Capítulo 4

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     Os dias demoram muito a passar. Parece que estou vivendo há três anos nas mesmas duas semanas. Sei que é tudo culpa da minha ansiedade, mas não consigo evitar. Só quero poder começar logo o trabalho.

     E quando o dia finalmente chega, mal consigo acreditar. Quase perco a hora, o que é uma ironia absurda, já que minhas noites de sono tem sido fortemente confrontadas pela minha insônia e todos os dias levanto às cinco.

     Mas esse dia em específico levanto às 7h. E o combinado é de estar no local às 8h. Que bela impressão eu daria de chegar atrasada logo no primeiro dia. E quem acha que os supervisores ficam esperando está muito enganado.

     Decido por tomar um banho rápido só para me fazer acordar direito e saio sem comer nada. Quando estiver chegando, passo em alguma padaria e compro um café e um pão qualquer. Seria melhor eles me verem comendo do que não me verem lá.

     Saio do carro exatamente às 7h55 e tenho cinco minutos de descanso até tudo começar efetivamente. Olho ao redor e não vejo nenhum rosto conhecido. Pelo menos, não no primeiro momento.

     Acho estranho e fico me perguntando se o combinado era estar lá às 8h mesmo. Leio o e-mail de convocação mais três vezes para me certificar de que não estou errada e, como sempre, vejo que não estou.

     Ou todos chegariam no último minuto, ou o professor tinha mentido para mim e eu era a única naquele caso, o que seria ótimo, diga-se de passagem.

     Faltam dois minutos para o relógio bater oito horas e um dos supervisores sai da tenda da polícia e vem me chamar. Pergunta se sou a única e o respondo que sim, aparentemente.

      Ele não parece muito satisfeito. Assim que entro junto ao homem, noto rapidamente a disposição dos equipamentos e das pessoas e me pergunto qual será efetivamente o meu trabalho ali.

     O supervisor, que se chama Antonio, pede para que esperemos os dois minutos restantes para ver se alguém mais aparece. Eu torço para que não.

     Esses minutos também demoram tanto a passar que dá tempo de escanear com minha mente fotográfica o que cada um dos presentes está vendo na tela do computador.

     É como um talento escondido. Diga-me uma coisa uma vez e eu não lembro mais cinco minutos depois. Mostre-me uma imagem por dois segundos e a detalho pelos próximos dias.

     Acho algo bem útil, afinal, fazer retrato-falado nada mais é do que olhar para alguém por pouquíssimo tempo e saber exatamente como definir aquela pessoa.

     Antonio volta à tenda desacompanhado. Sorrio largamente por dentro e deixo um micro sorriso se soltar dos meus lábios, mas o reprimo antes mesmo que ele possa perceber algo.

     Ando ao seu lado até uma mesa redonda no centro do local e posso ver vários mapas, fotos de Andrés de Fonollosa e de outros integrantes do bando. Tirando o líder, o restante parece um monte de moleques. Como aquilo dá certo?

     Tento incansavelmente prestar atenção no que o homem diz, mas vira e mexe me pego perdida em pensamentos e preciso fingir que ouvi tudo até ali. Sinto que isso pode me causar um baita problema algum dia.

     Fico realmente atenta quando ele diz que, por eu ser a única pessoa, sou a responsável pela perseguição, mas que será mais difícil porque eu também sou a responsável por estudar os mapas, os trajetos que eles fazem, as linhas telefônicas que utilizam.

     Enfim, tomo no cu. Se eu acho a Academia estressante é porque ainda não vivenciei algo assim na vida real.

     Enquanto Antonio continua a explicar, ouço barulhos de um carro lá fora, parecendo perto demais da tenda. A porta bate alto e me pergunto se a pessoa não possui geladeira daquela cor em casa.

     Ouço uma voz que pareço reconhecer, mas tento me focar nas palavras dele. Até que outro homem vem chamá-lo e ele me pede para esperar um minuto.

     Passo aquele tempo focada em tentar escutar a conversa, mas não me atrevo muito a chegar perto. Não quero receber uma anotação no primeiro dia, e com três eu estaria fora do jogo.

     Escuto, muito por cima, sobre não tolerar atrasos e entendo que é um dos meus colegas. Ótimo, vai ser incrível trabalhar em conjunto. A parte boa é que posso delegar as tarefas idiotas como monitorar as linhas telefônicas para ele.

     Antonio retorna irritado. Atrás dele, vejo uma figura mais baixa mas não consigo identificar de primeira. Tento olhar através de seu corpo, mas não é necessário, pois logo ele se posiciona ao meu lado novamente.

     Suspiro pesadamente e xingo baixo. Meu rosto começa a ferver de ódio, como sempre acontece, e sinto meu coração palpitar fazendo o sangue circular pelo corpo mais rápido.

     Porra, só pode ser brincadeira.

     Um sorriso cínico lateralizado vem em minha direção e eu xingo novamente, mais alto dessa vez.

     — Desculpe o atraso, colega, tive um imprevisto.

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~ O que estão achando dessa fanfic, hein?

Confesso que estou me divertindo muito e tem sido ótimo compartilhar com gente doida igual eu.

Beijos, até breve

Prenda-me se puderOnde histórias criam vida. Descubra agora