Capítulo 9

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     Hoje é o dia que retorno para a tenda. Estou ansiosa. Quero poder finalmente voltar a ajudar e fazer o que sei fazer de melhor: interrogar bandidos.

     Ando devagar com a ajuda de uma muleta assim que desço do carro que foi me buscar em casa. É bom sentir aquele ar de treta de novo, saber que posso ser útil em alguma coisa.

     Demoro até finalmente entrar e ver todas aquelas pessoas. Eu poderia facilmente me acostumar a ter que liderar um bando de marmanjos. Isso se chamaria reparação histórica.

     Antonio é o primeiro a vir me recepcionar. Ele me direciona um sorriso e diz estar feliz em me ver novamente "pronta para outra". Eu tento contrariá-lo, mas sei que não adiantaria nada, pois eu realmente estaria pronta para outra, o médico me liberando ou não.

     Dou um aceno de cabeça geral junto com um meio sorriso e me direciono para a mesa que eu usava antes. Antes de chegar, porém, vejo Raquel. Ela está tão concentrada na tela do computador à sua frente que quase passo despercebida.

     Estou prestes a sentar na cadeira quando ela se levanta e vem até mim, me olhando intensamente. Ela está com o cabelo em um coque preso com um lápis e alguns fios ficam soltos em sua nuca. Isso dá a ela uma beleza descomunal.

     Além da roupa que ela usa, que evidencia ainda mais seu corpo: a calça preta mais larga orna perfeitamente com a blusa colada, também preta. O coturno dá a ela um ar de superioridade.

     Eu sinto como se ela pudesse, a qualquer momento, me chutar, e eu ainda agradeceria por isso.

     E então ela me abraça, afastando todos os pensamentos impuros de segundos atrás. É um abraço desajeitado, mas é confortável. Ela me solta no momento em que começo a retribuir e me olha com as bochechas coradas.

     — Que bom que você voltou.

     — É bom estar de volta.

     — Agora vê se para de se meter em furadas, ruiva. Não posso perder minha pessoa favorita desde os cinco anos de idade.

     PUTA QUE PARIU, ELA ESTÁ ME ZOANDO. Ela tem que estar me zoando. Até parece que eu sou realmente a pessoa favorita dela. Desde os cinco anos está certo, mas pessoa favorita? Eu a odeio. Ou melhor, odiava. Não sei. Sinto meu coração bater mais rápido que o normal.

     Dou uma risada sarcástica, não sei o que fazer. Ela parece ofendida.

     — Você tem milhões de amigos, Raquel, por favor. Qualquer um deles pode ser sua pessoa favorita.

     — Nenhum deles é você.

     Agora meu coração dá três saltos carpados e para na pose perfeita para receber nota dez dos jurados. Quero me esquivar daquilo e faço qualquer coisa, mas é uma decisão meio burra.

     — Está se declarando para mim, Murillo?

     — Não sei, você quer que eu esteja?

     Ah, vai pra puta que pariu.

     Eu vou estar sem saúde mental se ela continuar a fazer esses jogos comigo. Juro, Raquel Murillo vai me matar e não vai ser de um jeito bom.

     Suspiro e sorrio para ela. Não sei o que responder, então fico quieta. Apoio a muleta na mesa e começo a me sentar, mas ela me ajuda a não cair na cadeira igual uma jaca. Quando ela ficou tão forte?

     Agradeço baixo e vejo que há um papel com o meu nome na mesa. O seguro com curiosidade, mas não há mais nada escrito nele.

     — Coloquei aí pra saberem que essa mesa é sua. É melhor prevenir do que você arrumar encrenca por aqui por sentarem na sua mesa.

Prenda-me se puderOnde histórias criam vida. Descubra agora