Existem várias coisas que eu não suporto, mas só uma que realmente me tira do sério: equações matemáticas. Tenho certeza que vocês acharam que eu ia falar da Raquel de novo, mas dessa vez não.
Os números ganham dela, isso não posso negar. Ter que perseguir ladrões não deveria envolver fazer contas. Ao invés disso, estou dentro da tenda policial tentando calcular o perímetro exato para armar o cerco, já que tenho monitorado o bando e em 60 minutos um deles vai sair para comprar café.
Ele seguiu o mesmo horário nos cinco dias anteriores. É quase como se ele estivesse tentando a sorte, querendo ser pego. Mas eu não sou trouxa, eu sei os outros caminhos que ele pode fazer e eles estão apenas esperando o meu comando.
Pelo que entendi de Antonio, hoje é o meu dia de teste. Depois de uma semana será o de Raquel. Não sei o porquê de nos separarem assim, mas acredito que seja para avaliar algumas habilidades isoladas.
Apesar de estar me sentindo segura com o plano, ainda não tenho confiança na distância calculada. Eu sempre fui muito melhor na prática e o bom é que eu devo estar em campo também caso algo dê errado.
Os minutos passam rápido e eu sei que preciso autorizar a formação logo, então tento confiar nos números e torço para que nada me pegue desprevenida. Se pegar, bem, estou fodida.
Seguro o rádio e peço para que os policiais façam o cerco no perímetro que digo, tentando conter a ansiedade em minha voz. Quanto mais próximo o momento de atacar, mais nervosa fico.
Percebo, pela minha visão periférica, que Raquel está me olhando. Não consigo retribuir, nem que seja para debochar que sou a primeira. Sinto meu estômago revirar e preciso respirar fundo algumas vezes.
Antes de sair, lanço um olhar para Antonio e aceno com a cabeça, que me retribui. Ele está com cara de quem acredita que dará certo. Por fim, também olho para Raquel. Ela me lança um sorriso lateral que não consigo enxergar cinismo. Parece genuíno.
Não o respondo igualmente, mas a observo de cima a baixo sentada na cadeira e paro em seus olhos. Viro de costas e ouço sua voz me chamando de volta.
— Ei, ruiva — A olho, esperando. — É pra você.
Ela me joga uma garrafa de água gelada e a pego no ar com apenas uma das mãos. Agora sim a lanço um sorriso, ainda que bem ínfimo, mas visível o suficiente apenas para ela.
Tomo alguns goles enquanto me dirijo finalmente ao carro. Ficarei na rua principal, mais especificamente dentro da cafeteria. Meu papel é avisar meus colegas e mantê-los cientes da movimentação.
Todos estão devidamente posicionados. Aguardo o jovem com cara de nerd entrar pela porta. Ele deveria ter chegado, já passaram quinze minutos. Fico me perguntando se deixei tudo muito óbvio e ele preferiu não sair.
Não é possível. Eu me garanto em todas as partes do processo, menos na distância. Tenho urgentemente que aprender a calcular isso, senão pode custar a minha vida. E ninguém pode tirar a minha vida.
Começo a ficar cansada de esperar e duvido realmente de toda a minha capacidade de ser policial. Será mesmo que errei em tudo e perdemos por erros meus? Toda a autoestima que carrego é destruída por meus pensamentos ansiosos e penso em abandonar o posto, deixar tudo para trás.
Penso em voltar à tenda, derrotada, agradecer Antonio e olhar Raquel bem no fundo dos olhos dela e dizer que ela venceu. Dizer que ela é a melhor e que o estágio dela está garantido.
Quero dizer que vou embora da cidade e do país, que vou fazer faculdade de pintura ou jornalismo, já que para ser policial eu não sirvo. Vou mudar de identidade, trocar de nome, cortar e pintar o cabelo para que ninguém me reconheça.
E mesmo assim eu me sentiria julgada e observada, porque nenhuma crítica seria pior do que a minha. Ninguém me acusaria tanto quanto eu mesma, porque eu sentiria que falhei e não existe sensação mais odiosa.
Mais tempo se passou e eu ouço, no ponto eletrônico, Antonio falando que devemos desfazer o cerco em 10 minutos, caso o homem não apareça. Me sinto ainda mais derrotada.
Para tentar amenizar minha irritação, peço um café aproveitando que estou por ali. Dou um gole e saboreio, pensando que aquela pode ser a primeira e última vez que aprecio a bebida quente naquele lugar aconchegante.
Até que finalmente ouço alguma movimentação. É como se o mundo ficasse em câmera lenta, de repente. A porta da cafeteria se abre com o tilintar do pequeno sino que anuncia a chegada de mais uma pessoa viciada em café. Ou de um assaltante procurado.
Finjo não me importar e continuo a bebericar o meu próprio cappuccino, tentando decifrar os próximos passos do ladrão antes de agir. Minha mão coça para retirar a arma do coldre e atirar, ainda que isso não seja recomendado, afinal, pode realmente ser um civil comum.
Sinto que a pessoa se aproxima de mim e espero ouvir seis tipos de cafés diferentes. Me preparo mentalmente para anotar tudo casualmente enquanto penso em um jeito de envenená-los.
O que ouço, porém, me tira a concentração de um jeito ruim. Penso que o meu café estava envenenado, pois deveria estar ouvindo alucinações. Não poderia ser real, certo?
— Eu vou querer o mesmo que ela, por favor.
E ela, no caso, sou eu.
Tentei não olhar, tentei respirar fundo, mas foi tudo em vão assim que a pessoa se sentou ao meu lado. Exatamente no banco do lado. Tinham vários outros, é claro, mas para que complicar se ela pode facilitar, não é mesmo? Facilitar só para si, porque para mim era um desafio.
Sinto seu olhar sobre mim e quase vou embora, mas minha curiosidade é maior. Olho em sua direção e solto um pouco de ar, balançando a cabeça em negação.
— O que veio fazer aqui?
— Vim te ajudar.
— Eu não preciso da sua ajuda.
— Vai ser bom, confia em mim.
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Eita, vocês não perdem por esperar os próximos capítulos rs
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Prenda-me se puder
Fanfiction[AU Ralicia Academy] Raquel Murillo é a melhor aluna da Acadepol e Alicia Sierra a odeia com todas as forças justamente por isso. Entretanto, quando são obrigadas a trabalhar juntas, elas descobrem um novo sentimento e tentam fingir que ele não exis...