Capítulo XVI. Cavalgar o vento

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I.

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As despedidas nunca deixam de ser difíceis. É a segunda vez que o príncipe Izuku Midoriya se despede de sua mãe sem saber quando vai revê-la. Pelo menos, ainda têm a noite inteira.

Chiyo tenta dizer a Izuku que preparou um quarto para ele, ao lado da princesa Momo, mas sua mãe a interrompe e diz que Izuku vai dormir com ela. "Como quando ele tinha quatro anos e eu o enterrava em minhas cobertas", e diante disso, Izuku não consegue evitar ficar corado, mas aceita. A noite é deles, e Chiyo não objeta. Apenas o olha com aqueles olhos grandes e amáveis e o adverte para não fazer Inko se cansar demais.

Izuku concorda.

O jantar é trazido por algumas sacerdotisas jovens e colocado sobre a mesa. Izuku tenta ajudá-las, mas elas não permitem. "Não, Sua Alteza, não é necessário". Ele não insiste porque sabe que não adianta. Depois de jantar, Izuku ajuda sua mãe a se acomodar nas cobertas, e ele se dirige à bacia em um dos cantos do quarto para limpar as mãos, os braços, o rosto.

Até se sentir limpo novamente, ele vai até a cama.

Sua mãe bate de leve em um lado.

—Venha. Escute uma história.

—Mamãe, Chiyo disse que não devo te cansar tanto...

—Ah, uma história não fará isso.

—Nunca é apenas uma.

—Bem, ainda é cedo, Izuku, ouça uma história. —Ele se vira e a encara nas cobertas. Consegue ver seu rosto porque ainda há algumas lâmpadas acesas—. Está bem?

—Está bem.

Izuko suspeita que seu amor por histórias e seu cuidado ao contá-las – todas que ele ouviu Katsuki contar nos meses que está vivendo no norte, por exemplo – tem a ver com seus primeiros recordes cheios da voz de sua mãe falando sobre romances épicos, grandes heróis, lendas da época em que sua mãe ainda não caminhava sobre a terra. Ele aprendeu a dormir ouvindo-a.

—Era uma vez um homem com cabelos e barba azuis como safiras. Isso não é estranho, é claro, porque o cabelo existe em todas as cores, mas esse homem era especialmente famoso pela maneira como cuidava de sua barba, o que fazia com que todos olhassem em sua direção... Era, é claro, um nobre. Um marquês ou um duque, não me lembro.

Izuku sorri, conhece as palavras que seguem.

—Depende de quem conta... —ele acrescenta.

Sua mãe responde ao sorriso.

—Claro. Mas este marquês sofria de uma terrível maldição, pois havia ofendido as bruxas muito tempo atrás —sua mãe continuou—, e elas o condenaram a nunca conhecer o verdadeiro amor, pois todos os espíritos malignos se apoderariam de seu ser assim que ele amasse alguém de verdade e destruiriam o objeto de seu amor. É claro, essa é uma maldição terrível, então ele procurou ajuda por todos os lados... Não se pode tentar os espíritos malignos. Nem mesmo os feiticeiros se atrevem a chamá-los. Pobres seres, presos entre aqui e lá...

—... no eterno limbo entre a vida e a morte —completa Izuku—. Eu sei. Você esqueceu a parte em que destaca que é uma história antiga, da época dos necromantes e da magia espiritual, agora proibida.

—Você sabe melhor do que eu.

—Continue, por favor. —A voz de sua mãe é uma magia em si. O encanto está na costura de palavras, uma atrás da outra, tecendo uma história com cuidado.

Olhos verdes, olhos vermelhos (BAKUDEKU-Tradução)Onde histórias criam vida. Descubra agora