Capítulo XXXII. O Profeta

14 1 1
                                    

I. 

A viagem para o sul levou vários dias. Katsuki deixou Kyoka no comando — com Momo e Itsuka como suas pessoas de maior confiança, dizendo que, com elas, nada poderia dar errado. Eijiro e Denki também seguiram rumo ao sul com eles — Denki estava curioso, e Eijiro comentou que seria ótimo não reviver toda a sua experiência ruim da última vez que levou Izuku. Ochako e Tsuyu aproveitaram para visitar suas respectivas famílias; Ochako sentia saudades dos pais, e Tsuyu queria saber como estavam seus irmãos. Mina as acompanhou, curiosa para conhecer o sul, sendo ela a última a fechar a comitiva. A correspondência entre o norte e o sul ainda era rara, apesar de não haver mais guerra.

Era verão, e todas as estradas estavam desimpedidas, o que tornava a viagem um pouco mais agradável. Eijiro podia esticar suas asas e voar acima deles, dando voltas em círculos por um bom tempo. Na maioria das vezes, Denki montava sobre ele, mas às vezes deixava que Katsuki se segurasse em seus chifres, ou Izuku apreciasse a vista das alturas. Ele também convidava Ochako e Tsuyu, que aceitavam, embora com menos frequência, pois Ochako facilmente ficava tonta.

O clima mudou antes de cruzarem a fronteira, quando pararam ao lado de um rio. Ali, já os aguardava uma comitiva que os acompanharia até a capital, garantindo que não tivessem contratempos no caminho.

Izuku, porém, refletiu que viajar por terra não era a mesma coisa que voar, como fizeram na última vez com Eijiro.

A comitiva ainda estava do outro lado do rio, e, embora a mudança de ambiente fosse notável, eles tinham mais uma noite de solidão. Izuku sabia que, assim que cruzassem o rio, estariam sujeitos a todos os pequenos rituais e protocolos que o sul reservava para a nobreza. Katsuki acendeu uma pequena fogueira para assar os peixes que Eijiro havia pescado, e eles se prepararam para passar a última noite livre.

— Foi na época em que nos conhecemos — disse Eijiro, pensativo. — Nos primeiros tempos.

Katsuki sorriu de canto, mas permaneceu em silêncio.

Mina bufou, recostada no peito de Ochako, com Tsuyu ao seu lado.

— Você sente falta de não ter uma cama quente para dormir toda noite? — perguntou, franzindo o cenho.

— Mina, ele é um dragão — disse Denki. — Ele não sente frio e pode dormir em qualquer lugar.

A bruxa bufou novamente.

— Claro, mas havia guerra. Não sinto falta daqueles tempos. Prefiro agora, quando não preciso me preocupar em curar suas feridas idiotas — respondeu ela. — Ou usar minha magia para lutar.

Izuku apenas os observava. Ele não conseguia imaginá-los naquele tempo, mas tentava. Mais jovens, mais imprudentes, mais desesperados, sem sequer uma base para construir o mundo pacífico com o qual sonhavam.

— Mas houve bons momentos — disse Eijiro. — Nem sempre. Não durante as batalhas. Nem quando alguém estava ferido. Mas houve bons momentos. Eu gostava das histórias.

Izuku não conseguiu se conter naquele momento.

— Histórias?

Katsuki pigarreou.

— Fazíamos turnos de guarda — explicou. — Muitos guerreiros bárbaros, dragões, exércitos do sul nos caçavam. Então, alguém tinha que ficar acordado o tempo todo. Normalmente, éramos dois. Para não pegarmos no sono, contávamos histórias. Qualquer uma que soubéssemos. Ou conversávamos, mas, na maioria das vezes, eram histórias. Era mais fácil ouvir.

— Minha favorita — interrompeu Denki — é a do Grande Dragão Azul. Era Eijiro quem contava.

— Por isso é sua favorita — comentou Mina, com um sorriso.

Olhos verdes, olhos vermelhos (BAKUDEKU-Tradução)Onde histórias criam vida. Descubra agora