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Passou algum tempo desde que as famílias estavam reunidas naquela sala. Os jovens davam atenção para os filhotes que não paravam de pular e correr entre os outros gatos, porém a mente de cada um deles estava em outro lugar, distante.
Os gatinhos adormeceram alguns minutos depois de comer e ainda não havia notícias de Jiwoon ou dos pais de Taehyung e Jimin. Yoongi segurava a mão do namorado, enquanto olhava para o céu e Jungkook estava em um abraço com Taehyung.
A noite já começava a cair e a porta finalmente se abriu. Jiwoon olhou para seus filhos.
— Podemos ir para a casa juntos? — Yoongi o olhou ainda mais confuso — Eu vim de carona com o Trevor — O homem respondeu.
— Tudo bem. — Yoongi esperou Jungkook se despedir de Taehyung com um abraço tímido por conta do pai, mas o jovem que sempre gostou de provocar o homem se despediu de Jimin com um beijo demorado.
O homem olhava para ele sem nenhuma expressão, não era possível decifrar o que passava pela sua mente.
O caminho mais uma vez seguiu lento e tortuoso, nenhum dos três falava alguma coisa, nem mesmo Jungkook se atreveu a puxar algum assunto aleatório.
Finalmente eles chegaram em casa, Jungkook e Yoongi estavam subindo as escadas, quando Jiwoon perguntou.
— Vocês já comeram algo? Podemos pedir alguma coisa para o jantar se estiverem com fome. — Ele olhava para seus filhos com expectativas.
Yoongi e Jungkook suspiraram em uníssono, negando com a cabeça.
Eles pediram comida mexicana, apimentada, da mesma forma que esperavam que seria a conversa.
— Eu não sei por onde começar, eu... — Jiwoon disse — Eu fiquei sabendo sobre o abrigo... — O homem parecia desanimado.
Os meninos se entreolharam, mas ficaram em silêncio.
— Sol me contou o quanto vocês estão amando trabalhar lá e isso me deu um sopro de alívio. Pelo menos dessa vez não falhei com vocês e sinto que fiz algo que realmente os ajudou genuinamente, mesmo que tenha sido por motivos que só agora eu compreendo... Trevor também me disse muitas coisas sobre vocês durante esse tempo. — O homem esboçou um sorriso fraco enquanto falava.
Jiwoon ficou um tempo em silêncio, pensando no que dizer, mesmo tendo passado a semana toda refletindo, ele ainda não sabia a melhor forma de pedir desculpas ou tentar começar a consertar seus erros.
— Há bilhões de anos atrás não existia nada, não existia estrelas, planetas e nem mesmo a galáxia. — Yoongi passou a olhar para o pai. — Existe uma teoria de que o universo foi criado após uma imensa explosão e a partir daí ele foi se expandindo aos poucos, até que surgissem as estrelas.
O olhar de Yoongi voltou a ser duro.
— Eu sei que por muito tempo eu fui o responsável por vocês perderem a luz, eu tentei por diversas formas que vocês tivessem tudo, porém eu esqueci do mais importante — O homem suspirou.
— Quando houve a explosão gigantesca, confusa, violenta e que talvez ainda seja um mistério, meu universo teve início... ele parecia estranho e complicado, tudo ia se formando muito lentamente, as explosões não cessavam e ainda ocorrem, mas, quando as estrelas surgiram, meu universo teve outro tom, um mais bonito. — Jiwoon olhava para os garotos.
— As estrelas são importantes, elas podem parecer simples para uns, sem graça para outros ou até passarem despercebidas em alguns momentos, mas sem elas a civilização não evoluiria como evoluiu. — Yoongi e Jungkook mantinham toda a atenção no pai.
— Muitas navegações importantes na história foram guiadas pelas estrelas. — Jiwoon falava lentamente, como se quisesse prolongar aquele assunto.
— É assim que me vejo quando estou com vocês, vocês são meus guias... só que quando a mãe de vocês se foi... eu fiquei perdido, tão perdido que não me lembrava de olhar para vocês, que são minhas estrelas, meus mais preciosos astros que deixei escapar pelas mãos sucumbindo ao extremo vazio. — Jiwoon suspirou — Meu barco se perdeu na imensidão e eu me tornei um náufrago.
