Capítulo 11

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     PUTA QUE PARIU, EU ME FODI. De verdade. Eu não sei como Antonio deixou aquilo acontecer se eu não dei a ordem. Ao mesmo tempo que estou fodida, estou puta da vida. Ganhei uma anotação especial que vale por duas, e já sabem, com três, estou fora.

     Se nada mais der certo agora, posso dar tchau ao meu estágio. E consequentemente, Raquel. Ela também está puta da vida, claro, porque eu estou botando em jogo tudo o que ela mais quer.

     Pelo menos, consegui arrancar uma informação útil de Raúl e agora estamos nos preparando para uma das partes mais importantes de toda a operação: capturar o restante do bando.

     Raquel está me impedindo de fazer muita coisa e sinceramente, não a culpo. Sei o quanto isso é importante para ela e para mim também, e eu não posso mais fazer tudo o que eu tiver vontade.

     E se eu a fizer perder o estágio por causa de algumas explosões não previstas, ela vai me odiar mais do que já está me odiando agora. Parece que o jogo virou, não é mesmo?

     Agora é ela quem poderia me matar com a força do pensamento e eu sinto isso claramente toda vez que ela precisa falar comigo. Ela já não brinca mais, já não me olha mais, já nem mesmo pede ajuda no que fazer.

     Novamente, não posso culpá-la. Agi completamente sozinha com base nos meus desejos e não levei em conta que ela poderia achar aquilo tudo horrível e dar outra ideia.

     Mas preciso confessar que é muito ruim voltar ao que éramos antes. Quase consegui ser amiga dela e estraguei tudo. Estava começando a me acostumar com os olhares sugestivos, os sorrisos não sarcásticos, as provocações.

     E agora precisaremos novamente entrar em ação e estou morrendo de medo. Estou mesmo, por tudo. Porque sei que vai ser ainda mais difícil do que antes, que precisamos trabalhar em conjunto e, principalmente, porque devemos ser uma dupla.

     Não só pessoas que trabalham lado a lado. Se eu não souber tudo o que ela pensa e vice-versa, a chance de sermos atingidas é muito grande. E eu não quero isso para mim e muito menos para ela.

     Quando comecei a me importar mais com a vida dela do que com a minha?

     É muito difícil nutrir sentimentos por alguém que costumava ser a minha maior rival, minha maior arqui-inimiga. E agora fico querendo protegê-la, que inferno.

     Concordei que vou seguir todos os passos que ela propor, mas vai ser complicado não agir. Raquel pensa demais antes de fazer, e talvez por isso ela seja tão boa, porque calcula exatamente todos os riscos que vai correr. Eu não, eu só corro o risco sem saber.

     Ela me disse para sairmos às três da tarde e eu só estou aceitando o meu destino de ser comandada por Raquel Murillo. Tenho pensamentos impuros demais sobre isso, mas o ar de superioridade que ela exala quando manda em mim... Tomara que ela não me ouça latir.

     Saímos juntas do posto policial, ela vai na frente. Ela está linda decidida desse jeito. A arma na cintura com o cabo para fora do coldre me dá arrepios só de pensar no que ela pode fazer.

     O cabelo solto com ondas no meio das costas voa com a brisa leve que bate. E ela está novamente com aquela calça preta mais larga, mas com uma blusa branca de manga comprida que ressalta ainda mais seus traços.

     Raquel Murillo é uma deusa e eu estou em adoração.

     Que pena que ela não me vê mais.

     Com o rádio na mão, ela dá ordens e eu sinto meu corpo estremecer com o tom autoritário. Preciso me controlar, senão sou capaz de empurrá-la na primeira parede onde estivermos sozinhas.

     Meu Deus, eu me tornei quem eu mais temia: admiradora de Raquel Murillo. Sigo seus passos calmamente, com o coração palpitando, parecendo que vai sair do peito. Tanto pelo nervosismo da operação, quanto por termos que trabalhar próximas assim.

     E agora que sei o que estou realmente sentindo, fico com ainda mais medo de tudo dar errado. Sabia que não era uma boa ideia sermos uma dupla. Disse desde o início que eu não queria ser responsável pelo estágio de outra pessoa.

     Se eu perdesse, seria ruim pra mim, mas não consigo ter que lidar com o fato de que minhas ações vão definir o futuro de alguém. Principalmente alguém que eu conheço tão bem e que sei do potencial de trabalhar sozinha.

     Ela arruma a postura e me diz que vamos entrar no hotel onde os assaltantes estão hospedados.

     — Você acha melhor fingirmos que não somos da polícia ou avisar o que está acontecendo, Alicia?

     — Ué, você está me pedindo ajuda?

     — Somos uma dupla, esqueceu? Temos que trabalhar juntas.

     — Certo — Fico envergonhada. — Acho melhor avisarmos, assim podemos pedir para trancarem todos os portões.

     — Ótimo, exatamente o que eu pensava. Vamos.

     Atravessamos a rua com os distintivos provisórios balançando no peito. A olho, e ela demonstra autoridade. Quando ela me observa, sinto que eu transpareço o mesmo, pois ela sorri.

     Andamos lado a lado até a recepção do hotel. Eles já nos recebem assustados. Parecem com medo. Raquel me deixa falar o que precisamos e me sinto ótima. Sinto realmente que somos uma dupla novamente e fico animada. Eles respiram aliviados por um momento e tenho uma sensação estranha.

     — Desculpe, mas não possuímos nenhum hóspede com o nome que vocês nos passaram.

     — Sim, eu imaginei. Pode ir passando pela foto de cada um?

     — Senhora, têm muitos hóspedes neste hotel.

     — Algum que tenha dado entrada há quatro semanas? — Raquel está impaciente.

     — Acredito que sim, um momento.

     Ele pesquisa no computador e vê o registro de oito pessoas. Apenas cinco deles eram parte do bando. Anotamos os números dos quartos na mão mesmo e andamos em direção ao elevador.

     Antes de entrarmos, Raquel pede para os colegas policiais da tenda ficarem em posição ao redor do hotel pelo rádio. Diz que sabemos em que andar estão hospedados e os avisa que são quatro, já que Raúl está conosco.

     Ela desliga o aparelho para evitar que falem algo, assim não podemos ser descobertas antes da hora. A não ser que alguém avise, claro.

     — Raquel, acho que essa operação não termina aqui. Sinto que o pessoal do hotel esconde algo.

     — O que acha que é, ruiva?

     Solto um sorriso quando ouço o apelido, soa quase como música. O reprimo para responder.

     — Não sei, mas notou como eles ficaram transtornados quando chegamos aqui?

     — É verdade, boa observação. Podemos levar isso a Antonio, ele vê o que faz, mas concordo que também senti algo estranho.

      Sorrio novamente e deixo que ela veja. Ela me acompanha. Meu coração palpita.

     Estou nervosa, mas transpareço confiança. Não posso deixar que esse sentimento me consuma. Não sou assim.

     O elevador chega e entramos, finalmente, rumo ao sétimo andar.

Prenda-me se puderOnde histórias criam vida. Descubra agora