Capítulo XXXV. As Terras Amaldiçoadas

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I. 

Eijiro o espera no pátio. Katsuki carrega sua espada e alguns frascos com preparações curativas de Mina. Ele está pronto. 

—Coração, escuta, é demais...

—Eu poderia ir, minha magia é poderosa, Eijiro. Katsuki sabe disso. 

—Coração.

Normalmente, essa forma como Eijiro chama Denki quando ninguém mais os vê ou ouve é muito mais íntima. Não é algo para qualquer um ouvir. Mas Katsuki percebe o desespero na voz de Eijiro à distância. 

—É o melhor. 

—Não é. Eles vão precisar de ajuda. Izuku vai precisar de ajuda —insiste Denki—. Minha magia é poderosa. 

Katsuki interrompe, para deixar clara sua presença. 

—É uma zona infestada de magia amaldiçoada, seu mago idiota. 

—Eu poderia ajudar. —Denki nem sequer se afasta de Eijiro para responder. Mantém seus olhos fixos no dragão, que é quem ele quer convencer. Ele encosta sua testa na de Eijiro e parece se recusar a deixá-lo partir—. Eu poderia... 

—Não vai adiantar nada se fritar seu cérebro por causa do ambiente amaldiçoado, mago idiota —retruca Katsuki, de qualquer forma—. Eijiro nunca me perdoaria se eu te colocasse em risco assim. Eu também não me perdoaria.

Denki parece magoado. Nunca gostou de ficar para trás. No norte, a chegada de um mago costuma ser algo agourento. Magia é uma bênção quando usada por bruxas, mas o toque dos feiticeiros é temido, e magos nascem em meio a tragédias e tempestades. As pessoas os respeitam quando não os conhecem, mas mantêm distância em sua presença. Há algumas aldeias que são exceções, mas a de Denki não era uma delas. A tempestade que lhe deu magia deixou mortos e fez com que ele perdesse tudo. Para as pessoas que viviam lá, Denki sempre deveria carregar a culpa pelo que sua magia causou. 

—Nos dê um momento, Katsuki —pede Eijiro. Seu tom não aceita réplica.

E o Rei Bárbaro se afasta. Eijiro e Denki são seus melhores amigos. Estiveram com ele —junto de Mina, que nunca mente ou adoça suas palavras— desde o início. Katsuki não percebeu quando juntou um grupo de desamparados com poucas coisas —aparentemente— em comum, até se tornar um deles e ser sustentado por eles o tempo necessário. Às vezes, assim como ele faz com Izuku, Eijiro e Denki mergulham em um mundo que pertence apenas a eles. 

Eles estão nesse mundo agora, quando Eijiro diz "coração" e explica pela milésima vez por que ele não pode ir. 

Katsuki se mantém à margem, com a mão sobre a bainha da espada. Essa lâmina de metal pouco pode fazer contra magia pura ou corrompida. "Sua lâmina ataca pessoas, Katsuki", ressoa dentro dele a voz de sua mãe. Teimosa. Repetitiva até a exaustão. Por que odiava tanto isso nela quando a tinha diante de si, e agora sente falta de ouvi-la repetir as mesmas coisas, temendo —embora incapaz de admitir isso fora de sua mente— esquecê-las. "Ela pode repelir qualquer ataque físico, mas quando a magia é apenas magia e não tem outro condutor, pouco pode fazer. Você precisa aprender a se defender de outras maneiras". Aprender que força bruta não resolvia tudo lhe custou cicatrizes e dores. 

—Rei Bárbaro.

A voz que o interrompe é grave, árida. Ele reconhece Shouto Todoroki antes mesmo de erguer os olhos para vê-lo. O príncipe é realmente a encarnação do sul. Mantém a compostura mesmo quando Katsuki percebe que está perdendo o controle, com uma mão apertando o emblema do floco de neve em seu peito. Nesse dia, ele não usa as tranças habituais no cabelo, apenas um meio coque bagunçado com uma presilha, e o restante do cabelo cai em desordem. Seu pescoço está enfaixado e, sob as mangas largas de sua jaqueta bordada, há ainda mais ataduras. 

Olhos verdes, olhos vermelhos (BAKUDEKU-Tradução)Onde histórias criam vida. Descubra agora