuki de uma forma que se torna dolorosa diante da ausência. Sente que falta algo quando não pode se enroscar em seu peito e os braços de Katsuki não o envolvem. Dormem juntos muitas mais vezes do que separados, e aquela ausência que Izuku pode sentir em sua própria pele o arde.
Seu braço se move esperando sentir o Rei Bárbaro e se depara com uma realidade muito menos gentil.
E, claro, pesa muito mais do que deveria.
Há um grilhão nele. O som da corrente ao se mover é o que o faz abrir os olhos e se encontrar em um lugar bastante desolado. Ele reconhece os quartos de um templo, com suas colunas sustentando os tetos e sua pintura desgastada. Provavelmente um lugar onde, em algum momento, as sacerdotisas se hospedaram. Agora parece abandonado. Há um par de biombos quebrados, com a pintura desbotada, diante de Izuku.
Isso é a primeira coisa que Izuku vê, mas ele não tem tempo para se concentrar nas imagens dos biombos —todo biombo conta uma história—, porque percebe que não está sozinho.
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Olhos verdes, olhos vermelhos (BAKUDEKU-Tradução)
RomanceIzuku é a peça mais importante de um tratado de paz entre os bárbaros do norte e seu vizinho do sul. Hisashi Midoriya salvou sua vida oferecendo seu filho em casamento. Katsuki Bakugo está desesperado para alcançar a paz. "O príncipe olha nos olhos...