— Eu gostaria de consertar os meus erros novamente... de começar a repará-los... de encontrar o meu ponto de navegação. Preciso achar meu norte para enxergar vocês em terra fixa, já que eu nem os reconheço mais. — O homem respirou pesadamente — Nem eu me reconheço...
— Não me orgulho disso, na verdade sinto que fracassei completamente. Achava que estava fazendo o certo em manter vocês longe do meu vazio, quando na verdade eu suguei vocês para dentro dele sem nem perceber todo mal que fiz... A vida é feita de memórias, e quando paro para pensar que eu sequer acompanhei vocês quando enfrentaram o luto enquanto concluíam o ensino médio e entraram na faculdade, sobre o que fazem, as decisões que tomam juntos, o que gostam ou quem vocês estão se tornando e até mesmo se relacionando, me faz perceber que não sou diferente daqueles que são apenas progenitores de estatísticas... — O homem dizia olhando fixamente para os meninos.
— Sei que é um processo lento e nada fácil, não estou em posição de pedir nada a vocês, mas só quero dizer que vou esperar pelo dia que vocês estiverem prontos para me perdoar. Não vou pedir a vocês que façam isso de imediato, já que nem eu estou pronto para me perdoar. Mas saibam que minha ausência e a frieza que habita esta casa não são mais bem-vindas em nossas vidas. Prometo estar aqui por vocês, mesmo que não queiram, eu estarei aqui por vocês. — O homem finalizou, em seu rosto havia algumas lágrimas silenciosas.
Yoongi suspirou, meio sem jeito, frustrado, com medo e inseguro. Jungkook, que sempre seguia o irmão, compartilhava do mesmo sentimento.
Yoongi se lembrou de todas as vezes que o pai o havia contado histórias sobre o universo e lhe ensinado tudo que ele sabia... somente porque o menino perdido, tinha lhe contado que gostava de estrelas.
Houve muitos momentos na vida de Yoongi em que ele queria contar coisas para o pai, sobre como ele havia escrito uma música que falava do universo e tinha analogias inteligentes como as que eles faziam em conjunto. O garoto sempre quis poder mostrar ao pai uma nova música que ele tinha escrito e que somente Jungkook tinha ouvido, no seu coração tudo que ele queria era que o pai pudesse enxergá-lo novamente e que tivesse orgulho do homem que ele estava se tornando.
Jungkook também se lembrou de todos os momentos que o pai lhe incentivou a fazer tudo que ele queria, inclusive quando o pequeno rabiscava todas as paredes da casa e nunca recebia um sermão, o pai o incentiva, meio sem jeito, a continuar com seu trabalho artístico. O menino queria contar para o pai que havia se tornado um pintor incrível, que seus trabalhos na faculdade sempre eram elogiados e que agora ele tinha alguém que o amava e amava tudo que ele fazia incondicionalmente.
Jungkook queria poder compartilhar com o pai sobre o quanto era engraçado ele ter se tornado o grande artista que Jiwoon sempre julgou que ele seria quando comprou telas brancas para o pequeno colorir ao invés das paredes. O garoto sempre quis contar para o pai que apesar de suas obras serem incríveis, ele ainda não conseguia desenhar estrelas em uma torrada.
O caminho para o perdão era complexo, cheio de curvas e linhas tortas pela frente, escuro, vazio e silencioso. Jungkook era um excelente pintor e com o tempo ele seria capaz de corrigir qualquer linha torta e dar cor ou outro significado a elas, Yoongi era um cantor magnífico, por onde ele passava nunca haveria o silêncio, suas palavras escritas de forma poética sempre preencheriam o espaço. Já os dois em conjunto eram capazes de iluminar qualquer lugar e fazer com que o vazio se tornasse cheio.
Os garotos subiram em silêncio para seus quartos, tentando absorver tudo que o pai havia falado, em seus corações ainda pesava o completo desconforto.
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Black Hole | taekook & yoonmin (concluída)
RomanceExistem infinitos corpos celestes pelo universo, os pequenos astros possuem luz própria, mas as estrelas da vida de Yoongi e Jungkook foram apagadas quando ambos perderam a mãe. A gravidade do universo dos irmãos havia sido alterada e agora tudo que...